Não é só pobre que sofre violência doméstica, diz Val Marchiori 22/11/2015
- Mônica Bergamo - Folha de S.Paulo
Jogando os cabelos loiros platinados para trás, a apresentadora Val Marchiori, 41, abre um sorriso para o fotógrafo que a retrata na sala de seu apartamento, no sexto andar de um prédio de luxo nos Jardins, em São Paulo. "Isso, um sorriso bem grande", pede ele.
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"Não vai ser tão grande hoje porque não tem champanhe", diz a assessora dela, enquanto coloca água na tacinha dourada da apresentadora, cujo amor pela bebida ficou conhecido no reality show da Band "Mulheres Ricas", em 2012.
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Nada é por acaso: a peça é a mesma que Val tem na mão na capa do livro que vai lançar nesta terça (24), pela Companhia Editora Nacional.
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Depois de ficar famosa por causa do programa e de ter passado por atrações como o "Programa Amaury Jr.", na RedeTV!, e o "Programa Raul Gil", no SBT, a apresentadora, dona de uma transportadora e ex-mulher do milionário Evaldo Ulinski, fundador do frigorífico Big Frango, resolveu agora se aventurar no mundo da autoajuda.
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"Três editoras já tinham me procurado, mas livro dá trabalho. Não tô velha ainda, brinquei, deixa eu viver mais. Mas quando me disseram que tá cheio de guru pobre, andando de carro velho, sujo... Vi que tenho algumas coisinhas pra dizer", afirma ela à repórter Letícia Mori em sua casa. Val falou sobre a publicação, projetos na TV e escândalos em que seu nome já esteve envolvido.
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A menção a um deles fez o clima ficar tenso pela única vez durante a conversa.
Em 2013, Val conseguiu um empréstimo de R$ 2,79 milhões do Banco do Brasil a partir de uma linha subsidiada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), contrariando normas das duas instituições.
Isso só teria ocorrido porque ela era amiga muito próxima do então presidente da instituição, Aldemir Bendine. Hoje ele preside a Petrobras.
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"Já falei sobre isso até no Ministério Público, dei depoimento na Polícia Federal. Já foi provado que [os empréstimos] seguiram as mesmas regras que para qualquer pessoa. Sabe há quantos anos eu tenho conta no Banco do Brasil? Há mais de 20. Fundei minha transportadora em 1997, estava superqualificada para pegar um empréstimo."
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Ela critica os críticos. "É que as pessoas são iguais a boi que vai atrás da boiada. Não sabem o que é um Finame [Financiamento de Máquinas e Equipamentos do BNDES]. Não tem regalias. Você pode ser a princesa do que for: se não estiver dentro das normas, não faz."
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Mas você estava? A Polícia Federal investigou o caso por desconfiar que você não estava dentro das regras.
- É obvio que eu estava! Fiquei dois anos para conseguir esse financiamento. Não é porque eu sou a... Posso ser amiga do papa! Se não estiver dentro da ordem eles não vão liberar, pra ninguém.
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Então você era amiga do Aldemir Bendine?
- Conheci... Como conheci vários políticos. Já tirei foto com o Barack Obama, também sou amiga dele? Vi o Lula e sou amiga dele? O Alckmin, já estive em evento com ele... Daqui a pouco vão falar que sou amiga do Alckmin! E outra coisa: dois milhões e pouco de reais, gente. Como se eu precisasse! Meu marido na época era dono da Big Frango. Meu apartamento vale R$ 20 milhões.
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Mas o Finame não financia compra de carro pessoal. E você comprou seu Porsche com financiamento do BB.
- Não teve financiamento de carro pessoal. Não existe Finame para carro. Meu carro foi leasing [outro tipo de financiamento para veículos]! É que você não é empresária, você não sabe.
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Sentada na varanda, num sofá com estampa de oncinha, Val fala do livro que vai lançar. Nele, a apresentadora dá dicas para quem "só vê champanhe no Réveillon".
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Algumas delas: "Sinta-se merecedor do dinheiro. Não pense que não merece, porque a abundância do Universo é infinita. Deixe que o dinheiro chegue até você". Ou: "Hoje é o dia mais especial, pois é nele que você vai agir". E ainda: "Ser pobre é fácil, porque não exige planejamento nem ação".
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O "Livro de Ouro da Val" é uma mistura de conselhos como esses, bordões que ela solta na TV, como o "hello!", e histórias sobre sua infância "pobrinha" no Paraná, onde foi revendedora da Avon.
"As pessoas me veem na TV e acham que sou fútil, que gasto R$ 70 mil em compras toda semana e bebo champanhe todo dia. Claro que gosto de luxo, mas trabalhei muito pra chegar aqui. As pessoas não conhecem esse outro lado."
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A personagem "mulher rica", e algo fútil, no entanto, volta logo a prevalecer na entrevista.
"A crise? Ah, me atingiu sim. Agora que eu fui pra Itália, por exemplo, em vez de comprar seis bolsas, comprei três", afirma.
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A apresentadora também não desconsidera a ideia de participar de uma possível terceira temporada de "Mulheres Ricas" depois de passar três meses nos Estados Unidos gravando um programa para a Band sobre "os percalços de uma milionária em Miami", no ano que vem.
"Claro que a exposição tem a parte ruim, mas também tem a parte boa. Muita gente me procura, diz que me ama."
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Val diz que ainda adora fazer "pobrices". Um exemplo? "Comer Choquito [chocolate da Nestlé]."
E nega que esteja tendo problemas com dinheiro -- no meio do ano a mãe de um ex-funcionário entrou com um processo contra Val e disse que a apresentadora chorou em frente ao juiz ao afirmar estar quebrada.
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"Nunca disse isso, estou muito bem. Paguei uma indenização até por dó, e por respeito ao Dudinha [Martins, seu assistente pessoal que morreu em janeiro de 2014]. A gente nunca brigou. Ele parou de trabalhar pra mim pra abrir um salão no interior", diz. "A mãe dele quis aparecer e pra mim é indiferente. Não é uma ação de R$ 10 mil que vai me falir, né, querida. Isso é o condomínio do meu prédio."
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Na época da ação, Val estava se separando de Evaldo Ulinski, pai de seus filhos gêmeos. Alguns meses antes, uma briga feia entre o casal assustou os vizinhos e viaturas policiais foram vistas em frente ao prédio.
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"As pessoas têm interesse na minha vida porque não têm o que fazer com a delas", diz, rindo. Para logo retomar o tom sério:
"Infelizmente tive que recorrer à Lei Maria da Penha e vi que realmente funciona. É uma lei que eu admiro", afirma, sem entrar em detalhes.
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"Violência doméstica é qualquer tipo de violência que a mulher pode sofrer, física, psicológica. E não é só pobre que sofre. Tem em todo lugar. Só que as pessoas têm vergonha de falar. Eu não tenho, não. Precisei e fui muito bem atendida."
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A apresentadora se preocupa com o tema, mas não se diz feminista.
"Ah, eu discordo do movimento em alguns pontos. Por exemplo, acho que o homem tem sempre que pagar a conta. Se está sem dinheiro, leva pra comer cachorro-quente. Mas paga!"