Preso pela Operação Lava Jato da Polícia Federal e alvo de ações que o acusam de uma série de crimes, o doleiro Alberto Youssef vai fazer uma "confissão total dos fatos" nos depoimentos que prestará nos próximos dias, segundo o seu advogado, Antonio Figueiredo Basto.
Youssef será ouvido a partir de um acordo de delação premiada, na qual diz o que sabe aos investigadores em troca de redução da pena.
Esse acordo precisa ser aprovado pela Justiça, algo que ainda não ocorreu.
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"Acordo de colaboração pressupõe a confissão integral dos fatos, responder todos os fatos que for perguntado, a responsabilidade em colaborar com a Justiça", afirmou o advogado do doleiro em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
"As outras pessoas (apontadas por Youssef) vão ter o direito de se defender", ressaltou Basto.
Deflagrada em março deste ano, a Lava Jato desbaratou um esquema de lavagem de cerca de 10 bilhões de reais liderado por Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
O ex-executivo da estatal já firmou um acordo de delação premiada em que revelou esquema de propina e desvios da estatal para políticos e partidos -- inclusive a campanha de Dilma em 2010, conforme revelou a edição de VEJA desta semana.
As investigações da PF apontam que o doleiro, assim como Costa, tinha contato com vários políticos, como os deputados federais André Vargas (sem partido-PR) e Luiz Argôlo (SD-BA).
Youssef também é suspeito de fazer negócios com dirigentes partidários.
Uma das linhas de investigação da PF mira no tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
O petista, segundo as investigações, era um dos contatos de fundos de pensão com a CSA Project Finance, empresa de fachada de Youssef.
"João Vaccari esteve várias vezes na sede da CSA, possivelmente a fim de tratar de operações com fundos de pensão com Cláudio Mente", relatou à Justiça o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, apontado como laranja de Youssef.
Vaccari nega ter participado de negociações com Claudio Mente.
Vargas, por sua vez, é amigo de Youssef e foi alvo de processo na Comissão de Ética na Câmara que pediu a cassação de seu mandato por suas ligações com o doleiro.
A empresa Labogen, controlada por Youssef, contou com a ajuda do parlamentar para se aproximar do Ministério da Saúde.
Além disso, Vargas chegou a utilizar um jatinho pago pelo doleiro para sua viagem de férias com a família para João Pessoa (PB) em dezembro do ano passado.
Ele admitiu que o episódio do jatinho foi um "equívoco".
O parlamentar se desfiliou do PT após a Polícia Federal revelar suas relações com Youssef.
Sua cassação ainda será votada no plenário da Câmara.
Já Argôlo recebeu dinheiro do doleiro, segundo depoimento da ex-contadora de Youssef, Meire Poza.
O próprio juiz Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato que tramitam na Justiça Federal do Paraná, chegou a citar, em uma de suas decisões, os pagamentos de propinas realizados pelo doleiro "a parlamentares".
"Relativamente a Alberto Youssef, as medidas investigatórias revelaram seu suposto envolvimento, na condição de líder, de grupo criminoso dedicado à lavagem de dinheiro e a pagamento de vantagens indevidas a ex-diretor da Petrobras, sem contar pagamentos a dois parlamentares federais", escreveu o juiz.
Passado
Considerado "criminoso profissional" por Moro, Youssef foi condenado a 4 anos e 4 meses de prisão por corrupção após ter descumprido um acordo de delação no caso Banestado -- escândalo de evasão de divisas que pode ter alcançado 30 bilhões de dólares, nos anos 1990.
Na época, ele se comprometeu com a Justiça a não voltar a cometer crimes.
Após ser pego pela Lava Jato, contudo, seu acordo foi rompido.
Por esse motivo, autoridades ainda estão reticentes em aceitar ou não o acordo de delação na Lava Jato.