Fazer mais sexo não traz mais felicidade, diz estudo 01/07/2015
- CLÁUDIA COLLUCCI - FOLHA DE S.PAULO
Não é de hoje que pesquisadores fazem associações mirabolantes entre sexo e felicidade.
Uma das mais bizarras foi feita por economistas a partir de uma pesquisa com 16 mil americanos adultos.
Segundo eles, aumentando a frequência das relações sexuais (de uma por mês para uma por semana) a pessoa conseguiria um aumento de felicidade proporcional ao que sentiria se tivesse US$ 50 mil a mais na conta bancária...
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Na verdade, olhar mais acurado sobre esses estudos deixa claro que não é possível estabelecer essa relação de causa e efeito que as pessoas tanto adoram.
A associação entre sexo e felicidade até existe mas pode ser por um motivo bem mais raso: pessoas que se dizem mais felizes tendem a fazer mais sexo.
Simples assim.
Para estabelecer o chamado nexo de causalidade, seria preciso que os cientistas fizessem um estudo controlado, comparando casais que fazem sexo com mais frequência com aqueles "mais devagar".
Depois, verificariam o grau de felicidade nos dois grupos.
Não é que uma pesquisa dessas aconteceu e será publicada na edição de agosto do "Journal of Economic Behavior & Organization"?
Foi assim: os pesquisadores da Carnegie Mellon University recrutaram 64 casais adultos, todos casados e heterossexuais.
Em seguida, quiseram saber sobre a frequência sexual dos voluntários, o quanto agradável era e, por fim, o quanto se sentiam felizes em geral.
Todas as respostas foram baseadas em questionários padronizados que medem o humor e energia.
Metade dos casais, escolhidos aleatoriamente, continuou transando como de costume. A outra metade foi orientada a dobrar a frequência das relações sexuais.
Por exemplo, se eles fizessem sexo uma vez por mês (a taxa mínima para a inclusão no estudo), passariam a fazê-lo duas vezes.
Casais que tivessem relações sexuais três vezes por semana (a taxa máxima para os participantes) foram orientados a passar para seis.
Todos os participantes também foram incumbidos a preencher um questionário on-line diariamente durante o experimento (de 90 dias) sobre a quantidade e a qualidade do sexo no dia anterior e os seus estados de humor subsequentes.
Alguns casais no grupo experimental conseguiram duplicar a taxa de relações sexuais, e, em média, houve um aumento de 40%.
Tornaram-se mais felizes?
Não.
Na verdade, o bem-estar até diminuiu, especialmente em relação às medidas de energia, entusiasmo e qualidade do sexo.
Tanto homens como mulheres relataram que a relação sexual adicional não foi muito divertida.
Os resultados surpreenderam alguns dos pesquisadores
Mas não George Loewenstein, professor de economia e psicologia, que liderou o estudo.
"Parece que, se você está tendo sexo por uma razão diferente daquela 'eu gosto e quero ter sexo', você pode comprometer a qualidade das relações sexuais e do seu estado de espírito."
A lição que se deve tirar daí, segundo ele, é: concentre-se na qualidade e não na quantidade.
A conclusão lhe parece óbvia ou inútil?
Pode ser.
Mas levando em consideração que a frequência sexual continua sendo uma fonte de preocupações, dúvidas e inseguranças em um bom número de casais, vale a pena a discussão.
Há muita conversa fiada em torno do tema.
Muita gente que, ao se comparar com a quantidade dita pelos outros, fica em dúvida se a sua vida sexual é boa ou ruim.
A frequência sexual é um assunto que deve ser pactuado apenas entre o casal, não precisa ser ajustado às estatísticas.
O que interessa é o desejo e a necessidade de ambos.
Descompassos existem e muitos.
Daí a necessidade de falar abertamente sobre sexualidade com o companheiro ou a companheira, da mesma forma que se fala sobre os demais temas da vida.
Em se tratando de sexo, a pergunta não deveria ser quanto é o normal, mas se estou satisfeito com o que tenho.