De 1 a 7: por que o Brasil x Argentina do Mineirão é imperdível 10/11/2016
- Luiz Felipe Castro - Veja.com
O estádio do Mineirão voltará a receber a elite do futebol mundial dois anos e meio depois do trágico 7 a 1 alemão.
Na noite desta quinta-feira, a partir das 21:45 (de Brasília), Brasil e Argentina farão o maior clássico do futebol sul-americano, repleto de atrativos, em Belo Horizonte.
De um lado, Neymar, o maior ídolo do esporte nacional. Do outro, seu amigo Lionel Messi, quatro vezes eleito o melhor jogador do mundo.
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Os treinadores, recém-contratados e em situações opostas também abrilhantam o espetáculo, assim como outros “coadjuvantes de luxo”.
A partida desta noite pode ser decisiva no caminho de ambas as equipes nas eliminatórias sul-americanas para a Copa de 2018, na Rússia.
E, apesar de ambas as seleções adotarem um discurso de paz na véspera, certamente o clima vai esquentar quando a bola rolar no Mineirão – como em todo Brasil x Argentina que se preze.
Abaixo, as principais atrações da partida.
1 – FANTASMA DO MINEIRÃO
Os atletas até tentam driblar assunto, mas nada apaga o trauma vivido em 8 de julho de 2014. No mesmo estádio do Mineirão, o Brasil foi massacrado pela Alemanha na semifinal da Copa do Mundo.
Dentre os titulares do clássico desta noite, Daniel Alves, Marcelo, Paulinho e Fernandinho estiveram em campo no 7 a 1.
Desde então, a seleção não voltou mais ao estádio, mas técnico e atletas se dizem prontos para exorcizar fantasmas.
“Faz parte, toda hora o 7 a 1 é assunto. Ele faz parte da história, mas a maior pressão que eu e os atletas sentimos é representar o futebol pentacampeão”, desconversou Tite, na véspera do duelo.
A Argentina, por sua vez, tem memórias mais doces de Minas Gerais. Durante a campanha da Copa de 2014, a equipe ficou concentrada na Cidade do Galo, o CT do Atlético-MG, e venceu a partida contra o Irã, pela primeira fase, com um golaço de Messi nos acréscimos, no Mineirão.
A carga total de ingressos colocada à venda para o jogo desta noite é de 62.000 lugares e ainda há mais de 5.000 entradas disponíveis – preços variam de 200 a 650 reais (inteira).
2 – NEYMAR X MESSI
Ao contrário de confrontos do passado – como esquecer a água batizada para Branco ou o desabafo dos brasileiros após o gol de Adriano em 2004? – o clima desta partida é, antes de a bola rolar, de extrema paz.
Maior prova disso foi o fato de as principais estrelas de cada equipe terem chegado juntas a BH.
Amigos inseparáveis no Barcelona, Messi e Neymar voaram lado a lado no jatinho do brasileiro, junto com Javier Mascherano.
Esta não é a primeira vez que os ídolos mundiais se enfrentam: em quatro partidas, o argentino leva vantagem de 3 a 1.
O primeiro confronto foi um amistoso em Doha, em 2010, vencido pela Argentina por 1 a 0 com gol de Messi.
O segundo foi o mais recordado: em Yokohama, no Japão, o Barcelona atropelou o Santos por 4 a 0, com dois de Messi.
O argentino brilhou ainda mais no terceiro encontro, um amistoso vencido pela Argentina por 4 a 3, com três belos gols do camisa 10, nos Estados Unidos.
Neymar só descontou em outubro de 2014, ainda assim sem brilhar. O Brasil venceu um amistoso em Pequim, na China, por 2 a 0, com dois de Diego Tardelli. Na ocasião, Messi perdeu um pênalti, defendido pelo goleiro Jefferson.
Sem Neymar do lado oposto, Messi também já sofreu derrotas dolorosas contra o Brasil: 3 a 0 na final da Copa América de 2007 e 3 a 1, em Rosário, sua cidade natal, em 2009, pelas eliminatórias.
O argentino ainda empatou um clássico, justamente no Mineirão, em 2008 – na ocasião, teve seu nome gritado pela torcida brasileira (em meio a protestos contra Dunga) no chocho empate em 0 a 0.
O interesse no novo duelo é tamanho que, muitos jornalistas europeus viajaram a Belo Horizonte para seguir os craques.
O jogo será transmitido em TV aberta na Espanha, algo raríssimo em um jogo das eliminatórias sul-americanas, às 0:45 (horário de Madri).
3 – TITE X BAUZA
Outro duelo bastante aguardado acontecerá nas áreas técnicas. Tite e Edgardo Bauza se conhecem bem e voltarão a se encontrar nos momentos mais prestigiosos de suas carreiras.
Ambos são campeões da Libertadores (Tite pelo Corinthians e Bauza por LDU e San Lorenzo).
O brasileiro leva vantagem no confronto direto: pelo clube paulista, venceu uma e empatou outra contra o San Lorenzo de Bauza e ainda voltou a vencer o argentino uma vez no clássoco contra o São Paulo.
“Campeão a gente respeita. Bauza tem o meu respeito e não digo isso pra fazer média, falei direto pra ele. Ele se credenciou para estar na seleção argentina. Mas não gosto de individualizar enfrentamentos. São duas extraordinárias equipes. Nós somos componentes, mas não a essência do jogo”, disse o gaúcho.
“Conheço Tite além dos nossos confrontos. Suas equipes sempre foram muito organizadas, sobretudo na defesa. Sempre dá a seus meio-campistas a possibilidade de aparecer, mas sempre se defendendo bem. Tivemos confrontos muito equilibrados e acredito que vai ser igual”, respondeu Bauza.
Os dois, porém, vivem realidades opostas: com 100% de aproveitamento em quatro jogos, Tite está nos braços do povo.
Já Bauza, com apenas uma vitória e fora da zona de classificação da Copa, precisa da vitória para ganhar fôlego no cargo.
4 – COADJUVANTES DE LUXO
No duelo envolvendo sete títulos mundiais, Neymar, Messi, Tite e Bauza estão longe de ser os únicos candidatos a destaque.
Do lado dos hermanos, estarão no Mineirão atletas consagrados como Ángel Di María (PSG), Gonzalo Higuaín (Juventus) e Sergio Aguero (Manchester City).
Do lado brasileiro, Philippe Coutinho (Liverpool) e Gabriel Jesus (Palmeiras) tem sido os sócios ideais para Neymar.
Clássicos como este também costumam revelar heróis improváveis como Vampeta, autor de dois gols em um clássico no Morumbi, em 2000. Candidatos não faltam.
“A engrenagem tem que estar funcionando, se não o craque não vai conseguir decidir sozinho. O coletivo tem que estar forte. E além de Messi e Neymar, ainda tem Di María, Higuaín, Coutinho, Douglas Costa, Gabriel Jesus, uma série de grandes jogadores que podem decidir”, disse Tite.
5 – CAMINHO RUMO A 2018
A tabela das eliminatórias também coloca mais pimenta no clássico desta noite. Depois de quatro vitórias seguidas, o Brasil pulou da sexta para a liderança, com 21 pontos.
Já a Argentina ocupa justamente a sexta vaga, com 16 pontos, que a deixaria atualmente fora da Copa de 2018 – as cinco primeiras equipes se classificam para o Mundial da Rússia.
Tite, no entanto, negou que a possibilidade de “afundar o maior rival” lhe dê motivação especial. “Isso seria pensar pequeno. Queremos ganhar porque é bom, é esporte, temos de ter ambição”.
6 – BOLA DE OURO
As votações para os prêmios de melhor do mundo da Fifa e da Bola de Ouro, que voltará a ser entregue exclusivamente pela revista France Football, se encerram em novembro.
Por isso, o clássico do Mineirão é, provavelmente, a última grande chance de Neymar e Messi provarem que merecem desbancar o favorito Cristiano Ronaldo – campeão europeu pelo Real Madrid e pela seleção portuguesa em 2016.
Messi já venceu o prêmio de melhor do planeta cinco vezes, contra três de Cristiano.
Terceiro colocado em 2015, Neymar terá concorrentes fortes ao top 3 neste ano, como Luis Suáarez, Gareth Bale e Antoine Griezmann.
Um show no Mineirão ainda poderia lhe valer preciosos votos.
7 – RIVALIDADE E EQUILÍBRIO
Brasil e Argentina são, sem dúvidas, os dois países que mais produziram craques na história do futebol (Pelé, Messi, Maradona, Garrincha, Di Stéfano, Ronaldo, só para citar alguns) e a qualidade das seleções se reflete no equilíbrio do confronto.
A rivalidade é tanta que impede até uma unificação das estatísticas: a CBF e a federação argentina puxam a brasa para suas sardinhas e contabilizam números distintos.
Segundo a CBF (que desconsidera as partidas em Olimpíadas e dois amistosos de antes da criação da seleção brasileira), foram 101 jogos, com 39 vitórias brasileiras e 36 argentinas.
Segundo a AFA (que desconsidera uma partida da Copa Rocca e alguns amistosos) foram 99 partidas, com 37 vitórias do Brasil e 36 da Argentina.
Segundo a Fifa, houve 102 jogos, com 39 vitórias brasileiras e 37 argentinas.
As três entidades concordam no número de empates: 26.