Sem prêmio, produtor volta à soja transgênica 22/06/2014
- Mônica Scaramuzzo - O Estado de S. Paulo
Produtor de soja de Mato Grosso se frustra com falta de pagamento pelo produto convencional.
Desestimulados pelo não pagamento de prêmio pela soja convencional, os agricultores do Centro-Oeste, maior região produtora de grãos do Brasil, deverão intensificar suas apostas em soja transgênica na safra 2014/15.
Praticamente às vésperas do início do plantio do grão, que terá início em setembro, os produtores estão dispostos a converter as lavouras, uma vez que as processadoras de soja não sinalizam com pagamento de ágio pelo grão livre de transgênicos, como ocorreu nas duas últimas safras.
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Os grãos transgênicos predominam nas lavouras de soja no Brasil nos últimos anos. No entanto, alguns produtores, impulsionados por pagamento de prêmio por saca de soja de grão convencional entregue ao exportador, começaram a converter suas lavouras para áreas livre de transgênico.
O prêmio para o grão livre transgênico chegou a atingir R$ 5 por saca de 60 quilos nos últimos meses. O preço da saca de 60 quilos de soja no Mato Grosso encerrou a R$ 54, de acordo com a consultoria FNP Informa.
Levantamento da Abrange (Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados) mostra que na safra 2013/14 o Estado de Mato Grosso voltou a avançar no plantio de soja convencional pela primeira vez depois que as sementes transgênicas começaram a ser plantadas em larga escala nas lavouras brasileiras.
Avanço
Na safra 2013/14, a área plantada com soja no Estado alcançou 8,3 milhões de hectares, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato).
Desse total, 20% foram destinados para os grãos convencionais. No ciclo anterior, a participação era de 18%.
A expectativa era de que os produtores pudessem avançar ainda mais no tipo convencional na safra 2014/15, mas a falta de sinalização das indústrias freou os planos dos agricultores que já tinham apostado nessa estratégia.
“A Europa é a maior importadora global de soja convencional. Mas os principais compradores, sobretudo a Alemanha, estão mais flexíveis em relação à soja geneticamente modificada. Isso desestimulou o pagamento desse bônus”, disse Ricardo Tatesuzi de Sousa, diretor executivo da entidade.
Segundo ele, o pagamento de prêmios na safra 2012/13 estimulou os produtores mato-grossenses a apostar na expansão do grão convencional no ciclo seguinte.
O pagamento diferenciado continuou no ciclo 2013/14, mas para 2014/15, os agricultores estão revendo a estratégia.
“Podemos ter um novo retrocesso ou na melhor das hipóteses manter a área. Vale lembrar que o produtor tem de pagar royalties para a produtora de semente transgênica e o custo de produção por hectare é praticamente o mesmo para o grão transgênico ou convencional”, afirmou Sousa.
De acordo com Nelson Picolli, diretor financeiro e administrativo da Famato, cerca de 70% a 80% dos produtores do Centro-Oeste já realizaram compra de insumos, como defensivos e fertilizantes, e sementes para a próxima safra.
“A decisão de plantio já está praticamente tomada”, disse.
Lavoura
Leandro Martins, do grupo Adal, fez pesadas apostas no grão convencional nos últimos dois anos, quando 70% de sua lavoura foi plantada com soja livre de transgênicos.
Agora, pretende reduzir drasticamente, ocupando apenas entre 20% e 30% com grão convencional. A fazenda de Adal ocupa uma área de 2.800 hectares em Buriti Alegre (GO).
“Foi vantagem por dois anos, mas não agora.”
Com 3 mil hectares plantados com soja em Vilhena, em Rondônia, o produtor de soja Roberto Tissot está apostando em 75% de sua área em transgênico pela primeira vez, já que o Estado que tentava obter o status de livre de transgênico liberou o plantio.
“Nossa opção era entregar o grão para os grupos Amaggi, que paga ágio, ou para Cargill, que não paga.”
Em Mato Grosso, segundo produtores ouvidos pelo Estado, os grupos nacionais Amaggi e Caramuru foram os que pagaram prêmio pela soja nas duas últimas safras.
Procuradas, Cargill e Amaggi não comentam o assunto.
O vice-presidente da Caramuru Alimentos, César Borges, afirmou que o prêmio está restrito à Europa e os valores pagos depende das condições do mercado.
“O mercado está volátil.”
Já Louis Dreyfus Commodities informou que tem uma política de bônus que varia de acordo com as condições de oferta e demanda.
Mas para receber o prêmio, o produtor precisa firmar acordo com o exportador antes da safra.