Gurgel volta, made in MS 27/08/2007
- O Estado de S.Paulo
Empresário arrematou nome e moldes e montou fábrica em Três Lagoas
A 440 quilômetros da antiga e falida fábrica da Gurgel, em Rio Claro (SP), um X12 TR Tocantins renasce. Paulo Lemos, empresário de Presidente Prudente, adquiriu em 2004 o nome Gurgel por R$ 850. O registro da marca constava como extinto pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Agora, Lemos inicia os testes do protótipo do modelo que pretende lançar no primeiro semestre de 2008. Se estivesse nas lojas hoje, o empresário estima que custaria menos de R$ 40 mil.
Com motor 1.4 flexível da Volkswagen disposto na traseira - o mesmo da Kombi -, o Tocantins mostrou bastante vigor nos 84 cv de potência (o anterior, VW 1.6 a ar rendia 60 cv). Ajustes por conta de vibrações e ruídos estão previstos para esta fase de avaliação do protótipo.
A transmissão é de quatro marchas. Falta precisão na troca e os engates são ásperos. O módulo eletrônico de aceleração no lugar dos cabos, apesar de reduzir emissões e otimizar o torque, pouco contribuiu para reduzir vibrações e barulhos.
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Para receber o radiador na dianteira, o pára-choque ficou maior e a frente, mais robusta, onde se destaca o novo logotipo. Inspirado no desenho original, o símbolo da Gurgel em azul tem agora a cor amarela, em referência à bandeira nacional.
Por dentro pouca coisa mudou e o Tocantins mantém o estilo rústico dos carros feitos entre 86 e 89. A maior evolução foi no painel, que recebeu hodômetro digital e conta-giros. Para manter a originalidade do projeto, a manivela do vidro permanece. O teto continua baixo e pode incomodar motoristas com mais de 1,70 m. O estepe continua na traseira, com leves mudanças. Ele roda com pneus de uso misto no tamanho original (aro 14¨), mas Lemos estuda o uso de medidas 15¨ ou 16¨.
Outro recurso que não mudou - esse muito útil - é o sistema manual de bloqueio do diferencial. O funcionamento é simples: se alguma das rodas patinar, o motorista pode bloqueá-la por alavancas e o diferencial passa a tracionar a roda oposta.
Chassi em aço inox
Raros de se ver nas ruas atualmente, os carros Gurgel são conhecidos como autênticos nacionais. Deixaram de ser feitos nos anos 90 e carregam em sua identidade o sonho do criador, o engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, homem de personalidade forte e idéias marcantes e enfermo desde a derrocada dos negócios.
O novo dono da marca, Paulo Emílio Freire Lemos, de 39 anos, é do interior de São Paulo. Trabalhou por um tempo com a família no ramo da pecuária, e depois de fracassar em um negócio próprio foi para a China. Voltou ao Brasil em 98 trazendo de lá um triciclo - veículo de baixo custo e fácil montagem para ser utilizado em pequenos negócios rurais. Interessado pelo ramo automotivo conheceu pela internet o engenheiro brasileiro que idealizara o carro nacional. Em cinco dias ele se tornou o novo dono da marca Gurgel.
Com o apoio do governo do Mato Grosso do Sul e da prefeitura de Três Lagoas e um investimento pessoal de R$ 3 milhões, o empresário resolveu trazer de volta o X12 TR Tocantins. E garante: ¨As 300 primeiras unidades já têm dono.¨
Lemos adquiriu os moldes do Tocantins arrematados em leilão da massa falida e continuará a usar o composto de aço e fibra de vidro para a carroceria. Para assegurar a garantia contra corrosão, no lugar do aço comum fará uso de aço inox.