Brasil e EUA jogam fichas de visita oficial em declaração sobre o clima 30/06/2015
- PATRÍCIA CAMPOS MELLO E LUCIANA COELHO - FOLHA DE S.PAULO
Em um passo decidido na última hora para produzir uma agenda positiva em sua visita oficial aos EUA, a presidente Dilma Rousseff deve anunciar nesta terça na Casa Branca, após seu encontro com o presidente Barack Obama, que o Brasil reduzirá a zero o desmatamento ilegal em seu território até 2025.
Ambientalistas estimam que a maior parte do desmatamento que ocorre no país, historicamente, seja ilegal.
O anúncio, considerado um grande avanço pelo governo, faria cumprir a atual legislação -- no prazo de dez anos -- e deixaria o país em patamar próximo ao dos que assinaram, em 2014, a
Declaração de Florestas de Nova York, com o compromisso de acabar com todo tipo de desmatamento até 2030.
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Após a reunião no Salão Oval, Dilma proporá também metas específicas de manejo sustentável, reflorestamento e uso de energia renovável.
Em entrevista a jornalistas em Washington, o chanceler Mauro Vieira afirmou que "a declaração (dos presidentes) terá números e metas; foi muito bem negociada entre os dois países e é sólida".
A prioridade do presidente Obama era um anúncio com o Brasil de metas de redução de emissões, em antecipação à conferência do clima de Paris, no final do ano.
Embora o anúncio fique aquém do que desejava da Casa Branca, que queria um acordo semelhante ao feito com a China, ele é mais ambicioso do que o governo brasileiro pretendia e visto como "agenda positiva" para Dilma em um momento de pressão política para o governo.
COCO COM BANANA
Ontem, Dilma fez uma visita de menos de cinco minutos ao memorial ao líder dos direitos civis Martin Luther King, na capital americana, com Obama e a filha, Paula Rousseff.
Às 18h, jantou com Obama no Blue Room da Casa Branca, acompanhada por Vieira e pelos ministros Jaques Wagner (Defesa), Joaquim Levy (Fazenda), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Nelson Barbosa (Planejamento) e Kátia Abreu (Agricultura).
Do lado americano, Penny Pritzker (Comércio), Ernst Moniz (Energia) e o vice-chanceler, Tony Blinken (o titular, John Kerry, estava na Áustria).
Comeram bruschetta de berinjela, salada caprese, cordeiro grelhado e cuscuz de couve-flor, além de salada de espinafre e bolo de banana e coco com sorvete de café.
A visita de Dilma a Washington seria realizada em outubro de 2013, mas foi cancelada ao vir à tona que a presidente brasileira era espionada pela Agência de Segurança Nacional dos EUA.
Muitos dos acordos que serão anunciados nesta terça seriam apresentados em 2013, mas foram paralisados.
As relações bilaterais ficaram congeladas no período, e a visita atual tenta resgatar o diálogo entre os dois países.
Os americanos conseguiram acordos de cooperação militar, mas não o acordo de Céus Abertos, que liberaliza rotas aéreas.
Já o Brasil não terá o apoio dos EUA, que já se manifestou a favor da Índia no passado, em sua ambição por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, caso ele seja reformado.
Deve ser mantida a linguagem de 2012, sem compromisso com o pleito brasileiro.
Segundo a Folha apurou, os americanos teriam argumentado que o Brasil teria de mostrar "mais cooperação com os EUA nos foros multilaterais, como Conselho de Segurança e Direitos Humanos, em relação a Irã e Síria" antes de ter seu endosso.