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DIA A DIA

Netos e bisnetos de Niemeyer, os sem mesada, disputam herança minguada
18/10/2015 - Eliane Trindade - Folha de S.Paulo

"A fonte secou", diz Vera, viúva de Oscar Niemeyer (1907-2012), inventariante do espólio do arquiteto morto há quase três anos.

Apesar do renome internacional e de ter trabalhado por mais de oito décadas ao longo dos 104 anos de vida, o patrono da arquitetura moderna deixou um patrimônio modesto e um escritório que passa por dificuldades financeiras sem o toque de Midas de seu fundador.

"Ele sustentou com seu trabalho incessante até a terceira geração", diz o advogado Allan Guerra, que representa dona Vera e o escritório de arquitetura.


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Um ex-funcionário relata que o velho Oscar pagava cerca de R$ 200 mil mensais de mesada para familiares, inclusive bisnetos na faixa de 40 anos.

Pelo menos três dos netos, todos com mais de 60 anos, faziam retiradas mensais que variavam de R$ 25 mil a R$ 15 mil, caso de Carlos Eduardo Niemeyer, o Kadu, que hoje é taxista.

Já os bisnetos mais próximos recebiam entre R$ 7 mil e R$ 10 mil cada um.

"Eu só tive você, Anna Maria. Essa confusão toda foi você quem criou", brincava Oscar com sua filha única, fruto do casamento de 76 anos com Anita Baldo (1909-2004), que morreu seis meses antes dele, aos 82 anos.

A galerista deixou quatro filhos, que são os herdeiros formais de Niemeyer.

Ela é mãe de Ana Lúcia, 64, Ana Elisa, 62, e Carlos Eduardo, 61 (frutos do primeiro casamento), e de Carlos Oscar, o caçula, da união com Carlos Magalhães.

Todos, em maior ou menor grau, viveram à sombra ou da generosidade de Oscar.

"Ele sempre foi muito generoso. Distribuiu sua herança em vida e ajudou não só netos e bisnetos, mas também amigos", diz dona Vera.

Comunista histórico, Oscar deu um apartamento de presente para Luiz Carlos Prestes (1898-1990), o lendário líder comunista.

Presenteou o motorista da família com uma casa que leva sua assinatura, além de ter comprado ou ajudado a comprar imóveis para todos os netos e alguns bisnetos.

DIVISÃO DE BENS

O quinhão da viúva também foi definido em vida.

Ele deixou para Vera o apartamento onde o casal vivia em Ipanema e a cobertura da avenida Atlântica, em Copacabana, onde o gênio da arquitetura moderna criou alguns de suas obras mais icônicas.

No inventário, estão listados bens como a Casa das Canoas, obra de 1952 que Niemeyer projetou para morar com a família, e uma fazenda em Maricá, interior do Rio.

"Meu avô nunca guardou dinheiro. Ele comia o que ele ganhava no dia. Sempre foi assim. Ele podia ter comprado vários imóveis pra ele, mas sempre foi uma pessoa generosa", atesta o neto Carlos Eduardo, o Kadu.

Sem dinheiro no banco e sem o parente importante, os herdeiros agora se lançam na disputa pelo legado arquitetônico de Niemeyer, de olho em futuros projetos com a assinatura do criador de Brasília.

"A fortuna em jogo são os croquis", diz um amigo de Oscar, que pede para não ser identificado.

No centro da disputa em torno do legado estão Vera, no papel de inventariante e à frente do Instituto Oscar Niemeyer (braço social).

De outro, está Ana Lúcia, neta que criou a Fundação Oscar Niemeyer há 25 anos (braço cultural).

Em um terceiro flanco se posiciona Ana Elisa, sócia do escritório de arquitetura e urbanismo que executa projetos em andamento levam a assinatura de Niemeyer (braço comercial).

ARQUITETURA COMPLICADA

O tripé desenhado por Niemeyer em vida está cambaleante após a sua morte.

A divisão de áreas e atribuições vem se mostrando no mínimo problemática pelo grau de dependência que os herdeiros tinham em relação ao patriarca, a quem todos chamavam de "Dindo".

"Uma coisa era com ele, outra é sem. Tudo ficou mais difícil", admite Jair Valera, arquiteto e sócio de Ana Elisa, que ao longo de mais de três décadas desenvolveu projetos com a assinatura de Oscar Niemeyer.

"O trabalho reduziu muito. Já tivemos 20 arquitetos contratados, agora, somos cinco."

No momento, o escritório acompanha projetos como a catedral de Belo Horizonte e a biblioteca de Argel, na Argélia, obras em andamento após a morte de Niemeyer.

A galinha dos ovos de ouro é o que pode ou não pode ser construído com a assinatura Oscar Niemeyer a partir de agora.

"Ele cedeu em vida os direitos sobre o acervo para a fundação justamente para evitar disputas", diz Carlos Ricardo Niemeyer, filho de Ana Lúcia e bisneto que administra a Fundação Oscar Niemeyer.

Vera diz que não vai se meter no imbróglio dos herdeiros.

"Minha parte é manter o escritório funcionando até cumprir os contratos e chegarmos ao final do inventário", diz a viúva.

"Quanto aos herdeiros, cada um responde por si. Tento fortalecer o que eles terão direito mais tarde. Minha responsabilidade é deixar o nome do Oscar íntegro como sempre foi."

NETO TAXISTA

Aos 14 anos, Carlos Eduardo Niemeyer, 61, aprendeu a dirigir com o avô, Oscar Niemeyer (1907-2012).

Três anos após a morte do arquiteto, Kadu, um dos quatro herdeiros formais, ganha a vida atrás do volante de um táxi no Rio.

Ele faz ponto na praça praça Santos Dumont, na Gávea, com seu Meriva (ano 2007), há um ano e meio.

"Até cinco meses atrás, eu saía de casa às 6h e ia até as 22h. Agora, botei um motorista pra trabalhar à noite e rodo de dia", conta.

"No começo foi duro. É uma mudança dramática. Eu era usuário de táxi e passei a ser o taxista."

A outra profissão de Kadu, fotógrafo de arquitetura, sofreu um baque com a morte de Oscar.

Ele atuava principalmente nos festejados projetos do avô mundo afora.

Enquanto Oscar estava vivo, Kadu recebia R$ 15 mil por mês, fotografando ou não.

"Eu tinha uma mesada, um salário, o nome que for." E diz que não era um privilégio só seu.

"Ele sempre fazia esse jogo. Não era só comigo não, era com minhas irmãs, com minha mãe. Eu falo que ele era o Poderoso Chefão, um dom Corleone."

E na cultura de clã, a última palavra era do patriarca.

"O lado ruim foi podar todos os projetos independentes que tentamos fazer. Ele sempre achava um jeito de impedir nossa carreira solo."

TESTE VOCACIONAL

Kadu, no entanto, reconhece as próprias cabeçadas, como abandonar a faculdade de administração.

Lembra de, aos 20 anos, em Paris, o avô tentar enquadrá-lo, sugerindo que fosse aprendiz de mestre de obras em um dos seus projetos.

"Ele achava que eu podia voltar para o Brasil e montar uma construtora. Não tinha nada a ver comigo."

Ele se emociona ao recordar de um dos últimos encontros no hospital com o patriarca da família, que morreria aos 104 anos, em 5 de dezembro de 2012.

"Ele virou pra mim e disse: 'Carlos Eduardo, o que você vai fazer da tua vida?' A preocupação dele até nos últimos momentos era saber o como eu ia ficar."

Kadu deixou de receber o "salário/mesada" dois meses após o enterro.

"Eu tinha essa renda mensal que vinha do escritório do meu avô e Vera se comprometeu a manter, mas cortou. Isso foi um baque financeiro muito grande pra mim", diz kadu.

Apesar do corte, ele não se afastou da viúva.

"Continuamos próximos e não sou nem um pouco beneficiado por isso."

Diz atender a um desejo do avô.

"Ele sabia que meus irmãos iriam com tudo pra cima dela e me pediu: 'Não deixa a Vera desamparada'."

CORRENDO ATRÁS

Enquanto aguarda o desenrolar do inventário, Kadu corre atrás do prejuízo.

"Eu tinha um padrão de vida e hoje tenho dificuldade para manter minha casa em um condomínio caro."

Ele diz estar longe de tirar como taxista os R$ 15 mil de antes.

"É uma profissão digna como qualquer outra. Já deu muito dinheiro, hoje não."

Seu colega de ponto, Juliano Costa, diz que se assustou quando descobriu a "linhagem nobre" de Kadu.

"Ele é anônimo, Niemeyer é que era conhecido. Nem notei a semelhança no começo e olha que é grande."

Para trocar o seu velho Meriva que estava com 600 mil quilômetros rodados e vivia na oficina, Kadu contou com a ajuda providencial do neurocirurgião Paulinho Niemeyer.

O primo desembolsou R$ 40 mil na compra de um Renault Megane (2012).

Foi a bordo do novo táxi que ele levou um casal de arquitetos franceses para conhecer alguns dos marcos da arquitetura de Niemeyer no Rio.

Entre eles, a Casa das Canoas, projetada em 1952 para moradia da família e que está fechada para reforma.

ATENDIMENTO EM FRANCÊS

Kadu se comunicou com os clientes em francês, língua que aprendeu quando viveu em Paris com o avô na década de 1970.

E festejou em bom português os R$ 200 que ganhou pela corrida especial.

"Não poderíamos ter encontrado um guia melhor", diz Ettienne de Longvilliers, 32, que veio ao Brasil em lua de mel com a mulher, Clélie.

Eles chegaram ao taxista com o sobrenome do mestre que estudaram com paixão na faculdade de arquitetura de Versalhes por meio de uma cunhada de Kadu.

"Niemeyer não é só avô dele é avô de todos", diz Clélie, 30, que se deliciou ao entrar em uma dimensão íntima de um arquiteto famoso pela monumentalidade da obra.

Elogios que encheram de orgulho o neto de verdade que tatuou no antebraço a imagem da Pampulha, um dos projetos icônicos do avô, e a assinatura de Niemeyer.

"Tudo o que sei aprendi com meu avô. Ele foi meu pai, meu amigo", emociona-se Kadu.

"Lógico que a gente comete erros, mas aprendi com ele a ser uma pessoa que se interessa pelos amigos, que procura ajudar e buscar uma fórmula de um mundo melhor. É esse o legado que o meu dindo me deixou."


  

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