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Sete mitos da campanha de Dilma que caíram após a reeleição
09/11/2014 - Veja.com

O eleitor que assistiu à campanha eleitoral com atenção deve estranhar os últimos anúncios feitos pelo governo.

Duas semanas depois de ser reeleita, a presidente Dilma Rousseff já autorizou a subida dos juros, o reajuste do preço da gasolina e falou até mesmo sobre "ajuste fiscal" depois que o Tesouro Nacional divulgou que a economia do governo para pagar os juros da dívida está deficitária em 15 bilhões de reais até setembro deste ano.

Curiosamente, trata-se de medidas que constavam do leque de ataques da presidente aos candidatos da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB).


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O ainda ministro da Fazenda Guido Mantega chegou até mesmo a sinalizar que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) receberá menos recursos a partir de 2015.

O discurso em questão contraria sistematicamente tudo o que a presidente defendeu ao longo da corrida eleitoral.

Agora, Dilma admite que haverá cortes de orçamento em 2015, o que implicará na redução de repasses para investimentos, por exemplo.

Veja quais foram os mitos da campanha petista que caíram por terra nos primeiros dias após a reeleição.

Alta dos juros

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central surpreendeu a todos ao elevar, em sua reunião do dia 29 de outubro (três dias após a eleição) a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, para 11,25% ao ano.

Na ata da reunião, publicada na última quinta-feira, ficou claro que a motivação para a alta dos juros foi a preocupação com a inflação acelerada, mesmo após as inúmeras afirmações dadas pela presidente negando a elevação.

Nos próximos meses, é possível que os juros bancários subam, acompanhando a nova taxa Selic.

A medida, certamente necessária para conter o avanço dos preços, penaliza o consumo porque encarece o crédito.

Durante a campanha, a presidente demonizou a subida da Selic, afirmando que seria a oposição que subiria os juros, o que acarretaria em recessão e desemprego.

Rombo nas contas públicas

Ainda que a presidente tenha estufado o peito para dizer que seu governo preza pelo rigor fiscal, o resultado das contas públicas de setembro dá conta da gravidade da situação: a diferença entre os gastos e a arrecadação federal ficou negativa em 20,4 bilhões de reais.

No acumulado do ano, está 15,7 bilhões de reais no vermelho -- o pior rombo da história.

Isso significa que, no apagar das luzes de 2014, nada sobrará para o pagamento dos juros da dívida pública.

A Fundação Getulio Vargas prevê que o resultado fiscal fique negativo em 0,5% do Produto Interno Bruto. Ou seja, o país terá de aumentar seu endividamento para conseguir honrar o pagamento dos juros.

Redução dos repasses ao BNDES

Embora especialistas venham falando há algum tempo sobre a necessidade de cortar os gastos do governo, só agora é que o ministro Guido Mantega passou a falar em ajustes.

Um deles seria a diminuição de repasses ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Mantega admitiu que o governo vai diminuir subsídios ao crédito privado via o banco de fomento.

Ele não deu detalhes sobre as medidas que serão adotadas, e também não disse quando elas entram em vigor, mas explicou que correm mais riscos os programas de financiamento do BNDES concedidos às empresas, com juros abaixo da taxa básica (Selic, hoje em 11,25% ao ano).

Ao longo da campanha, o papel dos bancos públicos foi um dos principais temas econômicos levantados pelos candidatos.

Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) criticaram a interferência do governo no comando das instituições e afirmaram que, se eleitos, batalhariam para melhorar sua eficiência e gestão e reduziriam alguns estímulos dados pelos bancos.

À época, a presidente bradou: “Esse é um pleito absurdo, que é tirar o maior instrumento de financiamento de longo prazo do país, comprometendo, dizendo ‘não’... Os dois candidatos, Marina e Aécio, um fala em reduzir o tamanho e um fala em reduzir o papel dos bancos públicos”, disse.

Ajuste fiscal

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, falou e a presidente Dilma Rousseff confirmou: 2015 será um ano de controle de gastos públicos.

A meta de superávit primário, economia feita para pagar juros da dívida pública, também deve ser revista para baixo, como também disse o secretário do Tesouro, Arno Augustin, pouco depois de divulgar dados alarmantes de contas públicas.

Augustin disse que o governo encaminhará ao Congresso Nacional uma proposta de alteração da meta de superávit primário e da Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO).

Dilma negou durante a campanha que a economia ia mal, colocando a culpa no cenário internacional.

O problema é que o país deve crescer menos de 0,30% neste ano e, sem dinheiro em caixa para estimular a economia (política quea presidente adotou desde o início de seu mandato), Dilma se encontra numa encruzilhada.

Reajuste da gasolina

Para o alívio da Petrobras, seus acionistas e os usineiros, o Conselho de Administração da estatal concordou em reajustar em 3% no preço da gasolina e em 5% no preço do diesel nas refinarias.

Quem não gostou da notícia foram os brasileiros que já precisam conviver diariamente com preços altos nos supermercados, nos restaurantes e também na conta de luz -- o reajuste médio da energia no país será superior a 17%.

O reajuste chega dias após a reeleição da presidente e é considerado pequeno frente às necessidades da estatal, que foi proibida de reajustar preços justamente para ajudar a frear o avanço inflacionário.

O aumento da miséria

Depois de bradar que a renda dos brasileiros melhorou durante os governos petistas, nesta semana, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou uma pesquisa que mostra a alta do número de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza no Brasil.

Segundo o instituto, entre 2012 e 2013, houve um aumento de 3,68% no número de indivíduos que vivem na miséria, ou indigentes -- passaram de 10.081.225 em 2012 para 10.452.383 no ano passado, ou seja, mais de 371.000 pessoas entraram para o grupo de miseráveis no período.

Este foi o primeiro aumento desde 2003, quando o indicador passou a cair ano a ano.

Inflação permanece acima da meta

Dilma Rousseff afirmou em sua campanha que os preços estavam sob controle e não havia chance de a inflação subir acima do teto da meta, de 6,5%.

Na última quinta-feira, 10 dias após a eleição presidencial em que saiu reeleita, a presidente afirmou a jornalistas que entre seu “dever de casa” está o controle da inflação.

"Vamos ter de apertar o controle da inflação", disse ela e depois reconheceu: "nós temos problema interno com a inflação".

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 6,59% em doze meses até outubro, menor do que no mês anterior (6,75%), mas acima do limite da meta.

A expectativa dos economistas é que, ao final de 2014, o índice se mantenha acima de 6,5%.


  

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