Operação Lava Jato trava concessão de aeroportos 01/03/2015
- NATUZA NERY - FOLHA DE S.PAULO
A Operação Lava Jato, da PF, teve como efeito colateral travar a terceira fase do programa de concessões de aeroportos brasileiros, prevista para este ano. Nem o mais otimista no governo prevê leilões de terminais tão cedo.
Segundo a Folha apurou, o programa, com sorte, só será viabilizado na virada de 2015 para 2016, em data ainda indefinida. Na lista de espera estão os aeroportos de Salvador e Porto Alegre.
A avaliação interna é que não há ambiente para realizar as concorrências neste ano devido ao envolvimento das principais empreiteiras do país no escândalo de corrupção da Petrobras.
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Um assessor de Dilma brinca, dizendo que quem não está na carceragem da PF em Curitiba, onde está centrada a Lava Lato, teme parar lá.
Nas duas primeiras fases, entre 2012 e 2013, as principais construtoras brasileiras tiveram papel central na formação dos consórcios que levaram os aeroportos de Guarulhos, Viracopos, Brasília, Galeão e Confins.
Hoje, o temor de restrições financeiras paira sobre construtoras como Odebrecht, UTC, OAS, Engevix e Camargo Corrêa.
As companhias investigadas pela Lava Jato têm dívidas com bancos privados e públicos que superam os R$ 130 bilhões, conforme revelou a Folha em novembro.
Há, ainda, outros dois fantasmas gerando insegurança para novos negócios em terminais aeroportuários: a possibilidade de que as grandes construtoras sejam proibidas de assinar contratos com o poder público -- algo que Dilma Rousseff tenta evitar -- e a cobrança bilionária feita pelo Ministério Público Federal a título de ressarcimento do que foi desviado na estatal.
Nesse cenário, a Lava Jato reduz drasticamente o número de atores aptos a disputar a concessão de aeroportos e, com isso, tende a limitar o ágio de eventuais leilões.
Autoridades acreditam que administradores independentes podem até arrematar algum terminal na próxima fase de leilões, mas, sem associação com construtoras, seriam obrigados a subcontratar as obras, o que elevaria despesas e poderia reduzir o apetite de seus lances.
Embora evite vínculo direto com a operação da PF, o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, admite que o ambiente é menos favorável.
"Talvez não se consiga fazer o pregão neste ano. O mercado não está bom para entrar com expectativas muito altas", afirma.
Padilha ponderou, contudo, que o setor de aviação deve crescer ao menos 7% pelos próximos 20 anos, o que torna o país naturalmente atrativo para investir.
Para contornar as dificuldades atuais, o ministro diz que o governo tentará atrair mais parceiros estrangeiros.
Em reuniões recentes com ministros, Dilma manifestou preocupação com a deterioração do ambiente de negócios causada pela Lava Jato, que ameaça uma das principais estratégias do Planalto para amenizar a crise de popularidade da presidente: o fortalecimento dos leilões de infraestrutura.
A presidente orientou sua equipe a tocar todas as obras que não tenham relação direta com a Petrobras, para evitar o distanciamento entre o governo e o empresariado.