Greves no transporte público ameaçam cinco capitais 28/05/2014
- Pâmela Oliveira e Mariana Zylberkan - Veja.com
As greves de trabalhadores do transporte público ameaçam cinco cidades brasileiras, às vésperas da Copa do Mundo.
Reunidos em assembleia na Candelária, no Centro do Rio, um grupo de cerca de 150 rodoviários aprovou uma nova paralisação dos ônibus urbanos da capital a partir da 0h desta quarta-feira.
Mais uma vez, o movimento ocorre à revelia do sindicato da categoria. Desta vez, no entanto, há uma “determinação” dos grevistas de manter 30% da frota em circulação -- algo pouco provável, por não se tratar de um movimento com diálogo estabelecido com o sindicato patronal, o Rio Ônibus.
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Nas últimas três semanas, o mesmo grupo de motoristas e cobradores deixou o Rio sem transporte em três ocasiões -- na última delas, por 48 horas seguidas, nos dias 13 e 14.
A decisão dos rodoviários do Rio ocorre no dia em que duas capitais -- Salvador, na Bahia, e São Luís, no Maranhão -- ficaram sem ônibus.
Em São Paulo, onde a população enfrentou o caos nos transportes na semana passada, com a paralisação dos onibus, há agora risco de greve dos metroviários.
No Ceará, rodoviários também ameaçam parar. A categoria realizará uma assembleia no sábado, para definir a adesão à greve.
Em Salvador a situação é complexa. Assim como ocorreu no Rio de Janeiro, o sindicato que representa a categoria fechou acordo com o sindicato patronal, mas o contrato firmado não agradou aos motoristas e cobradores, que deflagraram greve ontem.
Os rodoviários afirmam que foram impedidos de entrar na assembleia para participar da votação sobre o acordo, ocorrida segunda-feira.
A realização da greve à revelia dos representantes legais aumenta o temor das autoridades de Salvador, que receberá no próximo dia 13 o jogo entre Espanha e Holanda, no estádio da Fonte Nova.
Além de dificultar a negociação entre patrões e profissionais, o afastamento do sindicato prejudica a atuação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), capaz de mediar negociações apenas entre sindicatos.
Ontem, a Justiça do Trabalho determinou que ao menos 70% dos ônibus voltem a circular em Salvador, nos horários de pico, sob pena de multa diária de 100.000 reais.
A multa, no entanto, é destinada ao Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Estado da Bahia (Setps), que não liderou a greve e não tem, a princípio, condição de determinar o retorno dos profissionais ao trabalho.
A situação -- uma punição decidida contra uma entidade que não tem controle sobre a categoria -- é similar à ocorrida no Rio de Janeiro no início do mês, e não tem, na prática, poder de pressionar os grevistas.
No Rio, os grevistas, sem o apoio do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de ônibus do município do Rio (Sintraturb), não aceitam o acordo coletivo assinado em abril, que garantiu aumento de 10% à categoria.
A comissão de greve exige reajuste salarial de 40% e outros benefícios.
Em nota, o Rio Ônibus, sindicato que representa as empresas, afirmou que a decretação da greve por um grupo dissidente de 150 rodoviários é “uma afronta à Justiça e à sociedade".
Informou ainda que solicitará à Justiça que a greve seja considerada abusiva e que seja determinada a imediata suspensão.
São Paulo
Depois de enfrentar dias de caos com a greve-surpresa dos motoristas e cobradores de ônibus, a cidade de São Paulo tem no horizonte a perspectiva de novos dias de confusão no transporte público.
Os metroviários, que estão em estado de greve desde dia 20, decidiram entrar em greve no próximo dia 5 durante assembleia realizada, nesta terça-feira.
A categoria quer aumento de 35,47%, além de reajuste de 13,25% do vale-refeição e vale-alimentação de 397,80 reais.
O sindicato patronal ofereceu 5,2% e ontem aumentou a oferta -- 7,8% -- para tentar evitar a paralisação.
Na próxima quarta-feira, 4, os metroviários devem se reunir para confirmar a greve, a expectativa é que até lá o metrô suba mais o percentual.
Em reunião realizada na segunda-feira, o Ministério Público do Trabalho orientou o metrô a oferecer aumento salarial de 9,5% para evitar a paralisação.
Segundo o sindicato, a proposta não havia sido enviada até o início da tarde de ontem.
Nesta última semana, funcionários do metrô trabalharam com coletes onde lia-se “Transporte padrão Fifa” e suspenderam as ações das operações Plataforma, Embarque Melhor e Embarque Preferencial.
Os metroviários também cogitam liberar as catracas como protesto pela campanha salarial.
No dia 20, uma comissão foi formada para discutir como viabilizar o acesso dos usuários de forma gratuita aos trens.
Abertura da Copa
O sindicato dos metroviários também lidera uma proposta de paralisação no dia 12 de junho, data da abertura da Copa do Mundo, que terá a cerimônia de abertura e a primeira competição -- entre Brasil e Croácia, na Arena Corinthians, na capital paulistana.
A categoria se reuniu na segunda-feira com lideranças de sindicatos e entidades que pretendem organizar manifestações contra o governo durante o mundial.
Nova reunião está marcada para o dia 2 de junho para definir os detalhes do ato.