Embrapa desenvolve soja OGM para exploração comercial 08/08/2007
- Herton Escobar - Estadão e Beto Barata - Agência Estado
Ainda sem nome comercial, a soja foi desenvolvida inteiramente no Brasil, em parceria da Embrapa com a Basf
O Brasil já tem sua primeira planta transgênica. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a multinacional química Basf anunciaram nesta terça-feira, 7, um contrato para o desenvolvimento comercial de uma variedade de soja geneticamente modificada, tolerante a herbicidas. A expectativa é colocar o produto no mercado até 2012.
A nova soja contém um gene da planta Arabidopsis thaliana (uma planta modelo de laboratório, muito utilizada em pesquisas no mundo todo) que confere resistência a uma classe de herbicidas chamada imidazolinonas. Dessa forma, o herbicida pode ser aplicado para o controle de ervas daninhas sobre toda a lavoura, sem prejuízo para a soja.
As imidazolinonas são concorrentes diretas do glifosato, herbicida que é a base da tecnologia Roundup Ready (RR), da Monsanto - empresa que domina o mercado de plantas transgênicas no mundo todo.
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Ainda sem nome comercial, a soja foi desenvolvida inteiramente no Brasil, sob a coordenação do geneticista e engenheiro agrônomo Elibio Rech, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. O gene (chamado ahas) é patenteado pela Basf, mas a tecnologia de transformação genética da planta foi desenvolvida por Rech e patenteada pela Embrapa no Brasil.
A parceria foi iniciada em 1997, mas só agora a pesquisa chegou a um ponto em que as empresas se sentem confiantes de que ela tem viabilidade comercial.
A “planta mãe”, batizada de Evento 127 (a melhor entre mil que foram transformadas com o gene), foi selecionada há cerca de três anos, e toda a pesquisa, desde então, tem sido desenvolvida a partir dela. Vários testes de biossegurança já estão em andamento, tanto na área ambiental quanto alimentar.
Com os resultados em mãos, o pedido de liberação comercial deverá ser encaminhado para avaliação pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). “Estou muito feliz pelo Brasil; é uma demonstração de que somos capazes de produzir algo de alta tecnologia e com alto valor agregado”, disse Rech. Os royalties provenientes da venda da tecnologia serão divididos meio a meio entre a Embrapa e a Basf.
O gerente de biotecnologia da Basf no Brasil, Luiz Carlos Louzano, acredita que a nova soja poderá ganhar até 20% do mercado brasileiro. É a primeira planta transgênica da empresa, concorrente da Monsanto. “Queremos oferecer uma opção que seja economicamente e tecnologicamente interessante para o sojicultor”, disse.
Aprovado em maio, milho transgênico continua suspenso
O milho Liberty Link, geneticamente modificado pela Bayer para resistir a herbicidas que usam a substância glufosinato de amônio, foi liberado para uso comercial no Brasil pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 16 de maio de 2007 - depois de nove anos de espera, foi a primeira variedade de milho transgênico autorizada no Brasil.
Na prática, no entanto, a autorização para o plantio durou pouco: em 18 de junho, a Justiça Federal do Paraná suspendeu a liberação, por meio de liminar, exigindo estudos preliminares para garantir a coexistência do milho transgênico com variedades orgânicas e convencionais, e regras para monitoramento da nova variedade.
Na reunião de julho, os membros da CTNBio não conseguiram chegar a um acordo para aprovação dos requisitos exigidos pela Justiça. Uma nova reunião, que deverá avaliar essas questões e, também, a liberação de uma outra variedade transgênica de milho, da Monsanto, deve ocorrer em meados de agosto.
As decisões da CTNBio precisam ser ratificadas pelo Conselho Nacional de Biossegurança, criado para examinar o assunto pelos ângulos da “conveniência e oportunidade socioeconômica” e o do “interesse nacional”.
Segundo a assessoria da CTNBio, entre a aprovação de uma variedade transgênica pela entidade e sua chegada ao mercado pode transcorrer em prazo de cerca de dois anos - fora as dificuldades jurídicas.
Além do milho Liberty Link, estão liberados no Brasil a soja transgênica Roundup Ready (RR), também resistente a herbicida, e o algodão Bollgard Evento 531, resistente a insetos.
A liberação da RR, em 1998, ocorreu antes da entrada em vigor da atual Lei de Biossegurança, e foi contestada na Justiça: com isso, a soja modificada ficou, de fato, proibida, embora fosse plantada com sementes contrabandeadas. As safras de 2003 a 2006 acabaram tendo a comercialização autorizada por medidas provisórias.
Cronologia da CTNBio
24/março/2005
Sancionada Lei de Biossegurança, com regras para pesquisa, plantio e comercialização de organismos geneticamente modificados.
23/11/2006
O primeiro processo para liberação comercial de transgênico é avaliado pela CTNBio. A comissão nega autorização de uso comercial de uma vacina
contra a doença de Aujelszky, feita com vírus modificado e usada em porcos e cavalos, apesar de o placar apontar 17 votos favoráveis e 4
contrários à aprovação.
14/12/2006
Juiz federal do Paraná determinou que a CTNBio suspendesse as análises do pedido de liberação do milho transgênico Liberty Link, da Bayer. A
liminar chegou à CTNBio pouco antes da votação. A medida determinava que o processo somente poderia ser retomado depois de uma audiência
pública sobre o assunto.
21/03/2007
O presidente Lula aprovou o projeto que reduz o quórum da CTNBio exigido para liberação comercial de sementes geneticamente modificadas. Em vez de maioria qualificada, passou a ser exigida maioria absoluta.
19/04/2007
Por determinação de uma liminar concedida na 2ª Vara da Justiça Federal, a sessão da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) teve de ser realizada a portas abertas.
16/5/2007
Por 17 votos favoráveis e 4 contrários, o milho transgênico resistente a herbicida produzido pela Bayer teve seu uso comercial liberado pela
CTNBio. Foi a primeira liberação comercial de organismos geneticamente modificados desde a Lei de Biossegurança e da nova composição da CTNBio, que passou a se reunir em fevereiro de 2006.
18/06/2007
Justiça Federal do Paraná proibiu em decisão liminar a CTNBio de liberar qualquer variedade de milho transgênico para fins comerciais. A medida exigia que, antes da liberação, fosse finalizado um plano de monitoramento do plantio - cujo objetivo é avaliar e detectar qualquer problema provocado pelo uso de sementes transgênicas.