Grupos contra Dilma esperam levar 100 mil às ruas no dia 15 09/03/2015
- DANIELA LIMA, PATRÍCIA CAMPOS MELLO E LUCAS VETTO - FOLHA DE S.PAULO
Eles mandaram às favas o medo do estigma de golpistas. Ou promoverão o maior ato contra a presidente Dilma Rousseff desde a reeleição, ou irão personalizar o fiasco de uma manifestação que se pretende grande o suficiente para chacoalhar o já debilitado quadro político nacional.
No dia 15, jovens adeptos da cartilha liberal, empresários que pregam enxugamento radical do Estado e até defensores da intervenção militar prometem marchar juntos em mais de 200 cidades.
Eles fazem questão de salientar suas diferenças. "Os caras do Vem Pra Rua são mais velhos, mais ricos e têm o PSDB por trás", diz Renan Santos, 31, do MBL (Movimento Brasil Livre).
PUBLICIDADE
"Eles vão pro protesto sem pedir impeachment. É como fumar maconha sem tragar."
O MBL quer impeachment mesmo que isso signifique o vice, Michel Temer, ou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (ambos do PMDB), na Presidência. "O PMDB é corrupto, mas o PT é totalitário", diz Kim Kataguiri, 19.
A tese de uma ligação com o PSDB incomoda o Vem Pra Rua, com 200 mil seguidores no Facebook. O núcleo são cerca de 20 pessoas, a maioria empresários que prefere o anonimato. O rosto público é Rogério Chequer, 46, sócio de uma agência de palestras.
"Não recebemos dinheiro e nem material de partido", ressalta. A ideia de vinculação com tucanos começou a ganhar força na eleição, quando o grupo fez passeatas por Aécio Neves.
"Não defendíamos o Aécio, mas o não voto na Dilma", diz Chequer.
Para o Vem Pra Rua ainda não há base jurídica para impeachment. Ainda assim, o grupo engrossa o chamado ao dia 15. Alega que a pressão é importante para que as apurações sobre a Petrobras, por exemplo, prossigam.
Em outros protestos, o Vem Pra Rua se mobilizou para expulsar grupos que defendem a intervenção militar.
"Dessa vez vai ser tão grande que será impossível", diz Chequer.
Grupos que defendem a tomada do poder pelos militares têm participado dos protestos contra Dilma. No Rio, por exemplo, o que se autodenomina Legalistas tem feito convocações.
"A coisa está indo por um caminho que não vejo outra saída", diz o sargento da reserva da Aeronáutica Tôni Oliveira, 58.
A equiparação com intervencionistas irrita o Vem Pra Rua e o MBL. Eles criticam a imprensa e dizem que ela faz questão de jogar todo mundo no mesmo balaio.
Todos os grupos evitam estimar a adesão ao ato do dia 15. Internamente, falam em levar 100 mil pessoas às ruas.
De onde vem o dinheiro para organizar tudo isso? Cada um se financia de um jeito. O MBL aceita doações e recebe alguns centavos do YouTube a cada clique em seus vídeos. O Vem Pra Rua faz vaquinha entre seus integrantes.
Outra celebridade dos atos contra Dilma, Marcelo Reis, do Revoltados, arruma dinheiro de um jeito diferente. Dono da página com mais curtidas entre os mobilizadores, ele vende o kit manifestação, com camisetinha, boné e adesivos pró-impeachment.
O Revoltados já defendeu a intervenção militar, mas Reis diz que, hoje, na cúpula do grupo, não há quem advogue por esse caminho.
"Queremos as regras democráticas. Impeachment está na Constituição", diz.
Reis fez de um flat de 38 metros quadrados o QG de seu grupo. O imóvel fica no prédio em que o ministro José Eduardo Cardoso (Justiça) se hospeda em São Paulo.
Seu grupo promete levar a banda Os Reaças para a Paulista. "Ô, ô, ô... Todo mundo já sabe que a anta sabia. Ô, ô, ô... Que o molusco mandava e ela obedecia. Ô, ô, ô... Impeachment! Não tem como fugir. Impeachment! Pede pra sair...", diz o refrão.
Reis exibiu à reportagem no último volume em seu flat.
"É pra ver o se o 'ministrão' escuta", justificou, aos risos.