Sustentabilidade torna agronegócio mais rentável, apontam estudos 05/04/2016
- Mauro Zafalon - Folha de S.Paulo
Produzir com sustentabilidade é um negócio economicamente viável para o produtor? Em geral, a máxima é que a sustentabilidade pode ser alcançada, desde que alguém pague a conta.
Três estudos relacionados ao tema buscam colocar luz nessa discussão. O resultado surpreende: a adoção de práticas de sustentabilidade pode ser um bom negócio.
Os investimentos direcionados à adoção de práticas voltadas às questões ambientais e sociais tornam os negócios mais rentáveis, competitivos e resilientes.
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Imaflora, Sebrae/MG, Rabobank e pesquisadores do Cepea, da Esalq/USP e da Universidade de Oxford avaliaram a questão.
As principais conclusões são que, quanto melhor o desempenho socioambiental na propriedade, melhor será o resultado econômico.
Um produtor com alto desempenho socioambiental tende a ser um cliente com maior saúde financeira e, consequentemente, com menor risco para bancos.
Com isso, produz com custos menores, obtém produtividade maior e é mais eficiente, devido à adoção de uma boa gestão dos negócios.
Os estudos apontam que sustentabilidade com rendimento é coisa não só de grandes produtores mas de pequenos e médios.
CRÉDITO
Um dos estudos avalia o crédito e indica que ele faz a diferença para a sustentabilidade. O trabalho utilizou a política de sustentabilidade do Rabobank e buscou correlações entre saúde financeira e desempenho socioambiental.
Foram utilizadas 1.056 avaliações de 596 produtores clientes do banco em sete Estados de 2009 a 2013.
Mas o aspecto socioambiental, mesmo com benefícios, é considerado marginalmente na maior parte do crédito dado à agropecuária.
Um segundo estudo sobre a evolução socioambiental no país aborda as certificações e o papel delas no desempenho econômico. As fazendas com certificação levam a uma melhor gestão, com maior produtividade, mais receitas e eficiência produtiva.
A produção brasileira em sistemas de sustentabilidade aumentou nos últimos cinco anos, mas dados recentes indicam estabilização.
Essa perda de ritmo da adoção se deve aos argumentos de que os consumidores não valorizam o produto certificado, de que a implementação da certificação é cara e de que e empresas compradoras de commodities criam certificações próprias, às vezes com padrão menos rigoroso.
CERTIFICAÇÕES
Para avaliar essas ponderações, pesquisadores fizeram um outro estudo, com base em dados de 78 fazendas produtoras de café do cerrado mineiro participantes do Programa Educampo do Sebra-MG. Foram utilizados dados de 2008 a 2013 de 24 fazendas certificadas e de 54 similares, mas não certificadas.
O resultado da pesquisa indicou que não houve diferença nos custos de produção entre as fazendas. As receitas, no entanto, foram R$ 2.412 maiores por hectare para as propriedades certificadas.
O aumento se deve à elevação de 9,4 sacas por hectare na fazenda certificada.
Um terceiro estudo foca a gestão e o desempenho ambiental e social. A pesquisa se baseia em dados de 435 auditorias de 2006 a 2014, realizadas em 80 fazendas individuais e 23 grupos de fazenda de café, todas certificadas.
O objetivo foi avaliar a contribuição da gestão para o desempenho ambiental e social de propriedades agrícolas. E o resultado indicou que, quanto maior o cumprimento dos critérios de gestão, maior o cumprimento socioambiental na propriedade.
Há, no entanto, dificuldades para atingir um sistema pleno de gestão que integre as dimensões operacionais, ambientais, sociais e produtivas. Os desafios vão de fornecimento de água potável para os trabalhadores a planos de saúde e de segurança.
Para discutir esses estudos, haverá um seminário na Esalq/USP no próximo dia 12.