Lula decide demitir o ministro Waldir Pires 20/07/2007
- Pedro Dias e Letícia Sander - Folha de S.Paulo*
Na tentativa de dar uma resposta política à crise do setor aéreo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu demitir até a semana que vem o ministro da Defesa, Waldir Pires, e a cúpula da Infraero, estatal responsável pelos aeroportos brasileiros.
Em silêncio desde o acidente, Lula fará pronunciamento em cadeia de rádio e TV para anunciar medidas para desafogar Congonhas. Só agora, passados dez meses de caos, surge a primeira mudança na cúpula da área. Enquanto os problemas no setor aéreo se acumulavam, o afastamento de Pires, 80, foi cogitado diversas vezes, mas Lula resistiu a tirá-lo do governo. Agora, a situação se tornou ¨insustentável¨, nas palavras de um auxiliar direto de Lula.
A avaliação no Palácio do Planalto é que Pires não tem culpa no caso do acidente da TAM ocorrido na terça-feira, mas seu imobilismo ao longo da crise e a falta de capacidade de encontrar soluções -- problemas dele, e, logo, do governo -- voltaram ao centro do debate com a mais recente tragédia. Pires nem foi chamado para reunião sobre o tema com Lula e seis ministros ontem à tarde. Com Pires deve sair o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, cuja atuação tem sido criticada por Lula em conversas reservadas. O comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, continuará no cargo.
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Até o início da noite de ontem, Pires continuava reunido no Planalto. Pereira, chamado às pressas por Dilma Rousseff, saiu por volta das 19h30. Na chegada, disse que estava ¨pronto para sair¨, caso o governo determinasse. Segundo a Folha apurou, até a volta do vice-presidente José Alencar ao comando da Defesa é cogitada no governo.
Pronunciamento
Em seu pronunciamento, Lula vai tratar do acidente e anunciar as possíveis mudanças. Elas incluem a redução do número de vôos e restrições ao uso do aeroporto. Já terão se passado mais de 72 horas desde a maior tragédia da aviação brasileira sem que o presidente nem sequer tenha aparecido em público para falar do tema. Por isso, o pronunciamento irá além da consternação e tratará de mudanças concretas.
No dia seguinte ao acidente, Lula passou a tarde recolhido no Palácio da Alvorada, recuperando-se de uma pequena cirurgia para retirada de terçol. Assessores de Lula chegaram a discutir a possibilidade de o presidente ir até o cenário do desastre, mas a avaliação foi de que soaria uma ¨demagogia¨ -- menos de uma semana antes, o presidente foi vaiado pelo Maracanã lotado.
Ainda na linha de mostrar uma reação, o governo vazou que também reforçará os poderes do Conac (Conselho de Aviação Civil), órgão formado por seis ministérios (Defesa, Relações Exteriores, Fazenda, Desenvolvimento, Turismo e Casa Civil) e pelo comandante da Aeronáutica. Será uma espécie de ministério da crise, com amplos poderes para tentar buscar soluções para o caos da aviação.
O Conac foi criado em 2000, passou praticamente desativado os últimos quatro anos e voltou a se reunir novamente no mês passado, pela primeira vez desde 2003. Hoje haverá nova reunião, no Palácio do Planalto, que deve ser coordenada pelo próprio Lula.
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*Colaboraram Andréa Michael e Eliane Catanhêde, da Folha de S.Paulo, em Brasília