Bíblia politicamente correta gera polêmica entre teólogos alemães 14/11/2007
- Deutsche Welle
Um ano depois de sua publicação, a tradução politicamente correta da Bíblia permanece controversa na Alemanha. Alguns teólogos a consideram uma adulteração, mas mesmo entre os críticos há quem a considere útil.
A Bíblia ¨in gerechter Sprache¨, ou Bíblia numa linguagem mais justa, foi criada para ser uma tradução moderna, que daria mais visibilidade às mulheres, corrigiria formulações anti-semitas e chamaria a atenção para questões sociais. Mas o livro com 2.400 páginas, lançado na Feira do Livro de Frankfurt no ano passado, tem dividido tanto teólogos quanto leigos, alguns dos quais se sentem atacados em suas crenças.
¨A Bíblia não oferece apenas paradigmas, mas fala ao coração da existência humana¨, declarou a pastora Margit Büttner. ¨Quando isso é subitamente posto em questão, quando de repente eu não oro mais ´Pai nosso que estás no céu´, mas digo: Jesus instruiu seus discípulos homens e mulheres a orar ´Pai e Mãe nossos que estão no céu´, isso pode intimidar as pessoas.¨
PUBLICIDADE
A nova tradução, fruto do trabalho de dez teólogos e 42 teólogas, menciona as mulheres sempre que os homens são citados, mesmo correndo o risco de distorcer o pano de fundo histórico da Bíblia e de distanciar-se dos originais hebraico e do grego. Assim, o livro refere-se a rabinos e rabinas, embora as primeiras rabinas tenham sido ordenadas só nos anos 1970.
Além disso, a ¨Bíblia em linguagem politicamente correta¨ muda termos como ¨homens¨ por ¨pessoas¨, ¨obedecer a Deus¨ por ¨escutar a Deus¨. E na carta de Paulo aos Romanos, por exemplo, a tradução substitui a palavra ¨irmão¨ pela expressão alemã ¨geschwister¨, que inclui tanto irmãos quanto irmãs.
Na hora certa, dizem as feministas
Apesar de tecer críticas ao projeto, a teóloga católica Helen Schüngel-Straumann disse que uma nova abordagem já estava bem atrasada. ¨Como teóloga feminista, durante anos lutei para que acontecesse alguma mudança no que se refere à linguagem eqüitativa¨, disse ela, acrescentando que isso era uma de suas prioridades há décadas.
Ainda assim, ela não concorda com a nova tradução por falsificar a verdade histórica. Para a teóloga, essa nova versão distorce as relações sociais existentes numa sociedade patriarcal, as quais são importantes para compreender o contexto bíblico.
A teóloga suíça viu como positivo o afastamento da tradicional percepção de Deus como elemento masculino. Segundo ela, a nova tradução não poderia substituir as versões anteriores, incluindo a de Martinho Lutero, mas foi útil para provocar reflexão.
Apesar de suas reservas, a pastora Büttner também vê vantagens na iniciativa, que, para ela, tem atraído novamente a atenção para a Bíblia. Por outro lado, disse ter ouvido críticas da parte dos católicos. ¨Se realmente tornar-se aceito que havia apóstolas, a Igreja Católica não poderá ficar como está¨, disse a pastora protestante.