Os nós por trás da aliança entre Campos e Marina 06/10/2013
- Laryssa Borges - Veja.com
Mais nova -- e célebre -- aliada do governador Eduardo Campos, a ex-senadora Marina Silva terá de lidar a partir de hoje com potenciais conflitos ideológicos em alianças estaduais e prováveis impasses “programáticos” entre os militantes da Rede Sustentabilidade e políticos que fazem parte do guarda-chuva de apoio ao pré-candidato do PSB à eleição presidencial de 2014.
Embora afirme se tratar apenas uma “filiação simbólica” ao PSB, Marina passará a conviver com dilemas éticos: mais de vinte deputados da bancada do PSB na Câmara dos Deputados, por exemplo, votaram alinhados aos ruralistas nos debates sobre o Código Florestal -- a posição PPS na mesma votação era apontada como um dos principais impasses para que a sigla fosse escolhida pela ex-senadora.
Com ou sem Marina, o PPS continua como um dos alvos de cobiça de Eduardo Campos, o que poderia ampliar ainda mais o nó ideológico da coligação negociada pelo governador pernambucano.
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No processo de costura de alianças para 2014, Campos também se aproximou de políticos refratários às bandeiras levantadas por Marina.
Dois deles são o ruralista Ronaldo Caiado (GO) e o atual secretário de Desenvolvimento Econômico de Santa Catarina, Paulo Bornhausen.
Em agosto, Campos contemplou Paulo Bornhausen, filho do ex-senador Jorge Bornhausen, com o comando do diretório estadual do PSB como parte da estratégia para sedimentar apoios no sul do país.
Mesmo com essas incoerências, Marina nega que tenha se rendido ao pragmatismo político.
A ex-senadora, que apareceu com 26% das intenções de voto no último Datafolha, não atacou diretamente os acordos políticos alinhavados pelo socialista.
Preferiu exaltar a “contribuição conjunta” que estaria em curso: “Há um processo do PSB em curso e, com base no aprofundamento dessa disposição programática, caberá a eles fazer suas avaliações”, disse a ex-senadora. “O que estamos nos dispondo é fazer esse alinhamento para ter a possibilidade de aprofundar cada vez mais essa contribuição conjunta."
Confrontada diretamente com a possibilidade de dividir palanques em 2014 com Caiado ou Bornhausen, Marina novamente tergiversou.
“Temos absoluta convicção de que estou coerente com a nossa determinação de continuarmos afirmando e reafirmando o programa e processo da Rede”.
Ela ressaltou, entretanto, que vai conversar “com aqueles que se propõem ao diálogo programático”. “Nesse momento, há disposição da direção do PSB e de seus maiores dirigentes”, disse.
Sem mencionar os possíveis conflitos formados na construção da aliança política, Campos ressaltou que o PSB e a Rede são “partidos autônomos e com identidades diferentes”. “Mas temos princípios e valores que nos possibilitam, nesse momento, fazer essa aliança na busca de um programa que quebre a velha lógica do poder pelo poder.”
Palanques
Na formação dos palanques estaduais, o “dilema de Marina” não é diferente. De imediato, aliados dela garantem apoiar as decisões do PSB nas candidaturas aos governos do Ceará e de São Paulo -- onde provavelmente os socialistas lançarão candidaturas próprias.
Nas demais unidades da federação, os casos ainda serão negociados ou será adotada uma postura independente.
“A Rede não está se fundindo com o PSB, não está dizendo que vai apoiar x ou y candidato naquele estado”, ressalvou Marina.
Pelo acordo firmado entre Rede e PSB, fica garantida a “integridade partidária” das duas siglas, ainda que a legenda de Marina Silva não exista formalmente.
“Vamos preservar nossas diferenças”, observou Campos. “Há estados onde apoiamos companheiros abrigados em outras legendas e estados onde as alianças estão mais distantes. O fundamental é que possamos discutir o país”.
Na mesma cerimônia, filiaram-se ao PSB os deputados Walter Feldman, ex-PSDB, e Alfredo Sirkis, ex-PV, além do coordenador da Rede, Pedro Ivo Batista.