Após tragédia, Chape faz balanço financeiro: Estamos muito seguros 09/12/2016
- Richard Souza - GloboEsporte.com
A organização da Chapecoense é o que faz com que os novos comandantes do clube não se desesperem no pior momento da história do Verdão do Oeste.
Herança de Sandro Pallaoro, presidente que estava no voo que caiu antes de chegar a Medellín. Ele deixou um clube sem dívidas. Resultado de uma administração que ele tinha muito orgulho de explicar.
- A diretoria executiva e a diretoria do Conselho (Deliberativo) trabalham juntas. Em vários clubes, o Conselho só fiscaliza a diretoria executiva. E a Chapecoense nos últimos anos trabalha assim - disse o mandatário, em entrevista produzida pelo departamento da TV Globo que gera conteúdo para todos os países que assistem ao Brasileirão.
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Em 2008, quando ele assumiu a direção de futebol, a Chape tinha apenas 300 associados. Hoje, são 15 mil.
- O clube que não tem sócio não é clube - dizia o mandatário.
No início da gestão de Pallaoro, o time não estava em nenhuma série do Campeonato Brasileiro. Mas veio a transformação. Na Série C, em 2010, o clube movimentou R$ 9 milhões. Em 2014, já na elite do Brasileirão, o orçamento saltou para R$ 35 milhões e o número de associados chegou a 11 mil.
A Chape sempre manteve os pés no chão. O orçamento para 2016 era de R$ 48 milhões - valor que subiu para quase R$ 60 milhões com as premiações. E os salários tinham um piso e um teto. Ninguém recebia menos de R$ 30 mil e nem mais de R$100 mil por mês. Uma política que rendia muitas premiações por metas alcançadas.
- Tudo é feito com base nesse orçamento inicial, até porque nossa responsabilidade é muito grande. Não podemos colocar em risco a saúde financeira do clube. Não ultrapassamos a base trabalhada - disse Roberto Aurélio Merlo, novo diretor financeiro do clube.
Roberto assumiu a pasta a convite do presidente em exercício Ivan Tozzo logo depois da tragédia. Ele era amigo e sócio de Decio Burtet Filho, o antigo diretor do departamento, que faleceu no acidente.
Desde a última segunda-feira, Roberto Aurélio Merlo tem estudado a situação financeira. E a análise apresenta resultados tranquilizadores.
Medida comum entre muitos clubes brasileiros, a antecipação do pagamento de direitos de transmissão, por exemplo, não deve ser necessária e será evitada.
- Nunca foi necessário antecipar. Hoje, não estamos trabalhando com cenário de descontinuidade. É um cenário de firmeza na área financeira. Não vai haver um problema mais sério na questão financeira. É lógico que esse nesse baque inicial nós temos que cumprir com tudo que está nos contratos, em todas as questões que estavam juridicamente já constituídas. Não vamos fugir disso. O jurídico está trabalhando muito, a Chapecoense vai tomar a iniciativa de criar uma associação das vítimas. Está se colocando junto com as famílias para resolver essa questão, até porque vamos ter demandas judiciais com certeza.
O diretor explica que existiam reservas e, enquanto o reforço financeiro não chega, o clube cumpre com suas obrigações.
- No financeiro, estamos muito seguros. Temos reservas de contingências. É lógico que essa foi muito grande, mas eu posso te garantir que estamos tranquilos até esse momento, a não ser que surja algum elemento, algum fato novo que nós desconhecemos. Já foram feitos os acertos, tudo cumprido rigorosamente, já foram pagos. Temos algumas questões em discussão com a diretoria e o Conselho, mas não vejo problema.
AJUDA DA CBF E PREMIAÇÃO
A Chape ainda não recebeu os R$ 5 milhões prometidos pela CBF, mas acredita que em breve o dinheiro estará na conta. Todo esse valor está comprometido.
- O único dinheiro que recebemos foi da fase anterior da Sul-Americana, num total de R$ 1,6 milhão. Da CBF, não recebemos ainda, mas não vai haver problema. Esse valor exclusivamente já estamos direcionando para as indenizações e gastos que nós tivemos com as famílias. Tudo isso aí a gente imagina que até o momento, pelo que temos de levantamentos de gastos, vai ser suficiente. Nossa ideia é criar um fundo para que seja pelo menos uma segurança que nós vamos ter para futuras contingências ou indenizações que possam vir. Nós estamos com as contas em dia, temos reservas para os meses seguintes de acordo com o nosso planejamento financeiro - informou o diretor administrativo.
Declarado campeão da Copa Sul-Americana, o clube também espera que em breve a Conmebol pague o valor de R$ 6,8 milhões pelo título. Para 2017, também estão previstas outras receitas: R$ 3,4 milhões pela disputa da Recopa e R$ 6,2 milhões pelos seis jogos da fase de grupos da Libertadores da América. A Chape vai receber pelo menos R$ 16,4 milhões.
NOVO TIME, MESMO PERFIL
Já está definido que a Chapecoense vai manter o orçamento do futebol para o próximo ano.
- Para 2017, comecei a construir alguma coisa de orçamento, mas não tem uma definição por conta dos acontecimentos. Se nada tivesse acontecido, estaríamos com o orçamento pronto. Estamos trabalhando nas bases ainda. Mas já fizemos uma reunião na terça-feira e definimos que vamos utilizar as mesmas bases. Talvez até mude, mas não temos como mudar isso agora. As bases que temos para o orçamento são as desse ano. A Chapecoense vai entrar num outro patamar, vamos jogar a Libertadores, então talvez isso mude, mas a decisão no momento é essa. É prudente e necessário manter a base desse ano agora, mas o orçamento ainda está sendo construído.
PROMESSA DE PALLAORO DEVE SER CUMPRIDA
Nesse ano, o melhor da história do clube, o Natal seria cheio de presentes. O presidente já tinha contado para os jogadores que, além do 13º salário e das férias, eles também receberiam o 14º salário. Seria a primeira vez que a Chapecoense daria esse tipo de premiação. Segundo Roberto Aurélio Merlo, a intenção é manter o planejamento.
- Nós estamos fazendo esses levantamentos, não tenho a definição final da diretoria. Temos jogadores que não estavam no voo, que faziam parte do grupo, como Rafael Lima e Neném, e isso (pagamento) deve ser feito. Não tenho a palavra final, mas vou dizer o que sempre aconteceu aqui: prometeu, cumpriu. Seria pago para as famílias também - frisou o dirigente.
PATROCÍNIOS E DOAÇÕES
A Caixa renovou o principal patrocínio do clube, que não teve o valor divulgado, mas será bem maior do que os R$ 4 milhões anuais do último contrato. O vínculo com a Aurora também está mantido para 2017. Uma das propostas de Merlo é a montagem de um time de marketing para que o crescimento do clube se transforme em receita.
Depois do acidente, a Chape abriu uma conta para receber doações, já que eram muitas as intenções de ajuda. No entanto, até agora, apenas R$ 10 mil foram depositados.