Ranking de Competitividade dos Estados: para comparar e cobrar 01/01/2016
- Bianca Alvarenga - VEJA
Quais estados brasileiros oferecem as melhores condições para fazer negócios? Quem são os administradores públicos capazes de melhorar, de fato, as condições de vida da população?
Buscar respostas objetivas a tais questões é o propósito do Ranking de Competitividade dos Estados, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), em parceria com a consultoria Tendências e com a Economist Intelligence Unit (EIU), a divisão de pesquisas e análises do mesmo grupo que edita a revista inglesa The Economist.
No topo da lista, como em edições anteriores, aparece São Paulo. O estado, em relação ao restante do país, destaca-se pela oferta e pela qualidade de serviços públicos e privados, além da boa infraestrutura.
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Estados menores, entretanto, obtiveram boas colocações, deixando para trás grandes centros econômicos. São exemplos disso Paraná e Santa Catarina.
Ambos alcançaram avaliações positivas em indicadores como solidez das finanças públicas e capacidade de investimento do governo, além de boas condições de desenvolvimento social de seus habitantes. Possuem predicados, portanto, para atrair novos negócios.
Não é à toa que alguns dos mais destacados investimentos feitos nos últimos anos ocorreram nessas regiões. O dinheiro busca tranquilidade e certezas.
Fazer rankings pode à primeira vista parecer uma empreitada banal, destinada somente a satisfazer a curiosidade.
A comparação, entretanto, quando feita de forma metódica e criteriosa, fornece informações relevantes para avaliar países, estados ou cidades. Para os eleitores, trata-se de uma maneira de aferir a administração pública.
Do ponto de vista dos empreendedores, serve de indicativo das potencialidades econômicas de cada região.
"O objetivo da lista é gerar um saudável incômodo nos agentes públicos, para que não se acomodem e busquem melhorar os seus resultados", afirma Adriano Pitoli, diretor da área de análise setorial da Tendências e coordenador técnico do estudo.
O ranking foi construído com base apenas em informações públicas, divulgadas por fontes oficiais e de referência, e ponderado de acordo com critérios do grupo de pesquisa.
Transformar todos os índices em uma só métrica, com intervalo de 0 a 100 pontos, é algo que o estudo fazia desde 2011, quando sua primeira edição foi divulgada. Neste ano a metodologia foi aperfeiçoada.
A coleta e a análise dos dados nacionais passaram a ser responsabilidade da consultoria Tendências, enquanto a EIU ficou com a tarefa de prover números de outros países, para fazer comparações internacionais.
Até o ano passado, eram analisados 26 indicadores em oito categorias. A análise agora leva em consideração 64 indicadores, em dez pilares: infraestrutura, sustentabilidade social, segurança pública, educação, solidez fiscal, eficiência da máquina pública, capital humano, sustentabilidade ambiental, potencial de mercado e inovação.
Os resultados gerais revelam que a competitividade ainda está concentrada nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Contudo a avaliação dos resultados revela surpresas. Em infraestrutura, a Paraíba apareceu no terceiro lugar, à frente de Santa Catarina e Rio de Janeiro.
A cobertura da rede elétrica e a qualidade do serviço são destaque tanto no estado paraibano quanto no Ceará e no Maranhão.
Roraima e Acre ocupam a quarta e a quinta posições no ranking de segurança pública, com resultados acima da média nacional no número de homicídios em relação à população.
Os dados estão disponíveis no site www.rankingdecompetitividade.org.br.
Os exemplos mostram que a riqueza (ou a falta dela) não é necessariamente determinante para a boa qualidade do serviço.
"Desejamos revelar bons administradores capazes de entregar resultados em diferentes áreas apesar do orçamento limitado", afirma Pitoli.
Com a mudança metodológica, não é possível comparar os resultados deste ano com os de edições passadas, para avaliar a evolução de cada estado. Mas alguns dados dão algumas pistas sobre o que ocorreu.
Maranhão, Mato Grosso do Sul e Paraíba foram os que mais cresceram economicamente nos últimos anos. Nos estados nordestinos, entretanto, não houve avanço expressivo em áreas como saúde e educação.
Dos três estados, somente Mato Grosso do Sul se destacou no índice que avalia a capacidade de investimento.
O desafio, portanto, não é só enriquecer, mas gerir esses recursos de forma eficiente.
Pelo estudo fica evidente que mesmo os estados mais bem avaliados estão distantes de países desenvolvidos.
Em quase todos os 22 indicadores em que há dados equivalentes, como os de qualidade de rodovias, desigualdade de renda, saneamento e qualificação dos trabalhadores, a média brasileira está longe da obtida pelas nações avançadas.
No indicador de coleta de esgoto, por exemplo, o Espírito Santo, o melhor estado brasileiro, não se compara ao México, país com o pior resultado da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
No ranking geral, em uma escala de 0 a 100, o Brasil como um todo teria uma nota 37. Levando-se em conta que o melhor desempenho (o de São Paulo) alcançou 90 pontos e o pior (o de Alagoas), 25, a média brasileira seria de 49.
Existe um longo percurso, portanto, a percorrer.
"Os indicadores podem parecer positivos para alguns estados, mas, quando olhamos para a perspectiva global, percebe-se que há espaço para incentivar a inovação e alcançar índices superiores", afirma Luana Tavares, diretora executiva do CLP.
O desafio aumentará em 2016, com os políticos focados em ações de curto prazo.
A recessão profunda, que derrubou as receitas de estados com a cobrança de impostos, é uma agravante.
Diz Luana: "Apesar disso, a competitividade tem de ser uma prioridade. Nenhum estado vai prosperar se não encontrar novas formas de desenvolvimento. Sem esse esforço de todas as unidades da federação, o país não terá sustentabilidade estrutural para crescer".