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DIA A DIA

A disputa de poder no PT expõe um racha inédito na história do partido
26/04/2014 - Daniel Pereira e Adriano Ceolin - revista Veja

Reportagem de VEJA desta semana mostra que intrigas, ameaças, traições e corrupção podem colocar em risco a reeleição da presidente Dilma Rousseff.

A presidente Dilma Rousseff enfrenta um momento inédito de fragilidade.

Além de ter problemas na economia, como o crescimento baixo, a inflação persistente e o desmantelamento do setor elétrico, ela perdeu apoio popular e força para barrar, no Congresso, iniciativas capazes de desgastá-la.


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A aprovação ao governo caiu a um nível que, segundo os especialistas, ameaça a reeleição.

Partidos aliados suspenderam as negociações para apoiá-la na corrida eleitoral. Já os oposicionistas conseguiram na Justiça o direito de instalar uma CPI para investigar exclusivamente a Petrobras.

Acuada, Dilma precisa mais do que nunca da ajuda do PT, mas essa ajuda lhe é negada.

Aproveitando-se da conjuntura desfavorável à mandatária, poderosas alas petistas pregam a candidatura de Lula ao Planalto e conspiram contra a presidente.

O objetivo é claro: retomar poderes e orçamentos que foram retirados delas pela própria Dilma.

A seis meses da eleição, o PT está rachado entre lulistas e dilmistas -- e, para os companheiros mais pragmáticos, essa divisão, e não os rivais Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), representa a maior ameaça ao projeto de poder do partido.

Com carreira política construída na resistência à ditadura militar e posteriormente no PDT, Dilma nunca teve alma petista.

Ao assumir a Presidência, ela herdou boa parte da cúpula do governo Lula, como ministros, dirigentes de estatais e até a então chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha.

O governo era de continuidade mesmo nos nomes escalados para comandar o país.

O plano de Dilma era dar uma feição própria à sua gestão de forma gradativa, reduzindo a influência do antecessor ao longo do tempo.

Antonio Palocci, seu primeiro chefe da Casa Civil, ilustrou a estratégia:

“No primeiro ano de mandato, será um governo Lula-Dilma. No segundo, um governo Dilma-Lula. No terceiro, será Dilma-Dilma”.

Esse cronograma, no entanto, foi atropelado pelos fatos.

Já em 2011 a presidente foi obrigada a demitir seis ministros acusados de corrupção e tráfico de influência -- quatro deles egressos do governo anterior.

Dilma se mostrava intransigente com os malfeitos, ao contrário de Lula, acostumado a defender políticos pilhados em irregularidades.

Com a chamada faxina ética, ela atingiu recordes de popularidade e conseguiu força para tirar das mãos de notórios esquemas partidários setores estratégicos da administração.

Nem mesmo o PT foi poupado nessa ofensiva.

O partido perdeu terreno em fundos de pensão e na Petrobras, que teve sua diretoria reformulada em 2012.

A faxina ética era acompanhada da profissionalização da gestão.

Com essas mudanças, muitos petistas estrelados, como o mensaleiro preso José Dirceu, perderam influência.

Havia um distanciamento crescente entre a presidente e a engrenagem partidária, mas Lula mantinha o PT unido e silencioso.

Ele alegava que a “mídia conservadora” -- ao exaltar as demissões promovidas pela sucessora, com o intuito claro de atacá-lo -- ajudava Dilma a conquistar eleitores que historicamente tinham aversão ao PT.

Ou seja: a comparação entre os dois beneficiava o partido. Se alguns petistas registravam prejuízos em casos isolados, o conjunto estava sendo fortalecido.

Esse discurso manteve a companheirada sob controle até 2013, quando a popularidade da presidente despencou devido à inflação e às manifestações populares de junho.

Petistas, então, passaram a criticar Dilma, conspirar contra ela no Congresso e defender a candidatura de Lula.

A cizânia interna se desenhava, mas ainda era incipiente e restrita aos bastidores.

Esse dique foi rompido pelo escândalo da Petrobras.

Hoje, o PT testemunha uma batalha pública e cruenta entre a soldadesca dos dois presidentes.

Palocci não previu, mas o último ano de mandato também tem seu epíteto: governo Dilma versus Lula.

Os dois lados de um mesmo problema

"Se alguns setores, seja por que motivo for, instilarem desconfiança, especialmente desconfiança injustificada, isso é muito ruim. A guerra psicológica pode inibir investimentos e retardar iniciativas" - Presidente Dilma Rousseff.

"Hoje você tem um problema, que é: o povo quer mais. Poderíamos estar melhor. E a Dilma vai ter de dizer isto claramente na campanha: como vamos melhorar a economia brasileira" - Ex-presidente Lula.

Irregularidades na compra da refinaria

"O que a presidente fez foi revelar, com a verdade, com a transparência, com a humildade de quem reconhece que houve uma falha, os erros que aconteceram" - Graça Foster, presidente da Petrobras.

"Não posso fugir da minha responsabilidade, do mesmo jeito que a presidente Dilma não pode fugir da responsabilidade dela, que era presidente do conselho. Nós somos responsáveis pelas nossas decisões" - Sergio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras.

Envolvimento com o crime organizado

"Eu continuo achando que a melhor solução é que o companheiro André Vargas deveria renunciar. Mas essa é uma decisão personalíssima, a gente não pode votar isso" - Rui Falcão, presidente do PT.

"A direção do nosso partido é mais valente com os seus que cometem equívocos do que com a oposição. Fui vítima de vazamentos seletivos e criminosos" -
André Vargas, deputado do PT.


  

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