A bandalheira nos esportes 19/01/2016
- Edgard Alves - Folha de S.Paulo
O mundo dos esportes caminha para um beco inexorável, o dos escândalos de corrupção. Não se trata de uma mera caça às bruxas. Talvez esteja ocorrendo um momento de redenção dos esportes, de busca de uma nova mentalidade, mais justa para os esportistas em geral, praticantes, torcedores e fãs.
A encrenca esportiva atinge incontáveis países, com suas organizações esportivas interligadas. Trapaças foram escancaradas recentemente no futebol, no atletismo, numa suposta compra de votos para Tóquio abrigar a Olimpíada e na venda de resultados no tênis.
Charlatanismo sem fronteiras, crimes de arrepiar. É o caso do futebol, que derrubou cartolas em cadeia, com duplo sentido. Cadeia para alguns e uma sequência de quedas de dirigentes envolvidos nas falcatruas.
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A Fifa, o centro do poder mundial do futebol, está com suas entranhas abertas, a cada dia revelando falcatruas de seus até então todo-poderosos dirigentes, que são afastados de cargos ou banidos do esporte.
A luz dessas denúncias iluminou brasileiros como João Havelange, Ricardo Teixeira, J.Háwilla e José Maria Marin (preso na Suíça e deportado para os EUA), e deixou outros com a pulga atrás da orelha, assustados.
Após os vergonhosos relatos das irregularidades na Fifa, foi a vez do vexame no atletismo, desencadeado com o escândalo de doping, que mostrou ter a Rússia acobertado testes positivos de vários dos seus atletas numa ação organizada. Apontou-se também irregularidades na IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo).
Com as trapaças no futebol e no atletismo ainda contaminando o ambiente esportivo, surgiu nova suspeita avassaladora, a da compra de votos para que Tóquio ganhasse a disputa pela sede da Olimpíada-2020, a próxima depois da Rio-2016.
A Wada (Agência Mundial Antidoping) divulgou um informe indicando rastros de corrupção na escolha da capital japonesa. Relacionou suspeita de acobertamento de doping e a possibilidade de que dirigentes ligados ao atletismo teriam recebido para votar em Tóquio na escolha da Olimpíada. Uma união explosiva de denúncias.
Num clima ainda pesado por estas últimas revelações, a emissora britânica BBC e o site de notícias "Buzzfeed News" jogaram lenha na fogueira ao afirmarem possuir documentos secretos que contêm evidências de partidas combinadas entre jogadores da elite do tênis mundial nos últimos anos.
Uma suposta rede formada entre apostadores, majoritariamente da Rússia e da Itália, e atletas de nível internacional. Dezesseis de cerca de 70 atletas investigados estariam entre os 50 mais destacados do ranking da Associação de Tenistas Profissionais.
A suspeita é que teriam manipulado resultados de jogos, inclusive dos principais torneios mundiais. Um rolo que continua no ar e pode ter desdobramentos, expondo a bandalheira nos esportes.
É mais ou menos um reflexo do que ocorre na política e em outros setores sociais em vários países, notadamente no Brasil. Só que os delitos esportivos são mais impactantes na mídia internacional, porque globalizados.
Falta muito ainda para uma sonhada estabilidade e transparência no setor. Embora o cenário indique que a hipocrisia e as trapaças podem perdurar, a máscara dos charlatões finalmente começou cair.