Acordos de redução de salário e jornada dobra em julho 19/08/2015
- LUCAS MORETZSOHN - O GLOBO
O agravamento da crise econômica vem levando mais trabalhadores a aceitarem reduzir seus salários e jornadas para manter seus empregos. É o que mostra o boletim Salariômetro da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Em julho, 27 empresas realizaram acordos nesse sentido, quase o dobro do mês anterior, quando foram registrados 14 acordos. No total do ano, já são 65 acordos prevendo corte de salário -- ou seja, 63% concentrados entre junho e julho.
— Esses acordos são prática recorrente em momentos de crise. A alternativa que as empresas oferecem é a demissão, então eles preferem perder o anel do que o dedo — afirma Hélio Zylberstajn, coordenador da pesquisa.
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Segundo ele, essas negociações não se enquadram no Plano de Proteção ao Emprego (PPE), criado pelo governo em julho e que permite a redução da jornada de trabalho, com corte dos salários em até 30%.
Mas, para o trabalhador, esse corte será, efetivamente, de 15% do salário, já que o governo se compromete a usar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para bancar metade da parcela do salário que for cortada.
O prazo de adesão ao PPE começou em 22 de julho e a expectativa do governo é que 50 mil trabalhadores sejam incluídos.
De acordo com o estudo da Fipe, em negociações centralizadas, ou seja, por meio de sindicatos, os trabalhadores conseguiram aumentos salariais médios de 4,4% -- situação melhor que a dos trabalhadores que tiveram redução de jornada e salário, mas, mesmo assim, perdendo da inflação: o INPC acumula 9,3% nos últimos 12 meses, o que resulta em queda real de 4,9%.
— O trabalhador recebe um valor abaixo da desvalorização do salário dele. Ele não consegue repor o poder de compra de um ano atrás. Isso se deve à recessão. As pessoas não compram, as empresas vendem menos e tendem a demitir. Com isso, o desemprego cresce e o poder de barganha diminui — analisa Zylberstajn.
Com base em valores obtidos com o Ministério do Trabalho, o relatório mostra ainda que o piso salarial médio negociado no mês passado foi de R$ 1.033, 31% a mais que o salário mínimo de R$ 788, quase R$ 250 acima.
O valor avançou frente a junho deste ano, quando o piso foi negociado em R$ 998.
De acordo com os dados da folha de pagamento do setor celetista (que segue as regras da CLT), a massa salarial apresentou queda pelo terceiro mês consecutivo, somando R$ 93,55 bilhões em valor dessazonalizado.
Em 12 meses encerrados em maio, a folha salarial registrou redução de 1,9% em maio e o relatório indica que a tendência de queda real continuou em julho.
— A inflação está muito alta. Hoje a empresa não consegue dar um aumento de salário de 9%, então, ela procura dar menos do que a inflação, o que reflete nesses números. — diz Zylberstajn.
CEARÁ TEM MAIOR AUMENTO REAL DE SALÁRIOS
Os setores de administração pública e limpeza urbana, asseio e conservação apresentaram os maiores aumentos reais na comparação de 12 meses, com 2,88% e 2,27% respectivamente, seguidos dos salários dos trabalhadores de estacionamentos e garagens (1,97%), bancos e serviços financeiros (1,77%) e condomínios e edifícios (1,64%).
Em contrapartida, o salário de funcionários de empresas jornalísticas apresentou o menor aumento real positivo, com 0,09%.
Já a remuneração de trabalhadores da indústria cinematográfica e do setor de artefatos de borracha sofreu queda real de 0,01% e 0,02%.
A maior delas foi registrada no setor de agronegócio de cana, com 0,36%.
Na comparação regional, o Ceará registrou maior aumento real dos salários nos últimos 12 meses, com taxa de 1,25%.
Em seguida, o relatório lista o aumento real nos estados de Alagoas e São Paulo, a 1,22% e 1,15%, na mesma ordem.
Paraná e Sergipe apresentaram índice de 1,13% igualmente.
Amapá e Acre registraram queda real de 0,20% e 0,18%, respectivamente.
O maior piso salarial negociado nos últimos 12 meses foi para funcionários de bancos e do setor financeiro, a R$ 1.295, seguido da indústria cinematográfica (R$ 1.190) e do setor de energia elétrica (R$ 1.160).
As categorias estacionamento/garagens e vestuário registraram os menores pisos, com R$ 863 e R$ 875, respectivamente.
Entre as unidades federativas, São Paulo e Paraná apresentaram o maior piso de R$ 1.077, seguidos de Santa Catarina, Distrito Federal e Goiás, com R$ 1.051, R$ 1.026 e R$ 1.021. Os menores foram registrados no Rio Grande do Norte (R$ 870), Bahia (R$ 872), Acre (R$ 881), Amapá (R$ 890) e Amazonas (R$ 901).
O relatório também projeta a taxa de inflação até janeiro de 2017, tanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) quanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), com base nos valores já registrados e nas previsões de analistas do mercado financeiro na pesquisa semanal Focus, do Banco Central.
Os dois índices devem se situar na faixa de 9% a 10% até janeiro de 2016, quando começam a decrescer até atingirem a faixa de 5% a 6% a partir de julho de 2016.