Para justificar as obras, safra de MT teria que quadruplicar 26/06/2015
- DIMMI AMORA E VALDO CRUZ - FOLHA DE S.PAULO
Para justificar todas as obras do novo plano de concessões para escoar os grãos do Centro-Oeste, a produção em Mato Grosso –a maior da região– precisaria mais que quadruplicar.
São ao menos cinco diferentes novos caminhos planejados para levar a diferentes portos a produção nacional. Um deles já está em operação e os outros quatro estão previstos no novo programa do governo (duas ampliações e dois projetos novos).
Segundo assessores presidenciais e especialistas do setor, na prática será impossível leiloar todos os novos trechos. Alguns inviabilizam os outros comercialmente, mas todos foram incluídos no programa por uma decisão da presidente Dilma.
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Para compensar o custo de implantação sem subsídios, estudos do próprio governo apontam que uma nova ferrovia precisa transportar ao menos 50 milhões de toneladas/ano -- o equivalente a toda a produção prevista para este ano em Mato Grosso.
Hoje, a maior parte da produção de grãos do Estado (cerca de 65%) segue de caminhão até o Sul/Sudeste, o que tem custo elevado, cerca de R$ 185/tonelada. Outra parte (cerca de 20%) é escoada por ferrovia, em uma linha que começa em Rondonópolis (MT) e vai até Santos (SP), com preço um pouco mais baixo (R$ 160/tonelada).
Os 15% restantes vão para portos no Norte, divididos em barcaças, caminhões e trem. Como só há um caminho ferroviário, os produtores reclamam de preços altos.
A linha de trem já existente é da ALL, que faz obras para aumentar a quantidade de produtos transportados, hoje em 13 milhões de toneladas/ano do Centro-Oeste.
ALTERNATIVAS
Outros três caminhos de ferrovia foram incluídos no programa de concessão, sendo um deles uma ampliação.
O mais famoso é a Ferrovia Bioceânica, que começaria no Brasil e terminaria no Peru. No atual programa, há previsão de fazer os trechos entre Goiás e Acre.
O início da Bioceânica em Goiás seria num entroncamento com a Ferrovia Norte-Sul, que também deve ser ampliada pelo programa, com o intuito de aumentar o escoamento agrícola, hoje em 3 milhões de toneladas/ano num pequeno trecho entre Palmas (TO) e Açailândia (MA).
O plano é construir novo trecho entre o Maranhão e o Pará -- onde há portos que estão sendo preparados para receber grãos -- que seria administrado em conjunto com o trecho já pronto que liga Palmas (TO) a Anápolis (GO).
Para o Brasil, a Bioceânica seria uma forma de conseguir recursos para fazer o trecho que importa –da Norte-Sul e até Mato Grosso.
O fato é que esses dois projetos (ampliação da Norte-Sul e a Bioceânica) dificultam a implantação de outra ferrovia do plano: a de Lucas do Rio Verde (MT) a Miritituba (PA). Chamada de Ferrogrão, a obra é do interesse de comercializadoras agrícolas.
Multinacionais do Brasil, EUA e União Europeia estudam construir essa via por acharem que é o caminho mais curto, rápido e barato para escoar os grãos.
Mas a Ferrogrão enfrenta outro opositor de peso: a Odebrecht, que tem a concessão da rodovia do trecho matogrossense da BR-163, que corre paralelo à Ferrogrão.
O governo autorizou a empresa a estudar a concessão da estrada também no Pará –- ou seja, o quarto projeto para escoamento dentro do programa. Mas a concorrência de uma ferrovia pode reduzir sua viabilidade.