A Vila sagrada 08/05/2016
- PVC - Folha de S.Paulo
Pelé jogou uma final de Campeonato Paulista na Vila Belmiro para 11 mil pessoas. Aconteceu em 1964, vitória do Santos por 4 x 0 sobre o Juventus. Diz-se que, naquele tempo, só havia jogos com mais de 100 mil espectadores. Não é verdade.
A primeira partida da final deste ano, para 12 mil espectadores em Osasco, não foi a menor de todos os tempos. Em 1958, Pelé ganhou seu primeiro título paulista também diante de 11 mil pagantes, no Brinco de Ouro, contra o Guarani.
É justo dizer que os estaduais perderam importância e que necessitam de uma reforma profunda – até com a saída dos grandes clubes. Injusto é atribuir o baixo público do primeiro domingo de finais à falência dos torneios. Havia pouca gente, porque os estádios eram pequenos.
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Hoje será a 17ª vez que o campeão paulista será conhecido no território sagrado da Vila Belmiro. Só o Morumbi (28 vezes) e o Pacaembu (21) abrigaram mais decisões do estadual.
Pelé foi campeão de quatro edições lá dentro, em 1960, 1961, 1964 e 1965. Sempre com menos de 20 mil espectadores.
O Fluminense foi campeão brasileiro em 2012 diante de 8.000 pessoas no jogo do título. Não significava o fracasso do Brasileirão – o Palmeiras, seu adversário, brigava para não cair.
Em 1991, o Brasileirão foi decidido com Bragantino x São Paulo diante de 12 mil espectadores, quase igual à semana passada, em Osasco.
O terceiro palco que mais sediou decisões do Paulista é território pequeno, mas sagrado.
O Santos tem planos para ter um estádio melhor e tenta viabilizar a construção a 200 metros da grama onde Pelé jogou.
Se sair, a nova Vila será no terreno onde hoje está o campo da Portuguesa Santista e o Portuários.
A ideia é levantar um novo palco para 27 mil torcedores, com três clubes como sócios – Santos e Portuguesa Santista jogariam lá.
O velho e sagrado gramado onde Pelé foi campeão paulista quatro vezes não seria demolido.
Seria um estádio butique, onde seguirá o Memorial das Conquistas. O museu santista é o segundo passeio mais visitado da cidade de Santos, acima do Museu Pelé.
O projeto de construção do novo estádio é melhor do que os previstos nas gestões anteriores. Estudava-se uma área em Diadema ou arrendar o Pacaembu.
Fincar o pé na cidade que leva seu nome será bom para o clube. Jogar para sempre na Vila Belmiro para apenas 18 mil pessoas não é.
Com sede na Baixada e olhos no mundo, o Santos fez final de Mundial no Rio de Janeiro com 132 mil pagantes, mas nem sempre levou multidões fora de sua cidade.
A final da Taça Brasil de 1959 teve 17 mil espectadores no Maracanã, segundo o Almanaque do Santos, de Guilherme Nascimento.
Em 1965, a última final de Pelé contra o Botafogo de Garrincha registrou 24 mil no Maracanã.
Lembro do amigo jornalista Walterson Sardenberg Sobrinho citando seu colega argentino Felix, torcedor do River Plate, desapontado com o tamanho do palco no dia em que conheceu a Vila sagrada: "E pensar que aquí jugó el Rey...", espantou-se.
No futuro, a Vila pode ser muito melhor.
Hoje, o Santos tem o direito de sediar a final em seu estádio sem que o público pequeno seja apontado como símbolo do fracasso dos estaduais.