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DIA A DIA

Reeleita, Dilma tem escândalo do petrolão pela frente
26/10/2014 - Veja.com + Saite Bão

Depois de uma campanha extraordinariamente acirrada, uma vitória por margem estreita. É assim que a mineira Dilma Vana Rousseff, de 66 anos, chega a seu segundo mandato como presidente da República.

A reeleição foi constatada às 20:31 (19:31/MT), quando, com mais de 98% das urnas apuradas, a petista alcançou 51,45% dos votos, não podendo mais ser superada por Aécio Neves (PSDB), que marcava 48,55%.

A diferença de apenas três pontos porcentuais é a menor desde que o PT chegou ao poder, em 2002. Em 2010, a própria Dilma obteve 56% dos votos válidos, contra 44% do tucano José Serra.


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A vitória apertada prenuncia um segundo mandato muito mais difícil para a petista.

Na última semana da corrida eleitoral, o escândalo do petrolão atingiu em cheio a presidente e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

Conforme VEJA revelou, o doleiro Alberto Youssef, por um acordo de delação premiada, afirmou à Polícia Federal que tanto ela como Lula sabiam dos esquema de desvios na Petrobras, investigados no âmbito da Operação Lava Jato.

A corrida eleitoral acabou, e Dilma tem agora de lidar com os desdobramentos do caso (que tem tudo para terminar em impeachment).

Ao mesmo tempo, terá de enfrentar uma oposição revigorada e o cenário desolador de baixo crescimento econômico com inflação em alta.

A combinação de um escândalo de proporções inéditas, cujos ingredientes vêm todos de investigações oficiais, adversários fortalecidos e economia em crise pode envolver Dilma numa tempestade perfeita.

Mas, antes mesmo de estrear o novo mandato, a presidente tem de decidir se vai ignorar o ponto de vista de quase metade do eleitorado ou adequar suas políticas para levá-lo em conta.

A estreita diferença entre os candidatos é reflexo de uma corrida eleitoral cercada de reviravoltas, pontuada por uma tragédia e que entrará para a história pela agressividade de que o partido da presidente fez uso para não deixar o poder.

Como prenunciou Dilma em março de 2013, o PT "fez o diabo" nesta campanha.

No primeiro turno, a máquina de propaganda petista voltou sua artilharia contra Marina Silva, que se tornou cabeça de chapa do PSB após a morte de Eduardo Campos e em pouco tempo ascendeu nas pesquisas.

Desidratada, Marina não chegou ao segundo turno.

Foi, então, a vez de Aécio Neves tornar-se alvo do PT.

Com eficiência incomparável, a máquina petista construiu a narrativa segundo a qual o tucano desrespeita as mulheres e foi agressivo com a chefe da nação.

A partir dali, o PT aumentou a quantidade de golpes abaixo da linha da cintura.

Eleita, Dilma leva a sigla a um marco histórico: o Partido dos Trabalhadores se torna a única sigla a vencer quatro eleições diretas seguidas para o Palácio do Planalto.

Duas agendas

Quando da primeira eleição de Dilma, uma reportagem do site de VEJA apontava: “Quem marcou o número 13 na eleição de hoje para presidente da República votou numa caixa preta”.

A presidente recém-eleita era uma incógnita.

Questionava-se se o “poste de Lula” sairia da sombra de seu mentor.

Agora já se sabe que ela tinha ideias próprias a implementar.

Dilma deixou sua marca criando a chamada "Nova Matriz Econômica", um conjunto mal-ajambrado de práticas intervencionistas adotado em substituição às políticas de estabilidade implementadas no Plano Real e das quais nem mesmo Lula se distanciou.

Como resultado, ela colheu inflação acima da meta e estagnação econômica.

Isso lhe custou a aprovação da classe média -- inclusive da chamada "nova classe média", que começou sua ascensão nos últimos doze anos.

No primeiro turno a petista saiu vitoriosa em apenas um dos vinte municípios de maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país: Santo André, no ABC paulista, um cinturão do PT no Estado de São Paulo.

Há um caminho para que Dilma Rousseff faça um segundo mandato à altura do Brasil.

Para isso, ela deve interpretar o resultado da eleição não como uma senha para que radicalize suas escolhas, mas como prova de que duas agendas precisam ser tocadas em paralelo no Brasil de hoje: a das políticas de assistência social e a da modernização da economia.

A primeira é a agenda clássica do petismo, aquela que lhe garante o núcleo duro de seu eleitorado -- e que apesar de eventuais distorções, tem ajudado de fato a parcela mais pobre da população brasileira.

Implementar a segunda agenda vai requerer da presidente uma dose considerável de humildade.

Ela terá de reconhecer que, ao lado das denúncias de corrupção que assolam o seu partido, as travas que ela impôs ao desenvolvimento foram um fator crucial de rejeição à sua candidatura.

E, em seguida, empreender uma guinada radical -- ou seja, um retorno à racionalidade econômica que abandonou em seus primeiros quatro anos de governo.

Atoleiro econômico

As sinalizações dadas durante a campanha não foram auspiciosas.

Na TV, a presidente não hesitou em atribuir todos os seus fracassos na economia à crise internacional (argumento recentemente desconstruído por um grupo de mais de 200 economistas que se reuniram para explicar que o mundo está em recuperação -- ainda que lenta -- e que as razões da estagnação no Brasil são essencialmente domésticas) e em recorrer a ideias canhestras como a de que quem discorda do PT quer “entregar o país a banqueiros”.

Ponha-se esse tipo de tolice na conta do marketing eleitoral.

Ainda assim, é possível colher outros sinais ruins.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, de saída da pasta, afirma à exaustão que não houve erro na condução macroeconômica e que o mesmo caminho será mantido nos próximos quatro anos.

O mais cotado para sucedê-lo é Aloizio Mercadante, atual ministro da Casa Civil e colega de Dilma de seus tempos de Unicamp.

Mercadante não mostra constrangimento ao afirmar que dobrará a aposta no modelo vigente.

Disse em entrevista recente ao jornal Valor Econômico que o próximo governo “não fará uma política ortodoxa”.

Seguindo a mesma cartilha de sua chefe, o ministro reafirma que a inflação não está alta, as contas públicas estão sob controle e os juros são os menores da história.

“Não há a menor expectativa de que Dilma mude a política econômica.

O que se espera é que o governo deixe de colocar em prática medidas pontuais que travaram o mercado.

Mas o caminho econômico é o que já se viu.

Não deve haver novidades”, afirma o ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral.

Caso se aferre de fato a essas ideias, Dilma pode confirmar a tradição segundo a qual os segundos mandatos são sempre mais árduos que os primeiros.

A conjuntura não lhe traz facilidades.

É notório que ela terá de lidar como problemas como a inevitável alta das tarifas de energia e do preço da gasolina, represadas pelo governo.

A inflação dos preços controlados vai voltar com força em 2015 e deve superar a alta dos preços livres, o que não ocorria desde 2009.

Oposição revigorada

Aos percalços da economia vão se somar dificuldades no Congresso.

Embora os partidos que apoiam formalmente sua reeleição componham a maioria das duas Casas -- 296 deputados e 53 senadores --, a oposição renasce fortalecida: um PSDB revitalizado somará forças com um PSB ressurgido das cinzas de Eduardo Campos, que terá sete cadeiras no Senado e 34 na Câmara.

A principal trincheira da oposição será o Senado, onde o governo não terá ascendência sobre um terço da Casa e as bancadas de oposição terão a presença de nomes de peso, como os ex-governadores tucanos José Serra (SP), Antonio Anastasia (MG) e Tasso Jereissati (CE), o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) e o próprio adversário de Dilma na reta final da eleição, Aécio Neves (PSDB).

Na Câmara, PT e PMDB continuam com as maiores bancadas, mas encolheram em relação à eleição de 2010.

Uma novidade saída das urnas foi a pulverização de deputados eleitos por siglas que formarão um “centrão” -- como PSD, Pros, PR, PTB, PSC, por exemplo --, que podem votar conforme os interesses do Palácio do Planalto, mas cujo alinhamento não é automático e deverá passar pela barganha de cargos na máquina.

Outra constatação: nas duas Casas, o governo Dilma se tornará ainda mais dependente do PMDB, que terá, por exemplo, dezoito senadores, e manterá a presidência tanto do Senado quanto da Câmara.

Neste último caso, a provável vitória do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para comandar a Casa deverá ser outra dor de cabeça para Dilma: no primeiro mandato, ele foi um dos articuladores das rebeliões na base governista.

Cunha deve substituir outro deputado descontente com o PT, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que atribui ao apoio de Lula sua derrota na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte, Robinson Faria, do PSD.


  

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