Alta do dólar chega com mais força à inflação de alimentos 19/11/2015
- Mauro Zafalon - Folha de S.Paulo
O dólar começa a ter um impacto mais intenso nos preços dos alimentos. O peso da elevação da moeda norte-americana auxiliou na alta do custo médio da alimentação, que atingiu 1,7% na segunda quadrissemana deste mês (últimos 30 dias acumulados até a segunda semana de novembro).
Os dados são da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e se referem à cidade de São Paulo.
Ao registrar essa taxa, o grupo dos alimentos teve a maior elevação em 30 dias desde abril do ano passado.
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O dólar provocou alta tantos no produtos que o país importa como nos que exporta. O trigo, por exemplo, um produto cuja dependência externa chega a pelo menos 50% do que o país consome, está gerando custos maiores nas importações.
O resultado foi que os preços médios do pão francês tiveram alta de 1,4% na segunda quadrissemana deste mês, uma pressão que não ocorria com tanta intensidade no acumulado de 30 dias desde julho de 2014.
Mesmo nos produtos em que o país é líder em exportações, os preços ficaram mais altos com a valorização do dólar. Mais competitivos no mercado externo, esses produtos subiram também em reais, apesar da queda dos valores externos.
É o caso da soja, que está com tendência de baixa na Bolsa de Chicago, mas mantém preços elevados em reais no mercado interno.
O preço do produto em grão puxou o valor do óleo de soja, cuja alta acumulada na quadrissemana foi de 3,2%. Desde março de 2013 o consumidor não tinha um reajuste tão acentuado para esse produto.
O grande salto foi dado, no entanto, pelo açúcar, cujo preço teve valorização de 7% nos supermercados nos últimos 30 dias, segundo a Fipe.
Havia cinco anos não ocorria uma correção de preços do açúcar tão acentuada na quadrissemana conforme a última registrada pela Fipe.
Além do reajuste em reais, o produto teve valorização também em dólares, devido às estimativas de um consumo mundial superior ao da oferta.
O cenário externo para o açúcar muda uma tendência dos últimos anos, quando o produto teve forte queda nos preços internacionais porque a oferta sempre foi maior do que a demanda pelo produto.
Para o próximo ano, a produção mundial voltará a ser inferior ao volume que será consumido, segundo estimativas do mercado.
As carnes, devido a uma recuperação das exportações nos últimos meses e à menor oferta de animais prontos para o abate, também subiram internamente. A alta da bovina foi de 1,4%, e a de frango, de 4%.
Os produtos que não estão ligados às exportações, mas pressionados pelos custos internos de produção –como gasolina, diesel e energia–, também sobem. Os legumes ficaram 7% mais caros, enquanto a frutas subiram 5%, e as verduras, 2,5%.
O consumidor começa a ter alívio, no entanto, no preço do leite. A produção aumentou, e os preços pagos aos produtores começam a cair, uma queda que chega às gôndolas dos supermercados.