Etanol só fora da Amazônia e do Pantanal, diz Stephanes 15/10/2007
- Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
Para ministro, mesmo que concessões sejam feitas pelos países ricos na OMC, não haverá benefícios significativos para o País
O Brasil deve se concentrar em encontrar mercados específicos para exportação e não esperar por um resultado positivo na Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC). O recado é do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que está na Europa esta semana e, destoando dos comentários do Itamaraty, prevê que os benefícios de Doha não serão significativos. “Não acho que as concessões que serão feitas (pelos países ricos) na OMC terão efeitos concretos”, afirmou o ministro.
Em entrevista ao Estado, Stephanes disse que tentará, amanhã, convencer a Comissão Européia de que o sistema de controle sanitário da carne brasileira é confiável. Além disso, anuncia que quer expandir em 7 milhões de hectares a produção de cana no Brasil até 2020. A seguir, os principais trechos da entrevista.
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Depois de seis anos negociando a Rodada Doha, o sr. ainda acredita que o Brasil terá algum ganho?
Eu sou um dos céticos com a possibilidade de conclusão da Rodada ou de um sucesso com seus resultados. Acho que as concessões, se dadas (pelos países ricos), não terão efeitos concretos. O que irá regular o mercado mundial nos próximos anos será a necessidade das economias de importar alimentos. Os países não vão querer importar inflação e estamos vendo que, com a alta nos preços de commodities, a inflação já é uma preocupação em vários mercados. Muitos governos vão ter a necessidade de abrir seus mercados para os produtos agrícolas exatamente para evitar a inflação. A Europa acaba de fazer isso com o trigo e fizemos projeções que mostram que essa tendência deve continuar.
Não seria o momento então do Brasil buscar acordos específicos com os diferentes mercados?
É exatamente isso que defendo. Essa é a minha visão. Mas não posso falar muito por causa do Itamaraty. Só vale lembrar que, em 2007, vamos ter uma alta de nossas exportações de carne de 20% em relação a 2006, ano que as vendas já foram ótimas. Como eu disse, será a demanda dos mercados que trará essas vantagens para nós e, pelo que eu vejo, os preços continuarão altos.
Apesar desse aumento, há uma pressão cada vez maior por parte dos europeus em relação à qualidade da carne brasileira. Qual será seu recado à Comissão Européia, que deu ao Brasil até o fim do ano para pôr seu sistema em ordem para não sofrer embargo?
Teremos reuniões com parlamentares e com o comissário de Saúde da UE, Markus Kyprianou. Vamos mostrar que o sistema fitossanitário está praticamente em ordem. O que falta é a questão da rastreabilidade, que é apenas uma questão de tempo, pois as medidas já foram tomadas. O movimento de animais (entre Estados e fazendas) já está resolvido.
Não é a questão de rastreabilidade que mais preocupa os europeus?
O sistema já está implementado e temos 15 milhões de cabeças de gado envolvidos. O que ocorre é que precisamos chegar a 40 milhões de cabeças de gado e isso levará alguns meses para que possamos dizer que temos toda a vida de um gado rastreada, do momento que nasce ao momento da carne ser servida. Estou confiante de que iremos resolver isso.
Mas produtores irlandeses declararam ter feito seu próprio relatório e que a situação não é boa.
Respeito que esses produtores queiram vender e proteger seu mercado. Mas não posso respeitar o que dizem sobre a agricultura brasileira. O relatório que fizeram é clandestino e eles deveriam até estar presos por isso. Repudiamos essas informações.
Outro ponto de interesse dos europeus é a produção de cana no Brasil. Como o sr. pretende convencê-los de que a expansão do etanol não irá gerar desmatamento na Amazônia?
Vamos ter um planejamento da expansão e até julho de 2008 isso estará pronto. Teremos quatro mapas. O primeiro indicará onde estão as usinas hoje e a produção. O segundo mapa dirá, tecnicamente, onde a cana poderá ser plantada para que seja produtiva. Um terceiro mapa ainda mostrará as áreas restritas e incluirá a Amazônia, terras indígenas, o Pantanal e algumas outras regiões. Nesses locais, não será permitido a plantação de cana. Um quarto mapa ainda orientará para onde a expansão da cana deve ocorrer. Vamos nos concentrar em áreas de pastagem já degradadas. Nossa idéia é chegar a 2015 com o dobro de produção de cana. Isso significa a expansão do cultivo para 3 milhões de hectares de terra. Até 2020, dependendo de como irá o mercado, queremos outros 4 milhões de terra com cana. No total, portanto, estimamos que vamos precisar de 7 milhões de hectares até 2020.
Mas isso não acabará atingindo áreas de floresta?
Temos 40 milhões de hectares de áreas de pastagem degradadas. É só usar parte delas e atingiremos os objetivos, sem precisar recorrer à floresta.