Câmara aprova redução da maioridade para crimes graves 01/07/2015
- Gabriel Castro - Veja.com
Em uma decisão histórica, embora reversível, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira uma proposta que permite a punição criminal de adolescentes a partir dos 16 anos em casos de crimes graves.
O resultado da votação é uma vitória pessoal do presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) -- que, sob protestos do PT e de outros partidos contrários à medida -- reverteu a derrota de uma proposta semelhante horas antes.Houve 323 votos favoráveis, 155 contrários e duas abstenções.
O texto aprovado é um pouco mais brando do que o rejeitado na madrugada desta quarta, o que foi suficiente para que alguns parlamentares passassem a apoiar a redução e a emenda apreciada ultrapassasse o mínimo necessário de 308 votos.
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A proposta mantém a redução da maioridade nos casos de crimes graves contra a vida, como homicídio, estupro, sequestro, lesão corporal grave, lesão corporal seguida de morte e exploração sexual infantil.
Os adolescentes de 16 e 17 anos que praticarem tráfico de drogas, roubo qualificado, tortura e terrorismo não serão mais incluídos no sistema criminal: para eles, valerá a regra atualmente em vigor.
A proposta ainda depende aprovação em segundo turno na Câmara dos Deputados e do aval do Senado, onde a votação deve ser ainda mais acirrada.
Em todos os casos, é preciso ter 60% do total de deputados ou senadores para que a proposta de emenda à Constituição (PEC) avance.
A votação foi precedida de queixas de deputados
contrários à mudança na legislação.
Eles afirmavam que Eduardo Cunha desrespeitou o regimento ao trazer o tema novamente à pauta horas depois da rejeição de uma proposta semelhante.
Parlamentares do PT e de outras siglas de esquerda afirmaram que houve um"golpe".
O caso deve chegar ao Supremo Tribunal Federal.
"Se vossa excelência quer administrar o parlamento brasileiro por decreto ou de ofício vossa excelência tem que apresentar um projeto para que só vossa excelência determine as decisões a serem adotadas", disse Glauber Braga (PSB-RJ).
Cunha e os defensores da nova emenda argumentaram que o regimento permite que, após a rejeição de um substitutivo, a Câmara aprecie uma proposta alternativa, desde que ela esteja baseada no texto original.
No caso, a proposta-base é a que reduz a maioridade para 16 anos em todos os casos.
Foi sobre essa proposta que o deputado Laerte Bessa (PR-DF) construiu seu substitutivo derrotado na terça.
Na discussão de mérito, o PT e o governo insistiram no argumento de que a redução nada fará para reduzir a criminalidade.
O líder do governo, José Guimarães (PT-CE), pediu mais tempo para a construção de um "entendimento":
"O caminho é a reforma do ECA, principalmente naqulo que é fundamental, que é a ressocialização", afirmou.
Já o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), defendeu a aprovação da medida:
"A proposta é equilibrada e restrita. É a resposta pela qual a sociedade anseia porque não aceita mais a impunidade", afirmou.