Paixão por cavalos conquista as mulheres e movimenta o mercado 20/10/2013
- Globo Rural
Homens e cavalos vivem juntos há milênios. Desde que o animal foi domesticado. Ainda hoje, o cavalo tem papel importante na lida de campo, no transporte de cargas e pessoas e na prática de esportes.
Associamos sempre o cavaleiro a uma figura masculina, mas as mulheres também são fascinadas por esse bicho. Um gosto que movimenta a economia no campo e nas cidades.
Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, três mulheres com perfis muito diferentes, dividem a mesma paixão por cavalos.
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Natália Araújo tem só 14 anos e sua rotina começa cedo, ajudando os pais na peixaria da família. Entre uma tarefa e outra, Natália está sempre com um livro na mão. De casa vai direto para escola, onde cursa o primeiro ano do segundo grau.
Na casa da Patrícia Lima o dia também começa cedo. Ela é casada há 14 anos com Léo, empresário do ramo de informática. Patrícia deixou de lado a carreira profissional para se dedicar à educação das crianças.
Érica Chiovato é uma mulher dinâmica, que não consegue ficar parada. Logo cedo está na fazenda da família, no município de Cascalho Rico. Ela toca vários negócios na cidade. Tem restaurante, casa lotérica, além da cria de nelore na fazenda.
Apesar da vida bem diferente, as três praticam e participam das competições de team penning, nome em inglês que em português pode ser traduzido como equipe de apartação.
O esporte nasceu nos Estados Unidos, baseado nas práticas de manejo de fazendas de gado. Dizem que team penning é a prova de apartação que mais cresce no Brasil. Disputado por equipes com três integrantes, acabou se transformando em um esporte de família.
A prova funciona da seguinte forma: três cavaleiros largam em disparada, no meio do caminho, o locutor grita um número. A boiada fica no fundo da pista e é toda numerada.
Os cavaleiros têm que encontrar os três animais com o número chamado, apartar e conduzir até um cercado. Ganha quem fizer isso no menor tempo.
Patrícia e Léo correm team penning juntos. Uma história que começou por acaso. “Eu sempre tive muita paixão pelo cavalo, mas muito medo. Então eu comecei através do meu filho. Coloquei ele nas aulas de equitação e me matriculei junto com ele. Como eu me preocupava tanto com medo dele cair, eu acabei esquecendo o meu e acabei me apaixonando mais ainda”, conta Patrícia.
Léo, que nem gostava de cavalo, foi obrigado a montar por um capricho do destino. “No dia em que chegou o primeiro cavalo que a gente comprou, descobrimos que Patrícia estava grávida e não podia mais montar. Fui obrigado a montar, porque o cavalo não pode ficar parado. Aí foi a paixão. Isso hoje é meu remédio contra o estresse”, comenta.
Natália nunca teve medo de cavalo. Desde muito cedo acompanha o pai em cavalgadas pela região. “Com dois anos de idade já andava sozinha no cavalo”, afirma.
Natália convenceu o pai a participar das competições de team penning. Hoje, os dois correm juntos. “É um jeito de ficar perto da filha e de criá-la em um ambiente mais gostoso”, diz.
O esporte não é barato. A família mantém dois cavalos no parque. “Devemos gastar cerca de mil reais, com um cavalo por mês”, comenta Flávia Araújo, mãe de Natália.
Esse gosto pelos cavalos movimenta a economia da região e garante trabalho para muita gente. Hoje, 125 animais ficam hospedados no Parque do Camaro, em Uberlândia. Para limpar as baias, alimentar e cuidar da saúde deles, quatro pessoas trabalham no local.
“Eu compro a ração, o feno, a serragem para colocar nas baias, tudo por minha conta. Cobro o valor do proprietário de 600 reais para cuidar de cada cavalo. Tem proprietário que precisa montar em um cavalo dele, aí a gente cobra mais uns 150 para montar, galopar e amolecer o cavalo dele pra quando ele vier correr as provas estar bom”, declara João Baiano, funcionário.
É claro que o principal produto desse universo dos esportes equestres é o cavalo. Hoje, os animais destinados às modalidades esportivas, respondem por uma parte importante do faturamento dos criatórios.
Na Estância Santa Rosa, em Monte Alegre de Minas, Lucas Abdala e o sogro, Almiro Rosa, criam cavalos da raça quarto de milha. O plantel tem 55 animais. “Hoje, do meu plantel, 100% é para o esporte. Um bom animal desses, custa de 15 a 20 mil reais”, afirma Rosa.
Quem compra um cavalo para competição, além do desempenho do bicho, ainda quer que ele se destaque na pista, por isso, beleza é fundamental.
“O mercado valoriza muito a questão de pelagem. Uma pelagem exótica, um animal diferenciado. Porque é um animal bonito de se ver, bom e que acompanha as características da pessoa”, explica Abdala.
São muitas variedades, como alasão, castanho, preto, o baio amarillo, mas só beleza não adianta. O cavalo tem que ter talento pra cada esporte. “O melhor animal para o team penning é bem tranquilo, fácil de ser montado, calmo e que tem essa habilidade de mexer com boi”, afirma Abdala.
Outro setor que fatura com os praticantes de esportes equestres é o de venda de roupas e acessórios pra montaria, como explica Rose Peçanha, dona de uma loja. “Praticamente 100% do meu faturamento é por conta desse pessoal que gosta de cavalo, pratica esporte equestre. São desde os proprietários criadores, até os tratadores e peões também”, diz.
Andando pelo parque é fácil entender onde o dinheiro é gasto. Cintos reluzentes, adornos para a crina, baixeiro com pedrinhas... Vale tudo na hora de tornar o cavalo mais vistoso.
Esse mundo em torno dos cavalos é imenso. Segundo o Cepea, Centro de Estudos Econômicos da Universidade de São Paulo, o setor movimenta no Brasil, mais de sete bilhões de reais por ano. Além disso, gera cerca de três milhões de empregos.