Pequeno, mas equipado 28/03/2015
- Mauro Zafalon - Folha de S.Paulo
A era da enxada já era. Ou pelo menos já foi o tempo em que esse era o instrumento básico para a agricultura, principalmente a familiar.
"Sem tecnologia, não há rendimento, e, sem rendimento, não há como se manter atuante na agricultura."
A afirmação é de Braz Albertini, presidente da Fetaesp (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado de São Paulo).
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Albertini diz que a agricultura não tem tamanho e que a tecnologia tem de estar a serviço de todos. "Já se foi o tempo da enxada", diz ele.
De olho nesse segmento, responsável pela maior parte dos alimentos que chegam à mesa dos consumidores, as indústrias de máquinas começam a levar tecnologia de ponta a esses produtores.
Um privilégio antes dos grandes produtores -e acoplados em tratores de maior potência-, GPS, piloto automático e cabines começam a fazer parte do maquinário utilizado na agricultura familiar.
As indústrias do setor apontam que a união das novas tecnologias às máquinas dos pequenos é uma tendência daqui para a frente.
A New Holland começou a comercializar, neste mês, um trator que sai da fábrica com esses acessórios e que entrou dentro do programa de financiamento do "Mais Alimentos" do governo federal.
"A empresa percebeu que a nova geração de pequenos produtores tem grande interesse pela agricultura de precisão", diz Rudimar Rigo, gerente da New Holland.
Uma das vantagens para os pequenos produtores é que podem adquirir esse novo equipamento com taxa de juros de 2% ao ano, com carência de até três anos e prazo de pagamento de dez.
Com valor de R$ 121 mil, esse trator está dentro do teto máximo de R$ 150 mil de financiamento do programa.
A agricultura de precisão dá ao produtor um conhecimento melhor de sua propriedade e eleva a produtividade. As novas tecnologias permitem que se faça um mapa do solo e indicam a necessidade de nutrientes no terreno.
É possível ainda uma definição da quantidade e da profundidade das sementes a serem semeadas. O resultado é uma produtividade maior.
O controle exato das aplicações de fertilizantes, fungicidas, herbicidas e inseticidas também reduz custos.
A aplicação de tecnologia se torna indispensável hoje não só para elevar a produtividade mas para manter a uniformidade e a qualidade dos produtos, diz Abertini.
"Estamos longe de um padrão definido do produto oferecido ao consumidor, como ocorre nos EUA e na Europa, mas precisamos chegar lá."
A agricultura, inclusive a familiar, torna-se uma atividade cada vez mais difícil. "Só vai sobreviver quem tiver acesso à tecnologia", diz.
Um dos pontos importantes da utilização da tecnologia na agricultura familiar é que ela vai garantir a permanência dos jovens no campo.
Mas, para que isso ocorra, é necessário uma organização da produção e da comercialização. E essa organização tem de ter participação efetiva dos governos municipal, estadual e federal, além de cooperativas, segundo Albertini.
Para ele, a produção da agricultura familiar tem de chegar aos supermercados e, para isso, é necessário escala. Essa organização pode ser feita pelas cooperativas.
Rigo, da New Holland, diz que a opção da empresa pela colocação da tecnologia de precisão à disposição da agricultura familiar é porque "os filhos desses produtores passam a cuidar dos negócios da família e têm consciência da importância da tecnologia".