Os bastidores do vai e vem ministerial: os feridos, os fortalecidos e os irritados 30/10/2014
- Luís Lima, Talita Fernandes e Naiara Infante Bertão - Veja.com
Prata da casa
Os que tinham a esperança de que Dilma escolhesse um nome de mercado para o Ministério da Fazenda terão de encarar os fatos: a presidente ficará mesmo com seu rebanho na hora de compor a equipe econômica.
Nada de banqueiros. Tampouco vão embarcar economistas de linhagem diferente da desenvolvimentista.
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Até o momento, o mais cotado é Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda.
Meses atrás, quando questionado pelo site de VEJA sobre o interesse, Barbosa negou.
Contudo, nos bastidores, sabe-se que o economista se tornou figura frequente no bairro do Ipiranga, onde Lula mantém seu QG, em busca de apoio para a postulação.
Dilma havia se mostrado reticente. Agora, encara o economista como uma saída mais sensata.
"Ele seria uma boa escolha por ter bom trânsito no governo, no Congresso e entre os empresários", afirma um cacique petista.
Melhor que nada
No mercado financeiro, o nome de Barbosa não é malquisto como o de seu ex-chefe, Guido Mantega.
"Não concordo com o que ele pensa. Mas o respeito como economista. Já o Mantega...", diz um gestor de fundos.
Em Brasília, o sentimento é de que a presidente não morre de amores por ele, mas precisa de um ministro com características conciliadoras e que aceite, sem maiores crises, que o chefe da pasta será mesmo ela.
Barbosa, por sua vez, não teria de trabalhar com seu desafeto Arno Augustin, que deixa a Secretaria do Tesouro Nacional ao final deste governo.
Fica, vai ter bolo
O atual presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, embora não seja aclamado pelo mercado, é visto pelos governistas como um nome que "não causa muitos problemas".
O governo pode fazer, contudo, mudanças pontuais em algumas diretorias do BC.
Já na Fazenda, o único dos atuais secretários que deve permanecer na pasta é Dyogo Oliveira, que ocupou a secretaria-executiva interinamente após a saída de Nelson Barbosa.
Quase lá
Para a pasta da Agricultura, a senadora Kátia Abreu é a número um da fila.
Não é de hoje que a presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) pavimenta seu caminho até a Esplanada.
Nos dois últimos anos, principalmente em 2014, houve uma aproximação forte com a presidente Dilma.
Kátia se tornou espécie de “consultora” para assuntos do agronegócio no Palácio do Planalto.
A "amizade" criou até mesmo desavenças na própria CNA, já que a senadora foi criticada por não fazer a oposição que as federações do setor exigiam.
A trajetória política também foi providencial. A senadora deixou a oposição (DEM-TO) em 2011, transferiu-se ao PSD de Gilberto Kassab, apoiador de Dilma e, em seguida, ao PMDB, que é o "dono" da pasta no governo.
Doce
Sem função parlamentar em 2015, depois da derrota nas eleições para governador do Rio Grande do Norte, Henrique Eduardo Alves vem sendo sondado pelo governo para assumir a pasta da Previdência, que é comandada pelo seu tio, Garibaldi Alves.
A aliados, o atual presidente da Câmara disse que, por ora, não aceitará o cargo. Voltará para Natal para cuidar dos negócios da família e militar pelo partido.
Prêmio de consolação
Dar a Previdência a Henrique Alves é a estratégia do governo para acalmar os ânimos do peemedebista depois da derrota que sofreu em seu estado natal.
Alves ficou irado depois que o ex-presidente Lula apareceu apoiando seu adversário Robinson Faria (PSD-RN).
Nova ala
O atual ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, tem não apenas tentado se manter forte no governo, mas também procura emplacar nomes em outras pastas.
Uma das tentativas de Mercadante é arrumar um substituto para Paulo Bernardo, que hoje ocupa o Ministério das Comunicações.
Depois de o nome de Bernardo e de sua mulher, a senadora Gleisi Hoffman, aparecerem entre os possíveis favorecidos do esquema de corrupção da Petrobras, a base governista considera improvável que o ministro seja mantido.
Balão de ensaio
A escolha dos novos ministros do governo Dilma está dividida em várias frentes. De um lado, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, está conversando com os partidos aliados à sigla para dar início à distribuição de ministérios.
Do outro, o articulador é o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que tem contado a diversos aliados os nomes que gostaria no governo, como forma de testá-los junto à opinião pública.
Os rumores sobre o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, assumir a Fazenda são de autoria do ex-presidente.
Em alta
Novato na pasta, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, tem grandes chances de permanecer no cargo.
Nos bastidores de Brasília, fala-se que seu nome é defendido com afinco por empresários da indústria farmacêutica.
A maior dificuldade dos governistas no âmbito da Saúde seria, contudo, garantir um nome forte para a presidência da Anvisa -- agência que foi fatiada entre diversos partidos.
Órfão
Derrotado, o ex-ministro Alexandre Padilha (PT-SP) também poderia voltar para Brasília, já que ficou sem nenhum cargo.
A dificuldade da volta está no fato de seu nome ter sido citado nas denúncias da Operação Lava-Jato, apesar de nada ter sido comprovado.
Pé na rua – Quem não ficará no governo são os ministros Guido Mantega (Fazenda), Marta Suplicy (Cultura) e Mauro Borges (Desenvolvimento).
Mantega, que está no cargo há quase oito anos, já teve sua demissão anunciada durante a campanha presidencial.
Marta deve sair por ter sido uma dos principais entusiastas do movimento "Volta, Lula".
Já Borges assumiu o MDIC de forma quase que interina, quando Fernando Pimentel deixou a pasta para disputar o governo mineiro pelo PT.
Direto de Minas
Josué Gomes, filho do ex-vice-presidente José Alencar, é um dos mais cotados para assumir a pasta do Desenvolvimento no lugar de Mauro Borges.
Petistas afirmam que, mesmo derrotado no Senado, Gomes fez a "lição de casa" durante as eleições.