Dólar supera R$ 3,76 com preocupação fiscal, no maior valor desde 2002 02/09/2015
O dólar voltou a subir em relação ao real nesta quarta-feira (2) com investidores preocupados com a situação fiscal do Brasil, depois que o governo entregou ao Congresso nesta semana uma proposta de Orçamento para 2016 prevendo deficit primário de R$ 30,5 bilhões.
A medida elevou o temor de que o país perca seu selo de bom pagador atestado por agências internacionais de classificação de risco.
Às 15h40 (de Brasília), o dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, avançava 2,14%, para R$ 3,765.
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Este é, por ora, o maior valor da moeda desde 12 de dezembro de 2002, quando fechou cotado a R$ 3,790 (ou R$ 6,23 hoje, após correção inflacionária).
Já o dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou com valorização de 1,95% sobre o real, cotado em R$ 3,746 na venda -- também a maior cotação desde 12 de dezembro de 2002, quando valia R$ 3,791 (ou R$ 6,23 hoje).
A moeda chegou a valer até R$ 3,756 ao longo do dia.
Segundo operadores, o mercado segue alerta em relação à nota de risco do Brasil, que está ameaçada pela crise fiscal no país.
Na véspera, a analista Shelly Shetty, da agência de classificação de risco Fitch Ratings, sinalizou preocupação com o novo cenário das contas públicas para o próximo ano.
"Essas revisões [na meta de economia do governo para pagar sua dívida] colocam a tendência para obtenção de superavits primários muito abaixo do cenário-base usado pela Fitch em abril", disse.
Na época, a agência havia revisado a perspectiva do rating brasileiro para negativa, mantendo a nota "BBB" -- a penúltima classificação dentro da faixa considerada como grau de investimento.
A reunião de política monetária do Banco Central nesta quarta-feira também está no radar dos investidores.
A expectativa da maioria dos analistas é que a autoridade deverá manter a taxa básica de juros (Selic) em seu atual patamar, de 14,25% ao ano, uma vez que o país já está em recessão e o aperto monetário pode piorar a atividade econômica.
Nesta manhã, o indicador de produção industrial reforçou o pessimismo em relação à economia brasileira ao mostrar forte queda de 1,5% na passagem de junho para julho, na taxa livre das influências sazonais (como a diferença dos dias úteis do mês).
A atuação mais intensa do BC no câmbio não impediu a tendência de alta da moeda americana.
A autoridade deu início nesta semana à rolagem do vencimento de contratos de swaps cambiais previstos para outubro. A operação equivale a uma venda futura de dólares.
Se mantiver a oferta diária de até 9.450 papéis, o BC rolará até o penúltimo dia deste mês a totalidade de contratos com vencimento em outubro, que correspondem a US$ 9,458 bilhões.
Nos meses anteriores, a autoridade estava fazendo apenas rolagem parcial de swaps.
BOLSA
Depois de ter perdido força no final da manhã, o principal índice da Bolsa brasileira intensificou a alta na tarde desta quarta-feira, apoiado pelo bom humor nos principais mercados de ações no exterior. Às 15h40, o Ibovespa tinha valorização de 1,64%, para 46.223 pontos. O volume financeiro girava em torno de R$ 4 bilhões.
Com o movimento, o Ibovespa devolve parte da perda registrada nas últimas três sessões, quando acumulou desvalorização de 4,69%. Em Nova York, as Bolsas tinham ganhos acima de 1,2%, enquanto na Europa os principais índices acionários fecharam em alta de mais de 0,2%.
Os papéis preferenciais da Petrobras (mais negociados e sem direito a voto) chegaram a cair 3% e exercer pressão negativa sobre o Ibovespa pela manhã, mas inverteram a tendência durante a tarde, na esteira da retomada nos preços do petróleo no exterior. Às 15h40, subiam 1,16%, a R$ 8,69 cada um. Na véspera, essas ações cederam 6,5%.
Em sentido oposto, as ações da Metalúrgica Gerdau davam sequência às altas registradas nas últimas sessões e lideravam a ponta positiva do Ibovespa nesta quarta-feira, com valorização de 9,35%, para R$ 3,39 cada uma. O movimento também impulsionava os papéis de sua controlada Gerdau, que avançavam 7,13%, a R$ 5,86.