O agronegócio, que praticamente carregou o PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos dois anos, com taxas robustas de expansão, está sob risco de perdas diante da escassez de crédito, juros mais altos e da disparada do dólar ante o real.
Diante da dificuldade de acesso a novos financiamentos, produtores rurais já atrasam a compra de insumos para a próxima safra.
Levantamento feito pelo Broadcast, serviço de notícias tempo real da Agência Estado, com dados do Banco Central mostra que a queda de contratações para custeio no primeiro quadrimestre do ano foi de 18,86% em comparação a igual período de 2014.
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O desempenho do crédito foi influenciado, entre outros fatores, pela menor captação da poupança rural e por uma retração dos depósitos à vista -- principais fontes para o financiamento do agronegócio.
De janeiro a abril do ano passado, o sistema financeiro havia feito R$ 19,921 bilhões em contratos de crédito rural voltados para o custeio. Este ano, no mesmo período, essa cifra foi de R$ 16,164 bilhões.
Os dados do BC mostram que o financiamento que usa fundos da poupança rural, por exemplo, encolheu 26,97%, passando de R$ 10,388 bilhões para R$ 7,586 bilhões, valores referentes apenas a contratos de custeio.
Nos financiamentos que têm como fundo os depósitos à vista, o tombo foi de 23,40%, passando de R$ 8,279 bilhões para R$ 6,342 bilhões no período.
De acordo com o Banco Central, esses valores estão contratados e são classificados como crédito aberto à disposição do tomador, o que não significa que eles foram totalmente concedidos.
Ou seja, a liberação efetiva para o produtor na agência bancária pode ser ainda menor do que os dados revelam.
"O crédito não está aparecendo na ponta, para o tomador. Já existe atraso na aquisição de insumos. Essa compra já deveria estar acontecendo, mas não foi por falta de crédito", disse o presidente da Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso), Ricardo Tomczyk.
MENOS CONTRATOS
No Banco do Brasil, instituição que detém fatia em torno de 70% do mercado de crédito rural, os contratos chegaram ao menor nível para abril desde 2013, somando R$ 2 bilhões para custeio.
Em abril do ano passado, o custeio para agricultura e pecuária havia somado R$ 3,79 bilhões. Em abril, o BB detinha 66,65% dos contratos de custeio.
André Nassar, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, afirma que a maior dificuldade do setor gira em torno dos recursos para o fim da safra, dinheiro classificado como pré-custeio e que é usado pelos agricultores para comprar insumos antes do início da safra agrícola.
"Não foi possível tornar viável o pré-custeio. Este ano não existe esse dinheiro. Os juros subiram e os depósitos (funding) caíram, o que gerou um estrangulamento", explicou o secretário.
CUSTO ELEVADO
Sérgio Bortolozzo, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), disse que, na prática, ainda não existe linha de pré-custeio e as taxas de juros apresentadas aos produtores foram contestadas pela entidade.
O custo do crédito foi considerado demasiadamente elevado.
"Isso tem nos incomodado. Os custos de produção têm subido e esse câmbio, que é favorável para a venda do nosso produto, se continuar subindo, vai se tornar impeditivo para a compra do insumo. Por isso precisamos comprá-los o quanto antes", relatou.
O Banco do Brasil divulgou seu balanço financeiro esta semana e o único segmento cujas projeções de desempenho para 2015 não foram alcançadas foi o de agronegócio.
De acordo com a instituição, os financiamentos para o setor devem crescer de 10% a 14% neste ano.
No primeiro trimestre, porém, o avanço ficou em 9%, abaixo da expectativa. O BB explicou, em relatório, que houve menor volume contratado na linha de crédito agroindustrial na comparação em 12 meses.