Copom decide manter novamente os juros estáveis em 14,25% ao ano 20/01/2016
- Alexandro Martello - G1/Brasília
Após pressão do setor produtivo, do Partido dos Trabalhadores e em meio a sinais de que a economia terá uma retração mais forte, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros inalterada em 14,25% ao ano nesta quarta-feira (20). Foi a quarta manutenção seguida dos juros pelo BC, que manteve a taxa no maior patamar em quase dez anos.
Até o início desta semana, os economistas dos bancos acreditavam que o BC teria uma postura bem mais mais agressiva, elevando a taxa Selic em 0,5 ponto percentual na reunião de janeiro deste ano, para 14,75% ao ano.
Para embasar suas apostas, levavam em conta o duro recado do BC, dado no começo deste mês, quando informou que adotaria "as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas [de inflação]" e acrescentou que isso seria feito "independentemente do contorno das demais políticas" (como aquela relacionada com os gastos públicos, por exemplo).
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Essa percepção do mercado de uma alta de 0,5 ponto percentual nos juros se alterou nesta terça-feira (19), quando o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, rompeu o tradicional silêncio que antecede os encontros do Copom para dizer, por meio de nota à imprensa, que considerou "significativas" as revisões das projeções de crescimento em 2016 e 2017 do FMI para o Brasil [para baixo] e acrescentou que estas informações seriam "consideradas nas decisões do colegiado".
O mercado entendeu a declaração como uma forma de sinalizar uma alta menor dos juros, ou até mesmo a manutenção no atual patamar de 14,25% ao ano, e não poupou críticas ao BC.
"Jabuti não sobe em árvore. Porque o BC ia comentar uma atualização das projeções do FMI? Tudo bem. Piorou, até mais do que o consenso do mercado, mas não tão mais. É muito ruim, mas que a gente já conhecia. Imagino que o Tombini também", disse ele, que passou a apostar em Selic estável ou uma alta menor, de 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira.
"Num movimento atípico o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, bagunçou o meio de campo na véspera do Copom. Ao anunciar que irá considerar as projeções do FMI na decisão do colegiado do BCB ele diz nada e ao mesmo tempo tudo", avaliou André Perfeito, da Gradual Investimentos.
Recessão
Em um cenário de forte queda da atividade econômica em 2015, com a previsão do mercado de retração do PIB da ordem de 3,75% no ano passado, a maior em 25 anos, seguida por uma contração também significativa neste ano (por volta de 3%, segundo previsão do mercado), e com o aumento do desemprego, podendo superar 10% neste ano, a decisão do Copom sobre a taxa de juros está cercada de fortes pressões políticas.
Tanto o presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, quanto os representantes das centrais sindicais e do setor produtivo têm se manifestado sistematicamente contra uma nova alta de juros por parte do Banco Central.
No fim do ano passado, Falcão pediu propostas para retomar o crescimento econômico, garantir o emprego e preservar a renda e os salários.
"Chega de altas de juros e de cortes em investimentos", declarou ele, em artigo.
As centrais sindicais fizeram ato nesta terça-feira na frente do Banco Central de São Paulo contra um novo aumento de juros.
A Força Sindical avaliou que um novo aumento de juros contribuiria para o "aumento da recessão e do desemprego, atingindo a indústria nacional, reduzindo a produção e provocando, até, a insolvência das empresas (desindustrialização)".
Em artigo publicado no fim do ano passado, institulado "Para vencer a Crise", o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) pede redução da Selic e avalia que juros "extraordinariamente elevados na atualidade, constituem barreiras intransponíveis ao crescimento".
Nesta semana, divulgou um documento na qual avalia que a crise é "generalizada" no setor produtivo.
Pressão inflacionária
Apesar dos impactos de uma nova alta dos juros sobre a produção e o emprego, economistas observam que a inflação segue pressionada no começo deste ano, quando 20 estados e o Distrito Federal promoveram aumentos de tributos, como o ICMS, além de alta de impostos sobre computadores e bebidas implementada pelo governo federal.
Também foram registradas elevações nos preços de tarifas de transportes públicos em vários estados.
O dólar, por sua vez, vem apresentando novo aumento no começo de 2016.
Além disso, o mercado financeiro não acredita na capacidade de o setor público atingir a meta de superávit primário (economia para pagar juros da dívida pública) de R$ 30,5 bilhões em 2015, ou 0,5% do PIB.
A previsão do mercado é de um déficit de 1% do PIB, de cerca de R$ 60 bilhões, neste ano.
Todos estes fatores, segundo analistas, continuam pressionando a inflação neste ano. Após somar 10,67% em 2015, a previsão dos economistas é que, para 2016, o IPCA some 7%, ou seja, acima novamente do teto do sistema de metas de inflação - algo que o Banco Central busca evitar a qualquer custo.
Para o economista Alexandre Schwartsman, a teoria de de que a recessão vai "tomar conta" da inflação só funciona se as previsões de inflação estiverem "ancoradas" com as metas do governo, o que não acontece atualmente.
"O BC vai ter que subir os juros. Se não subir agora, lá na frente o problema vai ficar pior. Em 2011, [o BC] poderia ter trazido a inflação para a meta com menos esforço. Agora vai ter que subir mais os juros", avaliou o ex-diretor do Banco Central.