Pesquisadores descobrem provável causa da soja louca 2 26/06/2015
- Mauro Zafalon - Folha de S.Paulo
Pesquisadores da Embrapa e da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) desvendaram as prováveis causas da soja louca 2.
O resultado dessa pesquisa foi apresentado no 7º seminário de soja da Embrapa, realizado nesta semana em Florianópolis (SC).
Ao provocar uma anomalia na planta, que até então intrigava os pesquisadores, a soja louca traz grandes estragos aos produtores nas regiões afetadas.
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A doença impede que a planta produza vagens e termine o ciclo produtivo.
As consequências são perdas de produção de até 100% em algumas áreas de campo.
Além disso, o fato de a soja não terminar o ciclo faz com que ela saia do campo com muita impureza quando colhida, elevando os descontos na hora de o produtor entregar da oleaginosa para os compradores.
A chamada soja louca 2 -- uma nomenclatura que os pesquisadores querem mudar, devido à conotação ruim que traz para o produto -- tem origem no nematoide Aphelenchoides sp.
Os nematoides são vermes de solo, mas, nesse caso da soja louca, estão na parte aérea das plantas, explica a pesquisadora Luciany Favoreto, da Epamig.
É a primeira vez que esse nematoide, já conhecido em culturas de arroz, crisântemos, amendoim, morango e feijão (neste último caso na Costa Rica), é detectado em lavouras de soja.
A descoberta é importante, mas o pesadelo dos produtores ainda vai continuar enquanto não forem encontrados meios de combatê-lo.
Favoreto, especialista nesse nematoide, diz que são aproximadamente 180 espécies apenas desse gênero.
Pior ainda, há relatos que ele possa viver até 11 anos em sementes.
MULTIPLICAÇÃO RÁPIDA
Além disso, a multiplicação é muito rápida.
"Em um ambiente ótimo", ele se multiplica por 250 em 30 dias, afirma a pesquisadora.
Quando privado de alimentos e de condições ideais de sobrevivência, ele reduz o seu metabolismo até encontrar de novo as condições para alimentação.
Detectado o problema, Maurício Meyer, da Embrapa Soja, diz que agora vão surgir vários trabalhos relacionados ao assunto, inclusive no exterior.
O pesquisador afirma, no entanto, que poderá haver uma especulação desenfreada, com sugestões e vendas de "qualquer coisa" para o combate dessa doença.
Essa descoberta é a ponta do "iceberg". Já as medidas de controle vão exigir muitos estudos, segundo os pesquisadores.
Para eles, um dos pontos básicos será a adoção de novas formas de manejo.
A soja louca se desenvolve em áreas com intensidade maior de chuva e de temperaturas elevadas.
Essas condições são encontradas no Maranhão, no Tocantins, no Pará e no norte de Mato Grosso.
ÁGUA
O nematoide necessita de água para se mover, e nessas regiões há uma incidência maior de chuvas no período do plantio da soja, explica Meyer.
Uma das saídas para o combate ao nematoide é o gradeamento da área antes do plantio.
Essa prática não é recomendada, no entanto, pelos pesquisadores.
Remover a terra é bom para o combate dos nematoides que atacam a planta na parte aérea, mas também espalha os de solo por uma área maior do terreno.
Além disso, para resolver um problema imediato, o produtor perde os benefícios de uma sustentabilidade futura, segundo os pesquisadores.
A chegada da soja RR pode ter auxiliado o desenvolvimento da soja louca.
Mas o problema não é a nova tecnologia, mas a mudança de hábito dos produtores, que "ficaram mais tranquilos com o mato na lavoura".
Essa vegetação traz condições favoráveis para o desenvolvimento do nematoide.
Para evitar esse ambiente favorável à doença, Meyer recomenda que os produtores façam a dessecação das pragas dez dias antes do plantio.
Os estudos dessa anomalia na soja ocorrem desde os anos 1970, quando se atribuíam como causas ácaros e vírus.
Essas hipóteses, no entanto, foram descartadas, aponta o pesquisador da Embrapa.