Em dia de pânico, Bovespa reduz queda histórica no fechamento 16/08/2007
- Epaminondas Neto - Folha Online
Os investidores viveram uma verdadeira montanha-russa no pregão desta quinta-feira. A Bolsa brasileira, que despencou durante toda a manhã e o início da tarde --a queda chegou a mais de 8%, tomou fôlego próximo ao encerramentos dos negócios.
Para os profissionais de mercado, as ações ficaram baratas demais e começaram atrair compradores, revertendo a queda. ¨Quando a Bolsa caiu 8% nós já começamos a ver compras no pregão. Muitos clientes aqui da corretora também entraram no mercado¨, afirma Milton Milioni, diretor da corretora Geração Futuro.
O Ibovespa, indicador da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), finalizou a quinta-feira em baixa de 2,58%, aos 48.015 pontos. O volume financeiro foi bastante alto e mostrou o nervosismo dos investidores: R$ 8,4 bilhões. Além do Brasil, o nervosismo derrubou os pregões na Ásia, na Europa e nas influentes Bolsas americanas
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O dólar comercial foi negociado a R$ 2,094 para venda, com avanço de 3,15%. A taxa de risco-país, medida pelo índice Embi+ (JP Morgan), bateu os 227 pontos próximo das 17h, um salto de 11,27%.
Os mercados tiveram uma verdadeira crise de pânico hoje, a partir do momento em que cada vez mais fundos de investimentos começaram a reportar problemas de caixa. A crise do setor imobiliário americano (entenda como funciona) transbordou das fronteiras dos EUA e atingiu empresas na Europa e na Ásia.
¨Teve um pouco de exagero, puxado pelo lado da psicologia, mas teve um fato bem concreto: vários fundos tiveram problemas, na Europa, na Ásia, na Ásia e até no Brasil¨, afirma o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
Os grandes investidores globais, que têm aplicações espalhadas por vários países, fizeram o já visto em outras crises: venderam papéis nos mercados emergentes, entre eles o Brasil, para cobrir prejuízos em outras aplicações lá fora.
¨O que nós vimos foi uma crise de oferta de crédito. O grande investidor, mesmo ganhando dinheiro no Brasil, teve que vender para fazer dinheiro. Foi algo até paradoxal, porque ele teve que sair justamente do lugar onde está ganhando¨, afirma Milton Milioni, da Geração Futuro.
A má notícia da vez, que estragou de vez o humor dos investidores, foi protagonizada pela empresa americana Countrywide Financial, maior financiadora imobiliária dos EUA. A empresa foi obrigada a tomar US$ 11,5 bilhões para se prevenir contra uma possível falta de crédito na praça. Ontem, o banco de investimentos Merrill Lynch já havia rebaixado sua recomendação para as ações da empresa.
Mais tarde, a empresa de hipotecas First Magnus Financial (que ocupa a 16ª posição no país) anunciou que interrompeu a realização de novos contratos de crédito e que pode ter de pedir concordata. O grupo atuava em todo o país e realizou mais de US$ 30 bilhões em contratos de crédito hipotecário em 2006 e cerca de US$ 17 bilhões no primeiro semestre deste ano.
Entre outras notícias, o Departamento do Comércio dos EUA informou que a construção de casas teve queda de 6,1% em julho, caindo para uma taxa anualizada de 1,38 milhão de unidades --uma redução de 20,9% em relação ao mesmo mês de 2006 e a mais baixa taxa desde janeiro de 1997.
As autoridades brasileiros vieram a público para acalmar os investidores, com um discurso que também tem sido sustentado por uma parcela de analistas de mercado: os fundamentos da economia brasileira deixam o país mais resistente às crises financeiras globais.
Por enquanto, especialistas não sabem prever qual a duração da crise. Alguns profissionais de mercado notam que as turbulências devem se estender, pelo menos, até setembro, quando o Federal Reserve (banco central dos EUA) deve promover nova reunião para decidir a taxa básica de juros. Investidores acreditam que um corte nas taxas pode servir para antecipar o fim da crise financeira.