Escolha de líder do PMDB divide grupos pró e antigoverno 03/01/2016
- CATARINA ALENCASTRO E JÚNIA GAMA - O GLOBO
Nem mesmo as festas de fim de ano foram suficientes para esfriar as articulações pela liderança do PMDB na Câmara. O maior partido da base aliada do governo definirá em fevereiro se o comando da bancada permanecerá nas mãos de um aliado da presidente Dilma Rousseff durante o processo de impeachment, ou se será entregue ao grupo dissidente que defende o afastamento do partido do Palácio do Planalto.
Na última semana, deputados da ala oposicionista do PMDB se reuniram em Brasília, com a presença do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para tratar do assunto e tentar uma união em torno da escolha do novo líder.
Após o episódio da destituição e retomada do posto por Leonardo Picciani (PMDB-RJ), os peemedebistas anti-Dilma querem emplacar um candidato da bancada de Minas Gerais para a vaga, mas encontram dificuldades porque os sete deputados mineiros têm posições divergentes.
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Há pressão da cúpula do PMDB para que Picciani fique fora da disputa, mas o atual líder, que tem apoio do Palácio do Planalto, pretende brigar pelo cargo.
— Vou ser o candidato e minha proposta é de buscar unidade, respeitar as posições. Sei que nesse momento não há unidade, mas disputarei e tenho a convicção de que unificarei a bancada — afirmou Picciani.
MINEIROS SEM CONSENSO
Os deputados oposicionistas pressionam Picciani para que marque já a data e decida a forma como a eleição será feita. Para dificultar a recondução do atual líder, Eduardo Cunha pretende cobrar a aplicação de um suposto acordo segundo o qual a recondução só poderá ocorrer por dois terços dos votos da bancada. Picciani nega que exista acordo neste sentido e diz que, para voltar a ocupar a liderança do PMDB em 2016, basta alcançar a maioria dos votos. No início de 2015, Picciani venceu Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) por um voto.
O grupo dissidente, incluindo Eduardo Cunha, fechou apoio a um candidato da bancada de Minas Gerais, com o argumento de que, proporcionalmente, foi o estado menos atendido pelo governo na distribuição de cargos relevantes, inclusive na Esplanada dos Ministérios. Entretanto, ainda não há um nome definido, devido a uma disputa interna entre os mineiros, que se dividem entre Leonardo Quintão — que chegou a ocupar a liderança por uma semana no início de dezembro —, Newton Cardoso Júnior e Saraiva Felipe.
— Nosso movimento é oferecer a liderança a Minas Gerais. Está na hora de unir o partido, e Picciani não é o nome para unir. Ele desuniu a bancada, colocou os interesses dele e do estado dele acima dos interesses da bancada - critica Lúcio Vieira Lima.
Caciques do partido dizem que a interferência do governo em assuntos internos da legenda foram nocivos. Dilma chegou a conversar com o ministro dos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues (PR), sobre a filiação de deputados do PR do Rio ao PMDB, em uma articulação que não funcionou. Por outro lado, as movimentações do vice-presidente, Michel Temer, que procurou se afastar da presidente Dilma Rousseff tão logo foi deflagrado o processo de impeachment, criaram um racha ainda maior entre governistas e oposicionistas no partido.
PADILHA PREGA UNIDADE
Para o secretário-geral do partido, ex-ministro Eliseu Padilha, agora, o lema é unidade. Sob o risco de perder a presidência do PMDB, Temer vai começar a percorrer o Brasil para impulsionar as campanhas municipais e pavimentar o caminho para que o partido tenha um candidato próprio em 2018, quando, ao que tudo indica, não estará mais ligado ao PT. Bastante ligado a Temer, Padilha chegou a dividir com o vice-presidente a articulação política do governo durante parte do ano.
— Nós somos o maior partido do Brasil, vamos voltar a buscar o diálogo com a sociedade. Temos o maior número de prefeitos, de vereadores, de deputados federais, de deputados estaduais, mas não temos conseguido expressar a unidade do partido. Nossa missão é estabelecer um nível mínimo de unidade, uma espécie de Faixa de Gaza onde todos estão. Para a gente ter um projeto nacional de poder, temos que ter unidade - prega Padilha, que pediu demissão da Secretaria de Aviação Civil cinco dias depois que o presidente da Câmara aceitou o pedido de impeachment contra Dilma.
SUCESSÃO DE CUNHA
Outro tema que ocupará as discussões internas do PMDB é a sucessão de Cunha na presidência da Câmara, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) acate a demanda do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que pediu formalmente a saída de Cunha do cargo. Padilha afirma que o partido não abrirá mão da presidência da Casa, mas que o assunto ainda não está na pauta:
— O Cunha ainda está na guerra, não se entregou. O PMDB não abrirá mão da presidência da Câmara. É uma questão do PMDB, vamos querer resolvê-la no partido.
Entre os deputados, a ordem é aguardar até que esteja mais claro se Cunha de fato perderá o cargo e de que forma isso ocorrerá. O presidente da Câmara já deu sinais claros de que vai retaliar com as armas que tiver ao alcance aqueles que cobiçarem o lugar que ainda ocupa. Caso não perca o mandato no processo de cassação de que é alvo no Conselho de Ética e seja apenas afastado da presidência, quem deve assumir o cargo temporariamente é o vice-presidente da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA). Somente quando estiver definida a vacância da presidência os deputados pretendem se expôr na disputa pelo posto.
No Palácio do Planalto o discurso oficial é que o governo não se intrometerá em disputas intrapartidárias e dentro do Legislativo. Mas, além de trabalharem para que Picciani mantenha a liderança do PMDB, emissários da presidente Dilma avaliam que o sucessor à presidência da Câmara deve ter um perfil menos beligerante que o de Eduardo Cunha.
VAIVÉM NA LIDERANÇA
Reviravoltas, traições e bastidores intensos marcaram o processo em que o PMDB buscou um líder que reunisse apoio suficiente na bancada de deputados federais para se manter no cargo. Eleito em fevereiro, quando derrotou o baiano Lúcio Vieira Lima por um voto, Leonardo Picciani, do Rio, alcançou rápido protagonismo e se tornou interlocutor do Planalto — a despeito de ter apoiado Aécio Neves, adversário de Dilma Rousseff em 2014.
A deflagração do processo de impeachment da presidente trouxe instabilidade ao cenário. Insatisfeitos com as escolhas do líder para a Comissão Especial do Impeachment — a ala oposicionista julgava que havia apenas nomes alinhados ao governo —, peemedebistas articularam a destituição de Picciani e reuniram assinaturas para levar o mineiro Leonardo Quintão à liderança. O vice-presidente, Michel Temer, insatisfeito com Picciani desde a reforma ministerial, participou da articulação.
O contra-ataque foi capitaneado pelo PMDB do Rio: deputados que ocupavam secretarias retornaram a Brasília, enquanto parlamentares de siglas aliadas foram nomeados em secretarias pelo governador fluminense, Luiz Fernando Pezão, e pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes.
Desta forma, suplentes do PMDB foram convocados e engrossaram o apoio a Picciani, que voltou à liderança. Até deputados que haviam apoiado Quintão migraram para o lado de Picciani, com um empurrão do Planalto: Dilma pediu a ministros, como Hélder Barbalho, que convertessem deputados sobre quem tinham influência.