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Na TV, Dilma se curva à voz das ruas, mas defende primado da lei e da ordem
21/06/2013 - Gabriel Castro e Laryssa Borges - Veja.com

Depois de uma quinta-feira de extrema tensão em que a presidente Dilma Rousseff viu chegar à sua porta a onda de protestos que varre o Brasil com dezenas de demandas e forte sentimento de rejeição à classe política, uma rede nacional de rádio e televisão foi convocada, às 21h desta sexta, para que ela se dirigisse ao país.

A fala de dez minutos teve dois eixos: Dilma afirmou reiteradas vezes que seu governo está "ouvindo as vozes democráticas que pedem mudanças", mas também demonstrou grande preocupação com a segurança e com o "primado da lei e da ordem".

"Como presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia", afirmou.


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Uma terceira parte do seu discurso foi dedicada às promessas - algumas bem requentadas. Ela afirmou que convidará governadores e prefeitos das grandes cidades para "um grande pacto em torno melhoria dos serviços públicos".

As prioridades seriam a formulação de um plano nacional de mobilidade urbana em conjunto com estados e municípios, a destinação de 100% dos royalties do petróleo para a educação e a despropositada contratação de milhares de médicos estrangeiros para atender a demanda dos rincões do Brasil.

Chamou a atenção a ênfase dada pela presidente ao "barulho e a truculência de alguns arruaceiros".

De fato, a opção por fazer o pronunciamento começou a ser tomada na noite de ontem enquanto Dilma, no Palácio do Planalto, acompanhada por alguns assessores mais próximos, assistia aos protestos que se desenrolavam a 700 metros do seu gabiente e em uma centena de outras cidades pelo país.

A violência que se desdobrou no Rio de Janeiro foi decisiva. Dilma conversou com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), que lhe transmitiu um relato alarmante sobre a depredação nas ruas da capital fluminense - acontecimentos muito mais chocantes do que as televisões exibiam ao país.

Não por outro motivo, a reunião na manhã desta sexta-feira foi com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello.

Ao longo do dia, o discurso foi esculpido pelas mãos do marqueteiro João Santana e mostrado a diversos ministros antes de uma gravação feita em estilo "ao vivo".

A violência também parece ter alarmado o governo pelo efeito que pode ter sobre a imagem do país - jornais internacionais de todo o mundo têm dado cobertura ampla aos protestos e ressaltado que estilhaçam a imagem de um Brasil em que tudo vai bem.

"Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil", disse Dilma.

Em referência à Copa das Confederações e à Copa do Mundo de 2014, ela pediu uma "acolhida generosa aos povos irmãos" e que sejam tratados "com respeito os nossos hóspedes".

O repúdio manifestado nas ruas aos políticos e partidos - em especial ao PT, partido da presidente, que por décadas se arvorou no papel de porta-voz dos anseios populares - também ensejou uma menção da presidente:

"É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático".

Este foi o quarto pronunciamento em rede nacional de Dilma neste ano. O primeiro deles foi marcado pelo tom agressivo e pela retórica do "nós contra eles", ou seja, direcionado a atacar a oposição ao seu governo, chamados por ela de "do contra".

Nas duas falas seguintes, Dilma baixou o tom e se limitou a exaltar feitos de sua gestão e a anunciar medidas de forte impacto no eleitorado, como a desoneração de produtos da cesta básica.

Às vésperas do início das passeatas no país, Dilma ostentava índice próximo de 60% de aprovação nas pesquisas de opinião, ainda que com viés de queda.

Foi um caminho surpreendente o que levou Dilma Rousseff do seu primeiro pronunciamento, em janeiro, à fala desta sexta-feira, concluída com um enfático "Eu estou ouvindo vocês!"


  

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