Indústria, produtores e governo discutem abastecimento de milho 16/06/2016
- Mauro Zafalon - Folha de S.Paulo
Governo, produtores e consumidores de milho e de soja se reuniram ontem quarta-feira, 15, em São Paulo, para discutir a complicada situação atual do abastecimento interno desses produtos. A oferta é restrita e os preços estão elevados.
Além de um olhar sobre os problemas presentes – e que devem causar ônus não só para indústrias como para produtores e consumidores de proteínas –, a cadeia de produção quer traçar linhas de conduta para que isso não ocorra mais no futuro.
Na avaliação de Francisco Turra, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), entidade que reúne as indústrias do setor, faltou comunicação entre indústrias e produtores.
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"Agora vamos abrir canais de entendimento e de aproximação", diz ele.
Da parte do governo pouco pode ser feito no momento, mas uma política governamental para o setor poderá melhorar essa relação entre agroindústrias e produtores no futuro.
Além de colocar os estoques de milho do governo em leilão – restam próximo de 650 mil toneladas –, o governo poderá estudar a possibilidade de retirar o PIS e a Cofins das importações de milho.
Esse, no entanto, é um problema delicado. Se o governo não dosar bem essa medida, poderá abrir a torneira da importação e provocar queda de preço do cereal exatamente no momento em que os produtores vão colher a safrinha.
"E por que a indústria não comprou o milho do produtor quando a saca estava em R$ 18? Esperava chegar a R$ 14?", pergunta Neri Geller, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura.
Para Turra, faltou previsibilidade das agroindústrias. As indústrias estavam um pouco acomodadas, e essa situação emergencial é inusitada, segundo ele.
O presidente da ABPA diz que é preciso uma mudança de cultura, e produtores e consumidores estão sentando à mesa pela primeira vez para "olhar para o futuro".
"E preciso criar uma relação de confiança entre as partes e entender que o único estímulo ao produtor é que ele obtenha renda", diz ele.
Geller concorda que é preciso pensar nas próximas safras e manter a renda do produtor. E aí o governo pode dar uma boa cooperação, segundo ele.
Entre as possíveis medidas estão mecanismos de financiamento para a indústria carregar o estoque. De 65% a 70% da produção de Mato Grosso desta safra já está comprometida com vendas externas.
Para o produtor, o secretário da SPA diz que são possíveis um alongamento do custeio, uma recuperação do seguro agrícola, uma democratização do acesso ao custeio e a eleição de programas prioritários para o setor.
A utilização de instrumentos como LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e contratos na BM&FBovespa também são caminhos para um acerto nessa questão de oferta e demanda, segundo ele.
O caminho da exportação de milho – assim como o da soja – é irreversível, admite Turra. Como as empresas nacionais, as de outros países também preferem o milho brasileiro, devido à qualidade do produto.
A saída, portanto, é elevar a produção com participação das agroindústrias, os principais interessados no milho brasileiro.
A produção brasileira de milho já está próxima de 80 milhões de toneladas por ano. O consumo nacional é de 56 milhões de toneladas, enquanto as exportações já superam 30 milhões de toneladas por ano –nos últimos 12 meses, atingiram 37 milhões.
Enquanto o Brasil não elevar a produção do cereal, a disputa entre mercado interno e externo deverá ser acirrada.