Empresas desenvolvem plantas fortes e que produzem mais com menos 11/10/2015
- Mauro Zafalon e Tatiane Freitas - Folha de S.Paulo
Um cientista, financiado por um príncipe árabe, acaba de descobrir uma semente totalmente resistente à seca.
A sua utilização vai devolver à agricultura milhões de hectares de terras, hoje impróprios para o plantio devido às características inóspitas desses terrenos.
As ações das principais empresas produtoras de sementes e de agroquímicos, detentoras da tecnologia atual, caíram abruptamente.
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O mundo ainda não chegou a esse ponto -- as cenas acima fazem parte do enredo do filme "O Desconhecido" (2011).
Mas, na vida real, as empresas estão dia e noite em busca da semente "bala de prata", a quase perfeita.
Não há avanço da competitividade na produção agrícola sem uma semente de qualidade. Por isso, as principais empresas chegam a investir próximo de US$ 3 milhões por dia em pesquisas.
Parte dessas conquistas já chegou. Mas há muito por vir, afirmam pesquisadores.
"O que nós estamos pesquisando agora vai chegar ao mercado em cerca de dez anos. Então nós precisamos prever o que os produtores vão precisar em uma década", afirma Mark Spinney, diretor do departamento de pesquisa química biológica da Syngenta em Jealott's Hill, no Reino Unido.
Um dos maiores investimentos do setor está no desenvolvimento de plantas capazes de driblar o clima. Nas bancadas das empresas, as pesquisas já apontam para a produção de sementes resistentes à seca, ao excesso de água, de frio ou de calor.
Alexandre Lima Nepomuceno, pesquisador da Embrapa, destaca, no entanto, que nunca haverá uma planta totalmente resistente à seca. Mas essa resistência pode prolongar a vida dela à espera da próxima chuva.
O que as empresas buscam, complementa Mozart Fogaça, diretor de sementes da Dow AgroSciences, são sementes com melhor absorção de água e de nutrientes presentes no solo.
"É preciso produzir mais com menos recursos, água e terra. Para isso, é essencial ofertar uma semente de qualidade."
Outras pesquisas apontam para soluções capazes de antever problemas no campo. São as plantas sentinelas, que antecipam doenças e pragas de uma lavoura. Elas permitem ao produtor se adiantar e evitar perdas maiores.
Outras sementes geram plantas que indicam até a presença de minas terrestres, deixadas em períodos de guerra.
MAIS E MELHOR
As empresas também se dedicam a sementes que possam aumentar os ganhos por hectare e ser eficientes no combate a ferrugem -- uma das principais doenças da soja --, doenças e pragas específicas de cada região.
Siegfrid Baumann, da Bayer SeedGrowth, diz que cabe às empresas eliminar, por meio das sementes, os fatores de risco de produção.
"Sem qualidade, ela não exerce a função desejada."
Mas o rendimento é igualmente importante. Tanto que, em algumas regiões, a semente já não é vendida por sacas, como o habitual, mas pelo potencial de germinação, segundo Geraldo Berger, da Monsanto, líder mundial em biotecnologia.
Na Bahia, por exemplo, produtores de sementes já garantem até 99% de germinação, bem acima dos 80% exigidos pelo Ministério da Agricultura.
Outro caminho no melhoramento genético está na busca não apenas de maior quantidade produzida, mas também da qualidade do produto. Em pouco tempo, o óleo de soja se aproximará do de oliva, dizem pesquisadores.
"A semente é a base para o sucesso do agronegócio. O desenvolvimento do setor depende dela", diz José Renato Bouças Farias, da Embrapa.
A relevância do segmento é tão grande que desperta o interesse até de quem ainda não está nesse mercado, como a Basf.
"É um caminho sem volta", diz Fernando Arantes Pereira, gerente da área de tratamento de sementes da empresa. Segundo ele, a Basf olha para uma semente de soja resistente a ferrugem, a nematoides (vermes) e que gere produção maior de óleo.
A semente de soja custa próximo de 15% do total dos gastos de produção do produtor. A de milho, 20%.
José de Barros França Neto, pesquisador da Embrapa, diz que não é a semente que é cara, mas a tecnologia que está inserida nela.