Defesa de Odebrecht tem até esta segunda para esclarecer anotações 27/07/2015
- Adriana Justi - G1-PR
O prazo para que a defesa do presidente da Odebrecht S.A., Marcelo Odebrecht, esclareça o conteúdo das anotações encontradas pela Polícia Federal (PF) no celular do executivo vence nesta segunda-feira (27).
De acordo com o juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, as anotações fazem referências a supostas manipulações nos trabalhos de investigação da PF e da Justiça Federal.
Moro estendeu o prazo até esta segunda a pedido dos advogados, que justificaram o pedido dizendo que precisariam falar com o próprio Marcelo para que ele esclarecesse os fatos.
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Preso desde 19 de junho, Marcelo Odebrecht ficou detido 36 dias na carceragem da Superintendência da PF, em Curitiba, e foi transferido junto com outros sete investigados da 14ª fase para o Complexo Médico-Penal em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, no sábado (25).
As várias mensagens também podem fazer referência a outros dois ex-executivos da Odebrecht, presos na 14ª fase da Lava Jato, quando Marcelo Odebrecht foi detido, segundo o juiz.
No smartphone do executivo, conforme o inquérito protocolado na terça-feira (21), foram encontrados os seguintes textos, transcritos no formato original, conforme a Justiça:
"MF/RA: não movimentar nada e reimbolsaremos tudo e asseguraremos a familia. Vamos segurar até o fim
Higienizar apetrechos MF e RA
Vazar doação campanha
Nova nota minha midia?
GA, FP, AM, MT, Lula? ECunha? (...)"
Uma análise preliminar sugere que MF e RA são siglas referentes a Silva e Araújo, subordinados diretos de Odebrecht e também investigados por crimes de corrupção na Petrobras, segundo o juiz Sérgio Moro.
A anotação, explica o juiz, indica que ambos estariam sendo orientados a não movimentar suas contas e que, no caso de sequestro e confisco judicial de bens e valores, seriam reembolsados.
"Considerando a aparente gravidade dessas anotações, antes de extrair as possíveis consequências jurídicas, resolvo oportunizar esclarecimentos das defesas dos executivos da Odebrecht, especialmente das de Marcelo Odebrecht, Márcio Faria e Rogério Araújo, acerca das referidas anotações", disse Moro ao justificar o pedido.
Celulares
O "higienizar" é para que os diretores limpem os dados dos celulares deles e, por consequência, destruam provas, ainda segundo Moro.
"Vazar doação" é algo que ainda não foi elucidado, mas parece ser uma ameaça a beneficiários, afirma o juiz.
Outros trechos a serem explicados, encontrados no celular do presidente da holding, também foram transcritos no despacho:
"(...) Assunto: LJ: ação JES/JW? MRF vs agenda
BSB/Beto
Notas Dida/PR/açoes MRF. Agenda (Di e Be). limp/prep
- Parar apuracao interna (nota midia dizendo que existem para preparar e direcionar).
- expor grandes
- para apuracao interna
- desbloqueio OOG
- blindar Tau
- trabalhar para parar/anular (dissidentes PF...) (...)".
LJ é referência à Operação Lava Jato, segundo a Justiça.
"O trecho mais perturbador é a referência à utilização de 'dissidentes PF' junto com o trecho 'trabalhar para parar/anular' a investigação", afirma o magistrado.
Moro ressalta que o termo "dissidentes da PF" coloca uma sombra sobre o significado da anotação.
Outras referências como "dossiê", "blindar Tau" e "expor grandes" são igualmente preocupantes, afirma o juiz.
Para ele, nada indica que os recados eram dirigidos às defesas e nem que eram originados de orientação dos advogados.
Mesmo assim, Moro diz "oportunizar" as defesas para que esclareçam as anotações "graves", já que, pelo sigilo profissional que é de direito, estratégias ilícitas, como a destruição de provas, poderiam ser acobertadas pelos advogados.
Denúncia
Marcelo Odebrecht e outros 21 executivos da construtora Odebrecht e da Andrade Gutierrez investigados na Operação Lava Jato foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) na sexta-feira (24).
Na denúncia, também aparecem os nomes do doleiro Alberto Youssef, do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, do ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque e do ex-gerente de Serviços Pedro Barusco.