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DIA A DIA

Modelo de Lula e Dilma está errado, diz empresário que apoiava PT
05/10/2015 - JOANA CUNHA - FOLHA DE S.PAULO

Um dos primeiros empresários a apoiar o PT, nos anos 1980, Lawrence Pih, 72, diz que, na época, não imaginou que o "modus operandi" de se fazer política fosse universal.

Hoje, ele avalia que, embora Lula tenha maior talento político e seja mais pragmático do que Dilma, ambos representam um mesmo modelo, que está errado.

Pih, que acaba de vender o Moinho Pacífico (um dos maiores importadores de trigo e processadores do cereal do país), diz que, no momento, não vislumbra solução definitiva para a crise econômica do Brasil e que é preciso cortar gastos e melhorar a eficiência da máquina estatal.


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ENTREVISTA

O caminho que está sendo adotado para solucionar a crise é o correto?

- Atualmente, não há um caminho. O que está havendo é uma tentativa de equacionar um problema enorme com medidas paliativas. Não se vislumbra solução definitiva -- nem a possibilidade de uma.

O sr. concorda com o ajuste como está colocado? Mudaria?

- O que o Joaquim Levy [ministro da Fazenda] está fazendo não é suficiente. Reconheço que politicamente já é difícil, mas eu faria algo mais drástico. O ônus que o setor público impõe à Previdência é muito alto. Há tantos lugares em que é possível cortar gastos. Como é possível a nossa carga tributária bruta ser quase igual à de países desenvolvidos da Europa?

O que mais o governo Dilma deveria fazer?

- Cortar gasto. Apertar o cinto, tornar a máquina eficiente. Já que gastamos mais do que poderíamos, agora é a hora de consertar nosso balanço como país.

O investimento no Brasil é baixo. Se você não investir e tiver um universo de consumidores aumentando, vai preencher a distância entre produção e demanda pela importação, ou seja, gerando empregos fora do país.

O governo pode impor qualquer custo sobre as empresas. Aí, o empresário vai fazer o cálculo de custo, margem, risco do país e preço de venda. Ele pensa: tem demanda? Não. Segurança jurídica, previsibilidade, estabilidade cambial? Não. Tem juros estratosféricos? Tem. Custo trabalhista? Enorme. Conclusão: não vou investir.

Como se chegou a tal crise?

- Dois fatores possibilitaram o crescimento do Brasil desde que o PT assumiu o governo. Houve a explosão dos preços de commodities e o país conseguiu equacionar a dívida externa. Depois disso, o mundo estava crescendo em média 5% ou 6% ao ano. Tudo isso possibilitou investimento externo no Brasil.

Também teve muito mérito do governo FHC, que estabilizou a moeda. O Brasil entrou no vácuo do crescimento mundial e possibilitou o aumento do crédito. Com desemprego caindo e economia crescendo, a população se sentiu confortável em assumir mais dívida.

O Estado começou a gastar mais do que podia e sua participação no PIB cresceu muito, com gastos maiores do que o crescimento do PIB.

E o que é essa participação? Imposto. A carga tributária, que nos últimos anos do governo FHC estava em torno de 28% ou 29% do PIB, hoje está em 36% ou 37%. No cenário atual, é insustentável. Não estou analisando qualidade de gastos e importância da questão social. É importante ajudar os mais carentes. Entretanto, tem que lembrar se o auxílio é sustentável.

É tudo culpa da gestão Dilma ou tem raízes no passado?

- Não é questão de culpa. A população escolheu Lula em 2002 porque o governo de FHC não era popular naquele momento. Houve uma mudança de modelo, do Fernando Henrique, um pouco mais ortodoxo, para o modelo mais heterodoxo do PT. Esse modelo novo seguiu um pouco a linha do antigo para depois começar a implantar aquilo que lhe é caro ideologicamente e ter um tipo de socialismo keynesiano.

Os petistas têm admiração pela China. De fato, a China tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza, é a segunda maior economia do mundo. Só que o modelo de lá é totalmente diferente.

Na China não tem greve, não é democracia. É um partido só. O povo chinês está disposto a trabalhar 14 horas por dia. Aqui, achamos que oito horas é muito. O Brasil quer adotar algumas coisas do modelo chinês e outras do americano. Não funciona.

O que mudou de 2002 para cá?

- Surfamos uma onda de crescimento mundial, tiramos milhões da pobreza, gastamos mais do que podíamos para perpetuar o modelo socialista keynesiano.

Dilma chegou à Presidência simplesmente pela escolha de Lula. Imagino que Palocci e Dirceu eram candidatos antes do mensalão. Lula achou que o gestor eficiente, como era a imagem que se projetava da Dilma, seria adequado.

Mas a história dela é um pouco diferente da do Lula. Ele é um sindicalista, negocia com o setor patronal e entende um pouco do outro lado do balcão. Lula tem um talento político raro.

E se ele voltasse depois dela?

- Voltar ou não voltar não é o caso. Eu acho que o modelo está errado. O Lula é esse modelo. É um pouco mais pragmático, mas é esse modelo.

Ele andou falando em baixar a taxa de juros.

- Você não baixa juro por decreto. A Dilma fez isso. E deu no que deu. Economia tem lógica própria. Não se sujeita à vontade de um político ou outro. O mercado é soberano. Ele determina o sucesso ou o fracasso de uma economia.

Foram essas intervenções na economia que nos levaram à situação em que estamos?

- Exatamente. Você não pode rasgar, decretar a inexistência das leis da economia. Você até pode baixar os juros. O Tombini baixou para 7,25% a pedido da Dilma. Agora está em 14,25% e vai subir mais.

A saída de Dilma é o caminho?

- Impeachment é traumático. Pensam que se remove presidente do dia para a noite, mas não é tão simples. Não sou especialista, mas dizem que pode haver afastamento devido a pedaladas ou financiamento irregular de campanha. Essas coisas ocorreram no passado, mas nunca foi apurado. Os dois pontos são suficientemente graves? Essa primeira pergunta é técnica.

A segunda é política: ela tem condições de continuar governando sem levar o país ao caos? Quando o câmbio quase dobra em um ano, está instalado um grau de confusão grande.

Com ela na Presidência até 2018, como ficará o país?

- Se as coisas começam a se deteriorar no ritmo em que isso acontece desde janeiro, estamos em maus lençóis. Não é só uma questão técnica. É também política, sob o aspecto da governabilidade.

O sr. foi um dos primeiros empresários a apoiar o PT nos anos 1980. O que pensa hoje?

- Naquele momento, eu era visceralmente contra a ditadura. Via na elite brasileira um atraso, sentia que ela precisava de uma chacoalhada. E acreditei que o PT seria um caminho. Eu acreditava que eles tinham uma ideologia, consistência. Eram o único partido que tinha plataforma.

Eu achei que um novo modelo tinha de ser instituído. Não percebi que esse novo modelo tinha um viés tão fortemente socialista. Acreditei quando o Lula disse que tem 300 picaretas no Congresso. Não imaginei que o "modus operandi" fosse universal.

Com Aécio Neves estaríamos em melhor situação?

- É provável, porque o mercado o aceitaria melhor. E o Aécio perdeu por muito pouco. Se o PT não tivesse feito o marketing que a gente chama de "propaganda enganosa", o Aécio teria vencido.

Quem deve ser o próximo candidato do PT?

- Fora o Lula, não há neste momento outro candidato, a meu ver. O andamento das questões que poderiam ou não envolver o ex-presidente Lula vai determinar se eles têm ainda fôlego para ressuscitar.

Mas fico lembrando do Fernando Collor, que foi afastado e voltou como senador. E o Paulo Maluf? Está aí. O eleitor tem memória curta.

O sr. acaba de se desfazer de um investimento histórico no país. Quer investir de novo?

- Meu destino é no Brasil. Já enfrentei muitas crises aqui.

O país é muito maior que essa crise e que o governo. Governo é transitório. Quando as coisas vão de mal a pior, mudam o governo e a orientação política. Neste momento, precisamos fazer reformas estruturais: trabalhista, tributária, previdenciária, encolher o Estado, tornar o setor público mais eficiente.

Ou fazemos conscientemente ou o mercado determinará que o façamos. A Grécia é um bom exemplo. Não adianta essa ideologia socialista populista porque o modelo socialista populista, mais tempo menos tempo, começa a degringolar para um autoritarismo.

O modelo perfeito disso é a Venezuela, que, como o Brasil, tem recursos naturais enormes.

Pretende mesmo investir aqui? É teimosia ou resiliência?

- Sempre há oportunidade. Tenho três setores em foco: educação, saúde e infraestrutura. A população está envelhecendo e não vai parar de crescer. Vai demandar saúde, educação, moradia. Precisa de infraestrutura. O Brasil não vai desaparecer.

O sr. pensa em atrair investidores estrangeiros?

- É possível. Teremos caixa robusto. Eu te garanto: os investidores estrangeiros vão olhar risco e retorno. Os ativos no Brasil estão depreciados e vão se depreciar mais ainda.

É atrativo para o investidor entrar no Brasil com o dólar a R$ 4,22. O risco já é bem menor agora. Não que o risco de a situação piorar não exista. Existe. Mas boa parte já está precificada no câmbio.



RAIO-X LAWRENCE PIH

CARGO

Presidente do Grupo Pacífico

FORMAÇÃO

Graduado em filosofia pelo Lafayette College (EUA). Mestre em filosofia pelo Four-College PhD Program, pela University of Massachusetts

LIVRO

Autor de "Réquiem para um Capitalismo em Agonia"


  

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