Há diferença entre ser Fiel e ser leal? 25/06/2013
- Veja.com
“Acabei de ler sobre influir e influenciar. Me diz sobre ser fiel e ser leal! Parabéns! Obrigado.” (Israel Trassi)
A pergunta de Israel é sobre aqueles matizes que diferenciam sinônimos. Como vimos recentemente no caso de influir e influenciar – e ao contrário do que supõe o senso comum – a sinonímia não significa que dois termos têm carga semântica idêntica, apenas que são intercambiáveis em determinadas situações.
Os adjetivos fiel e leal são palavras antigas, ambas registradas em português desde o século XIII, e faz séculos que aparecem lado a lado em qualquer lista de sinônimos digna desse nome (na companhia de termos como constante, confiável, sincero e honesto).
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Em contraste com influir e influenciar, que compartilham a raiz latina, fiel e leal têm pontos de partida etimológico distintos.
Fiel veio do latim "fidelis", adjetivo ligado a "fides", “fé, boa fé, integridade”, e desde cedo carregado de conotações religiosas que ainda se conservam vivas.
Eis por que, sinonímia à parte, um slogan como “Deus é fiel” não faria muito sentido se fosse alterado para “Deus é leal”.
A origem de leal nada tem de religiosa. Pertencia a princípio ao vocabulário político, jurídico, legal – neste caso, literalmente: derivada do latim tardio legalis, a palavra surgiu como variante vulgar de “legal”.
Se o indivíduo era fiel ou infiel a uma igreja, era leal ou desleal a um rei, um Estado, um país, um conjunto de leis. Essa origem também permanece presente, por exemplo, quando se diz que um atleta é desleal (ou seja, não respeita as regras do esporte).
A expansão semântica tornou as duas palavras equivalentes em grande parte de suas acepções, mas mesmo quando compartilham o sentido de constante, confiável e honesto há diferenças sutis entre elas.
Hoje em dia, seu uso intensivo – principalmente o de fiel – no vocabulário amoroso tem levado ao refinamento de uma nova distinção ainda ausente dos dicionários: será possível ser fiel sem ser leal? Ou vice-versa?
Há quem garanta que sim, argumentando que a fidelidade se limita ao campo propriamente sexual, enquanto a lealdade engloba um conjunto amplo e meio difuso de compromissos afetivos e sociais.
Ou seja, uma infidelidade sexual fortuita e inconsequente poderia ser acompanhada de lealdade, isto é, de respeito ao parceiro (embora seja bastante duvidoso que isso lhe sirva de consolo), enquanto a deslealdade seria capaz de se manifestar em atos de traição ao pacto amoroso que não necessariamente acabam na cama.