Moço, não quero ver o seu bilau 07/04/2016
- Mariliz Pereira Jorge*
Passado o susto, fiquei curiosa para saber o que raios tem na cabeça uma criatura que manda uma foto do seu bilau em estado de continência para o inbox de uma pessoa que ele não conhece. Ou que, no mínimo, não o conhece.
Ele está lá, em plena terça-feira, sentado no escritório, cavucando o canto de uma unha, entre um e-mail e outro, toma um gole do café morno e pensa "ai, que tédio, vou mandar a foto do meu pinto para a fulana, ela vai se impressionar e vamos engatar uma conversa".
E eu, entre um email e outro, pesquisa sem fim para um programa de TV, vídeos e vídeos no YouTube de pessoas que querem fazer sucesso, mas são só insuportáveis e sem talento, resolvo passear no Facebook e ficar mais deprimida por causa da política do nosso país, que não tem a menor chance de dar certo, vejo que tenho mensagens inbox.
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Uma leitora fofa dizendo que se separou do marido depois de ler um texto meu. Um amigo falando mal de algum coxinha da minha timeline. Outro amigo perguntando como posso ser amiga de petralha. Minha mãe, mandando a quinta mensagem porque não respondi em cinco minutos e ela fica preocupada, mesmo que eu já tenha saído de casa há mais de 20 anos. Tudo isso e uma foto do pau do José Padilha.
Quando eu vi o nome José Padilha, pensei: me dei bem, vai me convidar para escrever com ele "Tropa de Elite 3". Abri a mensagem e pau. Era só um homônimo, tarado e desocupado, me mandando a foto do bilau. Poderia ser apenas um leitor ruim com as palavras, querendo agradar. Achei exagerado.
Em cinco segundos, pensei em algumas alternativas. 1. Passar um sermão: imaturo, grosseiro, covarde, burro. 2. Conversar com o pinto: e aí, pinto, e essa moleza aí, rapaz? 3. Fazer piada: meu filho, com isso aí não dá nem pra começar o diálogo. 4. Bancar a blasé: moço, não quero ver o seu bilau.
Tudo que fiz foi bloquear o indivíduo e voltar ao trabalho.
Escrevo sobre sexo faz mais de 10 anos. Aproveito aqui para fazer um merchan. Tem coluna minha todos os meses na revista "GQ", da editora Globo. Sempre tratei o assunto como ele deve ser tratado, sem preliminares e sem chamar pau de pênis. Não há nada mais broxante do que dizer pênis quando o assunto é transar.
O que realmente eu não entendo é essa idolatria que alguns homens tem pelo próprio pinto e por que muitas vezes o usam como uma bazuca pra sair atirando por aí. No ano passado, uns leitores bem queridos não gostaram do que escrevi no caderno "Esporte" e resolveram me agredir com fotos de pintos, no Twitter. Me agredir mandando foto de pinto? Se esforcem mais, por favor.
Agora foi diferente, o moço mirou na sedução e acertou na bizarrice. Uma foto do pinto e nada mais. Como se a imagem fosse autoexplicativa. Como se o pinto falasse por ele. Imagine a conversa.
Deve ser um fenômeno. Leitoras me contam que na era do "manda nudes" e dos aplicativos de relacionamento, depois de dois dias de bate-papo, marmanjos com ejaculação mental precoce e autoestima adolescente desandam a mandar fotos dos bilaus, sem cerimônia.
Pra que o desatino, rapaziada? Guardem seus bilaus dentros das calças até comer a azeitona do martini. Tem pra todo mundo. O Brasil está desvairado, mas a gente continua namorando pelado. Só não dá para ter pressa, perder a elegância e invadir o computador alheio sem pedir licença.
P.S.: O título foi inspirado na coluna "Gata, não quero ver sua xota ", da querida Tati Bernardi.
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*É jornalista e roteirista. Apresenta o programa "Sem Mimimi com Mariliz", no YouTube.