Polêmicas e novidades: a trajetória de Osorio no São Paulo 07/10/2015
- GloboEsporte.com
Seduzido pela seleção do México, técnico sai do Tricolor após quatro meses em meio à crise política do clube para tentar disputar Copa do Mundo de 2018, na Rússia.
Juan Carlos Osorio decidiu trocar o São Paulo pela seleção do México. O treinador confirmou ontem a saída ao presidente Carlos Miguel Aidar, em meio à crise política do clube que culminou na saída do vice-presidente Ataíde Gil Guerreiro -- o dirigente caiu após agredir o mandatário, e o caso gerou uma série de demissões de outros diretores.
Agora, a oposição tenta se articular para isolar Aidar e forçar uma renúncia.
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O comandante admitia há algumas semanas a possibilidade de deixar o clube, em busca do sonho de treinar uma seleção na Copa do Mundo.
Ele poderá ter a chance se conseguir a classificação nas Eliminatórias da Concacaf para o torneio na Rússia, em 2018.
O São Paulo estuda quem poderá substituir o colombiano no cargo de treinador -- o uruguaio Diego Aguirre é um dos nomes, mas Milton Cruz pode assumir interinamente.
No total, Osorio comandou o São Paulo em 28 jogos, com 12 vitórias, sete empates e nove derrotas.
Durante os quatro meses de trabalho no Tricolor, o técnico colecionou momentos marcantes. Alguns deles abaixo:
RODÍZIO DO LORDE
Osorio foi recebido no São Paulo com festa. Na apresentação do dia 1º de junho, o clube exibiu um vídeo especial com imagens da sua despedida no Atlético Nacional, da Colômbia, pelo qual conquistou seis títulos em três anos.
Também mostrou uma imagem em que o colombiano aparecia com uma camisa do Tricolor, do ano de 1987.
Com fala pausada para tentar se fazer entender em português, idioma em que não é fluente, ele justificou logo de início o apelido de Lorde pela boa educação.
Nas primeiras palavras como treinador, elegeu o São Paulo como o maior desafio da carreira e confirmou o rodízio.
– É um grande desafio fazer os jogadores entenderem que o rodízio é um princípio do jogo. Não se compara jogadores por dinheiro ou por história. Isso se respeita. Mas o princípio é de que em um grupo de trabalho todos sejam importantes. Durante as finais, analisando o elenco, chegando à consistência, pois há jogadores muito mais importantes no elenco. (O rodízio) seguramente será um fator que tenho que pesar em um momento de decisão, mas sempre vou tentar errar o menos possível. Sempre vou pensar no adversário e em dar oportunidades a todos do grupo. Sem isso, não se pode promover jovens jogadores para o time.
OBSERVADOR
Do dia 1º a 8 de junho, Osorio praticamente só observou os trabalhos do auxiliar Milton Cruz e do preparador José Mário Campeiz.
As cinco sessões de treinos, além dos jogos contra Grêmio e Santos, tiveram pouca influência do colombiano.
A ideia foi entender a rotina do clube para depois implantar sua filosofia de trabalho, após a saída de Muricy Ramalho, em 6 de abril.
NO COMANDO
A partir do dia 10 de junho, Osorio mudou de postura e assumiu o comando dos treinamentos. Intensidade e jogo em progressão, com toques para frente, eram algumas das cobranças. O estilo ganhou elogios dos jogadores.
"JOSEF", "ALEXANDER", "RICARDO"
Os primeiros dias de trabalho de Osorio renderam inúmeros elogios dos jogadores. Souza, posteriormente negociado com o Fenerbahçe, destacou a humildade e a filosofia de trabalho do treinador, considerado "diferente de tudo o que vemos no Brasil".
Outros atletas como Alexandre Pato e Alan Kardec também o aprovaram.
Uma das curiosidades que chamaram atenção no início foi a preferência por se comunicar com os jogadores usando os primeiros nomes.
Souza virou Josef, Centurión passou a ser chamado de Ricardo, e Pato se tornou "Alexander", em referência ao nome Alexandre.
– Há três dias comecei a chamar cada um pelo seu nome. Dizem que o que é mais importante para o ser humano é o seu nome. Por isso, faço questão de chamar pelo primeiro nome – explicou o colombiano na ocasião.
AS FAMOSAS CANETAS
A principal peculiaridade no trabalho de Osorio foram as canetas guardadas nas meias do colombiano. Uma azul e uma vermelha.
Desde o início no São Paulo, elas eram assunto recorrente, por conta dos bilhetes escritos pelo treinador.
– Vermelho não é o que está errado, é o mais importante. E em azul eu escrevo o resto. Por último, isso eu não criei, quem me ensinou foi meu pai. Meu pai trabalhou em um laboratório farmacêutico, era um homem extraordinário e me ensinou desde muito pequeno: "Tem que escrever, porque é melhor um lápis pequeno do que uma memória larga".
A ESTREIA
Após acompanhar das tribunas a vitória sobre o Santos por 3 a 2, Osorio estreou no comando do São Paulo no dia 6 de junho, na partida contra o Grêmio.
Escalando o time no 4-5-1, ele viu o Tricolor fazer uma bela partida e vencer por 2 a 0, com gols de Luis Fabiano e Rogério Ceni, em cobrança de pênalti.
Na sequência, a equipe mostrou força fora de casa ao bater a Chapecoense por 1 a 0, resultado que colocou o time na liderança do Campeonato Brasileiro.
BAILE PARA O RIVAL
Após a euforia inicial, com duas vitórias seguidas, o São Paulo bobeou em casa ao empatar por 1 a 1 com o Avaí.
O primeiro grande teste para Osorio veio em 28 de junho, no clássico contra o Palmeiras, disputado na arena do rival.
jogo para o Tricolor pode ser dividido em duas partes.
Na primeira, a equipe se comportou muito bem, quase abriu o marcador em chute de Pato, que acertou a trave de Fernando Prass e perdeu duas chances com Michel Bastos.
No entanto, após o gol de Leandro Pereira, o time desapareceu em campo.
No final, uma goleada de 4 a 0, o que provocou muitas críticas do agora ex-vice de futebol, Ataíde Gil Guerreiro.
CRESCIMENTO DE ALEXANDRE PATO
Apesar da derrota por 4 a 0 para o Palmeiras, a partida realizada no estádio alviverde mostrou pela primeira vez Alexandre Pato em um novo posicionamento, aberto pelo lado esquerdo do ataque.
Isso foi fruto de uma conversa do treinador com o jogador, que cresceu muito de rendimento sob comando do colombiano. Tanto que atingiu o maior número de gols na carreira em um mesmo ano: 24.
Em várias coletivas, o treinador disse que seu atacante estava entre os melhores do mundo e o jogador retribuiu, ressaltando a importância do trabalho feito no dia a dia no CT da Barra Funda.
Após a saída confirmada, Pato fez agradecimento ao colombiano.
COMEÇA O DESMANCHE
Ainda no mês de junho, teve início o desmanche no São Paulo. Inicialmente, o treinador havia sido avisado que apenas Rodrigo Caio seria negociado para aliviar as contas do clube.
Só que a saída do atleta para o Valencia não deu certo. Houve uma segunda negociação com o Atlético de Madri, que também não vingou.
Como o clube estava atrasando o pagamento dos direitos de imagem de parte do elenco, a alternativa foi começar a vender jogadores.
Os primeiros foram Paulo Miranda e Denilson. Depois, até o final da janela de transferências, outros cinco foram negociados: Souza, Jonathan Cafu, Boschilia e Rafael Toloi, o último a sair.
Além disso, Dória, que era titular indiscutível na defesa, não teve seu empréstimo renovado. Ewandro também foi emprestado ao Atlético-PR.
Em uma entrevista coletiva, Osorio escancarou sua insatisfação e reclamou publicamente da diretoria.
ATLETAS RECLAMANDO PUBLICAMENTE
Com um estilo de trabalho diferente do normal no futebol brasileiro, Osorio implantou o rodízio no São Paulo e, a cada partida, mudava a escalação.
Isso começou a irritar alguns jogadores, que manifestaram publicamente seu descontentamento.
O primeiro foi Michel Bastos, que foi retirado do ataque para ser lateral-esquerdo contra o Fluminense.
Substituído no segundo tempo, o camisa 7 saiu de campo falando muitos palavrões.
Contra o Coritiba, Ganso deixou o gramado vaiado por 60 mil torcedores e, na saída de campo, não cumprimentou o treinador e ainda deu um bico em um copo de água.
Centurión usou sua conta em uma rede social para lamentar que era pouco aproveitado.
O treinador avisou em uma entrevista coletiva que não ligava para a reclamação dos atletas e que estava mais preocupado com seu trabalho no São Paulo.
Aos poucos, as reclamações foram diminuindo e Osorio conseguiu impor sua filosofia.
O CASO LUGANO
Quando o São Paulo perdeu Dória, Juan Carlos Osorio avisou que seria preciso repor a saída do ex-titular.
Nessa época, o empresário Juan Figer procurou o presidente Carlos Miguel Aidar oferecendo o zagueiro uruguaio Diego Lugano, ídolo da torcida.
O mandatário disse que seria preciso consultar o treinador, que vetou a chegada do gringo, o que causou revolta nas redes sociais.
Só que, para explicar sua decisão, Osorio aproveitou uma ida a Montevidéu, onde foi assistir a um jogo da Taça Libertadores, para conversar pessoalmente com o defensor e explicar os motivos de sua decisão.
O colombiano dizia que seria preciso contratar um beque que atuasse pelo lado esquerdo. Quem acabou contratado foi o desconhecido Luiz Eduardo, ex-São Caetano.
O INTERESSE DO MÉXICO
Em setembro, o treinador foi sondado pela primeira vez pela Federação Mexicana de Futebol (Femex), que estava à procura de um treinador para substituir Miguel Herrera.
O papo balançou Osorio que, em entrevista coletiva, revelou que o maior objetivo de sua carreira seria comandar uma seleção em uma Copa do Mundo.
Mas que, naquele momento, era cedo para falar sobre o futuro, já que seu foco estava voltado para o Campeonato Brasileiro e para a Copa do Brasil.
Os jogos foram passando, mas o treinador nunca abandonou a ideia de deixar o Tricolor, o que acabaria acontecendo no mês seguinte.
O que certamente ajudou o treinador a manter a ideia na cabeça foi o turbulento momento fora de campo vivido pelo Tricolor.
Além da questão política envolvendo o presidente Carlos Miguel Aidar e a oposição, o último episódio polêmico foi a contratação do zagueiro Iago Maidana, do Criciúma.
TREINADOR DIZ QUE NÃO CONFIA NA DIRETORIA
Com a oferta do México nas mãos, Osorio começou a cogitar a saída do São Paulo.
Em entrevista coletiva concedida no dia 25 de setembro, o treinador disse que esperaria passar as partidas contra Palmeiras, pelo Campeonato Brasileiro, e Vasco, pela Copa do Brasil, para definir seu futuro.
Ele ainda causou espanto aos jornalistas por afirmar publicamente que não tinha mais confiança nos dirigentes são-paulinos, principalmente após tudo que aconteceu envolvendo as saídas dos oito jogadores que deixaram o clube.
DISCURSOS CONFLITANTES
Na última semana do mês passado, a especulação se transforma em proposta e Osorio recebe oferta para assumir a seleção mexicana.
Nesse momento, publicamente aparece uma falta de sintonia entre o treinador e o vice-presidente de futebol, Ataíde GIl Guerreiro, que a todo custo tentou segurá-lo no cargo.
E os discursos divergentes tinham aparecido em outros temas.
Publicamente, o dirigente deu entrevistas dizendo que havia recebido uma promessa de Osorio de que não havia oferta e que, inclusive, sua cabeça já estava voltada para o planejamento de 2016.
Só que internamente a história não é a que foi contada pelo dirigente.
Em nenhum momento, Osorio bancou sua permanência. É como se Ataíde estivesse buscando uma situação para não se comprometer com o torcedor, que gostava do trabalho do treinador.
TRABALHO COM A BASE
Juan Carlos Osorio deixa como principal legado do seu trabalho o excelente trabalho de integrante feito com a base do CT de Cotia.
Durante os quatro meses de trabalho na equipe do Morumbi, ele trabalhou com 14 jogadores revelados nas categorias inferiores: Lucas Paes (goleiro), Lucas Perri (goleiro), Lyanco (zagueiro), Ronny (zagueiro), Matheus Reis (lateral-esquerdo), Danilo (lateral-direito), Jeferson (volante), João Schmidt (volante), Lucas Fernandes (meia), João Paulo (atacante), Murilo (atacante), Luiz Araújo (atacante), David Neres (atacante) e Joanderson (atacante).
Além disso, Osorio fez inovações. O técnico usou Carlinhos como ponta, Breno e Michel Bastos como volantes, Lyanco na lateral direita e até Thiago Mendes como centroavante em determinados momentos das partidas.
FIM DA LINHA
Osorio havia prometido informar sua decisão final à diretoria na quarta-feira, data marcada para a reapresentação do elenco após a vitória de sábado sobre o Atlético-PR.
Na última segunda, porém, o coordenador técnico Milton Cruz já dizia a uma emissora de televisão mexicana que ele estava de saída.
O auxiliar é o principal amigo do comandante desde o início do seu trabalho, em junho.
Ontem, terça, Osorio entregou sua demissão, também motivado pela saída do único dirigente em quem confiava: Ataíde Gil Guerreiro.
O colombiano não confiava mais em Aidar. Osorio não gostou de saber nos bastidores que parte da direção depreciava a credibilidade de Milton Cruz, com o qual mantém relação de lealdade e não abria mão da convivência.
Além disso, a Federação do México não estava disposta a esperá-lo até dezembro, nem aceitou que o treinador conciliasse os dois cargos nos próximos meses.