Dani Alves critica energia pesada do Brasil e diz que só história não basta 17/11/2015
- Alexandre Lozetti e Márcio Iannacca - GloboEsporte.com
Daniel Alves foi contundente na véspera da partida entre Brasil e Peru, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2018.
Tanto em reconhecer as dificuldades da Seleção, que, segundo ele, foi mera espectadora no primeiro tempo do empate com a Argentina, quanto em lamentar o excesso de críticas do público brasileiro. O que, em sua visão, constitui “energia pesada”.
O lateral-direito, que terminará o ano como titular, conquista alcançada graças às lesões de Danilo, hoje seu reserva, afirmou que a história de cinco títulos de Copa do Mundo, e outros tantos, não é mais suficiente para que o Brasil seja respeitado pelos adversários em campo.
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– As pessoas respeitam a Seleção pela história, mas temos que conquistar esse respeito com grandes atuações. A história é muito bonita, mas se não for posta em prática diariamente, vai ser só história. Temos que fazer com que as outras seleções nos respeitem.
Em seguida, questionado sobre o motivo de tantos jogadores de sucesso em seus clubes europeus terem que dar explicações frequentes sobre mau futebol quando estão na seleção brasileira, Dani atirou contra o excesso de críticas. E falou da energia pesada que sente no país.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista de Daniel Alves:
EMPATE COM A ARGENTINA
Ganhar é sempre imprescindível. Planejamos um jogo na Argentina, mas houve dois tempos. Em um fomos meros espectadores, no outro conseguimos equilibrar um pouco. Saímos mais contentes com a entrega, a luta e a dedicação com que propriamente com o jogo.
POSTURA CONTRA O PERU
Tomar iniciativa desde o primeiro momento. Ser espectador não é nosso objetivo contra qualquer adversário. Às vezes não conseguimos, por falta de leitura ou de entender o jogo. Cabe a nós termos leitura de jogo que nos faça competir, e não perder um tempo como aconteceu na Argentina.
DUNGA
Não acredito que o Dunga seja um treinador só de resultados. Assim como nós, se ele puder juntar resultados e grandes apresentações, acho que seja a ideia dele.
TEMPO PARA MOSTRAR BOM FUTEBOL
Não temos que colocar prazos na vida nem na profissão. Queremos que nossa filosofia de trabalho seja mais próxima, temos discutido nossa postura, ideia, conceitos de jogo. Acredito que estamos no caminho para conseguir uma equipe equilibrada, que seja admirada e devolva a relação com o torcedor brasileiro.
NEYMAR
Neymar está feliz por ser uma referência na Seleção, sempre tranquilo. Quando digo que não estamos contentes, falo por todos. Nossa ideia é crescer. Não há mais tanta facilidade como antigamente, mas temos que nos adaptar a isso. As pessoas respeitam a Seleção pela história, mas temos que conquistar esse respeito com grandes atuações. A história é muito bonita, mas se não for posta em prática diariamente, vai ser só história. Temos que fazer com que as outras seleções nos respeitem.
PEDIDOS DE INGRESSOS
Sou meio chato nesse aspecto. Acredito que para pessoas formarem parte da minha vida, temos que ter vivido momentos anteriormente. Valorizo muito meu dia-a-dia, o afeto que as pessoas me dão, o que vivemos juntos. Essas pessoas sempre vão estar comigo. Os outros a gente finge que não viu as mensagens.
LIDERANÇA NO GRUPO
Todos podem ser líderes. Por minha experiência, tento contribuir, mas há outros experientes como Kaká, Neymar, que apesar da idade é bastante maduro nesse aspecto. A galera tem bastante liberdade para opinar, essa abertura é fundamental. A partir disso, conseguimos ter ideias e quanto mais opiniões proveitosas, mais podemos crescer.
EXPLICAÇÕES E CRÍTICAS
Acredito muito em energia, aqui no Brasil a energia é um pouco pesada. Lá fora é tudo um pouco mais suave. Quando falam que o treino será liberado por 15 minutos, aqui ficam chateados, alguns não entendem e criticam. Nosso país é muito crítico e pouco paciente. As coisas ruins vendem mais que as boas.
Se remassem todos para o mesmo lado, as coisas fluiriam mais. Sentimos falta de respeito mútuo. No Brasil, há tanta gente que não sabe nada de futebol falando de futebol. Não tapamos os ouvidos nem fechamos os olhos, queremos crescer e melhorar. Mas as pessoas falam como se fosse fácil jogar futebol. Até mesmo quem já jogou e fazia as mesmas cagadas, as mesmas merdas que fazemos hoje.
BAHIA NA SÉRIE B
Não estou contente, mas posso opinar sobre o que não vivo. Houve motivos para isso não acontecer, mas vivo de longe, acompanho resultados e informações pela internet. Sinto muito pelo Bahia não ter subido, mas espero que no ano que vem ele volte ao lugar que seus torcedores e a história do clube merecem.
BALANÇO DE 2015 NA SELEÇÃO
Foi um ano proveitoso, notável, mas não serviu muito porque num esporte coletivo não adianta se você faz bem as coisas e a equipe não ganha. Estou contente no individual e não muito no coletivo. Mas estamos na luta contínua de poder contribuir e contagiar os companheiros. Espero que cada um possa dar seu melhor e nós consigamos, de uma vez por todas, equilíbrio, e não oscilar tanto.
SELEÇÃO X BARCELONA
Aqui não temos tempo jogando juntos, a manutenção desse grupo e a constância de convocações nos darão conhecimento de como jogam os companheiros. Não posso querer jogar na Seleção como jogo no Barcelona porque é diferente, são perfis diferentes, outros jogadores.
Lá tenho uma filosofia e uma ideia de jogo que aqui não tenho. Aqui, tenho que tentar dar meu melhor dentro do que me pede o treinador e do que tenho nos companheiros. Temos que fazer a autocrítica de que precisamos nos reinventar.
Não pensem que eu acho que não preciso demonstrar mais nada a ninguém. Pelo contrário. Tenho que mostrar meu valor a cada dia. Se eu não pensar assim, serei medíocre. Tenho que mostrar porque consegui chegar aonde cheguei.