Corrupção e ataques pessoais marcam debate agressivo entre Dilma e Aécio 17/10/2014
- Veja.com + Estadão
Se até agora, a aposta de Dilma Rousseff (PT) foi na tentativa de desconstrução do gestor Aécio Neves (PSDB), no debate promovido por SBT/UOL/Jovem Pan, a presidente-candidata buscou atingir o caráter do tucano.
O ápice da estratégia petista ficou claro no terceiro bloco, quando Dilma sacou uma pergunta sobre a Lei Seca no trânsito, cujo verdadeiro objetivo era lembrar o episódio em que Aécio recusou-se a fazer o teste do bafômetro durante uma blitz no Rio de Janeiro.
O tiro saiu pela culatra: Aécio respondeu dizendo que ela "poderia ter sido direta" e ele mesmo mencionou o episódio. Na sequência, acusou Dilma de rebaixar o nível do debate.
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"Tenha coragem de fazer a pergunta diretamente. A senhora tenta deturpar um assunto que deve ser lidado com maior clareza. Eu tive um episódio sim, em que me recusei a fazer o teste do bafômetro. Minha carteira estava vencida. Eu me arrependi, diferentemente da senhora que não se arrepende de nada. Vamos falar de coisa séria, de como melhorar a vida das pessoas. Não é possível que a senhora queira fazer a campanha mais suja que já se viu. Quando a senhora ofende a mim, ofende a minha família, a senhora ofende todos os brasileiros que querem mudança", disse.
Contrariando as regras do debate, a plateia aplaudiu.
Na mais acirrada campanha desde a redemocratização, o duríssimo debate entre Dilma e Aécio foi pontuado por acusações de corrupção e nepotismo.
A temperatura subiu quando as duas campanhas prepararam “perguntas-surpresas”, sobre temas que não haviam sido abordados nos confrontos anteriores na televisão -- no caso da petista, o ataque pessoal ao tucano.
Confrontado no debate anterior, da TV Bandeirantes, com o fato de que sua irmã, Andrea Neves, trabalhou no governo de Minas Gerais quando ele administrou o Estado, Aécio Neves disse que que ela exercia trabalho voluntário e não remunerado.
Em seguida, apontou a nomeação do irmão de Dilma, Igor Rousseff, para um cargo de assessor da prefeitura de Belo Horizonte na gestão do petista Fernando Pimentel.
Os 15,2 milhões de votos de Minas Gerais também voltaram ao centro do debate. Em todos os blocos, a petista tentou apontar números desfavoráveis dos governos de Aécio ou mencionou o Estado lateralmente.
O tucano reclamou: “Quem ligar a televisão desavisadamente agora vai achar que a senhora quer ser governadora de Minas Gerais ou prefeita de Belo Horizonte”.
A petista reagiu dizendo que Aécio "quer falar em nome de Minas Gerais" e voltou a citar a reportagem do jornal Folha de S. Paulo, segundo a qual ele construiu um aeroporto na cidade mineira de Cláudio em terras de familiares -- ele diz que a área é pública.
"Querendo ou não tergiversar sobre esse assunto, é errado colocar um aeroporto na fazenda de um tio", disse Dilma, numa das sucessivas falas em que empregou tom professoral.
Aécio insistiu na linha de que a campanha petista propagandeia mentiras:
"A sua campanha é a campanha da mentira. O Brasil não merece a campanha que a senhora quer fazer".
O tucano também citou a profusão de escândalos que assolam a Petrobras.
Duas vezes, ele lembrou que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi apontado pelo delator do esquema de propina na estatal, Paulo Roberto Costa, como um dos destinatários dos recursos desviados dos cofres da empresa.
Além disso, também lembrou que Vaccari tem assento no conselho de administração de Itaipu Binacional.
Dilma, entretanto, tinha uma carta na manga desta vez: citou a reportagem da Folha de S. Paulo na qual Costa diz que pagou propina ao ex-presidente do PSDB, Sergio Guerra, morto em março deste ano, para que ele ajudasse a esvaziar uma CPI que investigava a estatal em 2009.
Dilma também tentou relembrar denúncias antigas envolvendo o PSDB:
"Onde estão os corruptos da privataria tucana?".
Aécio devolveu: "Onde estão os corruptos do seu partido? Estão presos".
E mencionou os mensaleiros: "O presidente do seu partido [José Genoino] foi preso, o tesoureiro [Delúbio Soares] e o ex-ministro da Casa Civil [José Dirceu] foram presos".
Presidente passa mal
Em entrevista ao vivo logo após o debate de ontem no SBT, a presidente-candidata Dilma Rousseff (PT) perdeu o rumo ao falar sobre o duríssimo embate com Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência.
Ao responder a pergunta da repórter Simone Queiroz, Dilma gaguejou ao tentar dizer a palavra "inequívoco", se enrolou e pediu para recomeçar a entrevista, momento em que foi avisada que estava ao vivo.
Ela tentou retomar o discurso, mas em seguida alegou ter sentido uma queda de pressão e foi conduzida até uma cadeira próxima.
"A presidente está passando mal aqui", disse a repórter, assustada.
Um comentarista do SBT entrou no ar. Instantes depois a transmissão voltou a mostrar Dilma, em pé e aparentemente recomposta. "Debate exige muito da gente. Peço desculpas ao telespectador, mas é assim que nós somos".
A repórter disse que esperava que a presidente estivesse se sentindo bem. Dilma, ainda um pouco desorientada, respondeu com rispidez: "Quero terminar a entrevista".
Dilma tentou retomar a resposta, mas logo foi avisada que pela lei eleitoral o SBT deveria dar o mesmo tempo de entrevista aos candidatos e por isso não poderia estender a fala da candidata petista.
Mais uma vez, Dilma foi áspera: "Se é assim que você quer, assim será", respondeu ela, encerrando um dos episódios mais bizarros de toda a campanha.
Nos bastidores, os assessores da presidente se apressaram em afirmar que Dilma não havia comido nada o dia todo e se sentiu mal ao levantar da cadeira para a entrevista.
O marqueteiro João Santana a socorreu com barra de cereal, chocolate e bala.
"Meu filho, eu devia ter comido antes de sair de casa. Caiu um pouquinho a minha pressão. Eu senti que ia cair, mas aí imediatamente eu dei uma esfregadinha nos meus pulsos. A minha sorte foi que não aconteceu nada disso (durante o debate). Foi na hora que eu levantei, porque eu levantei subitamente", disse Dilma.