Inflação fica em 0,18%, menor taxa para novembro desde 1998 09/12/2016
- MARCELLO CORRÊA - O GLOBO
A inflação oficial do país, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), desacelerou pelo segundo mês seguido, ficando em 0,08% em setembro, informou nesta sexta-feira o IBGE.
A taxa é a menor para o mês desde 1998, quando registrou deflação de 0,22%. Considerando todos os meses, o IPCA de setembro é o menor desde julho de 2014, quando o índice ficou em 0,01%.
Analistas esperavam 0,19% – bem abaixo do 0,44% de agosto e do 0,54% de setembro de 2015.
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Nos doze meses encerrados em setembro, a inflação ficou em 8,48%. Nos nove primeiros meses de 2016, a alta acumulada é de 5,51%.
A principal causa do alívio de preços em setembro foi a deflação de 0,29% dos alimentos, a maior queda entre os grupos acompanhados pelo IBGE.
O maior impacto veio do leite, que vinha sendo um dos vilões da inflação desde o início do ano.
Os preços do produto caíram 7,89%, contribuindo com -0,10 ponto percentual sobre o resultado do mês, o mais expressivo impacto para baixo no índice.
Para se ter uma ideia, o leite longa vida havia registrado nove altas seguidas até agosto. Esta foi a primeira deflação do produto desde novembro de 2015 (-0,76%).
Em setembro, contribuíram ainda para a inflação mais baixa uma deflação ainda maior da batata-inglesa, cujos preços já haviam recuado 8% em agosto e, em setembro, caíram 19,24%. O alho intensificou a deflação de 5,1% para 7,45%.
Em contrapartida, o destaque entre as altas de preços de alimentos foi para as carnes, que tiveram aumento de 1,43%. O grupo de produtos tem impacto de 2,7% no orçamento das famílias.
A alta das carnes respondeu, sozinha, por 0,04 ponto percentual do índice de setembro — ou seja, metade do resultado.
Além dos alimentos, as quedas de preços registradas nos itens artigos de residência (0,23%) e transportes (0,1%) ajudaram na forte desaceleração do IPCA do mês passado.
As passagens aéreas, que haviam subido em agosto por causa da Olimpíada, registraram deflação de 2,39%.
Entre as principais altas de itens fora do grupo alimentação, os destaques foram a inflação do grupo habitação (0,63%), pressionado pela elevação do preço do botijão de gás, de 3,92%.
O produto respondeu por 0,04 ponto percentual do resultado do mês. Portanto, se não fossem as altas registradas nos preços das carnes e de botijão de gás, o IPCA de setembro seria exatamente zero.
DÓLAR AJUDA A BAIXAR PREÇOS
Eulina Nunes, coordenadora de Índice de Preços do IBGE, explicou que a queda é resultado do menor efeito do dólar e do choque de alimentos observado em meses anteriores.
— O que a gente vê em setembro, é um efeito amenizado tanto do choque de oferta quanto do câmbio, que trouxeram os preços para baixo, em especial os alimentos com uma queda de 0,29% — avalia.
Ela acrescentou ainda que o resultado baixo não se reflete imediatamente em alívio para o bolso do consumidor.
— O resultado, em média foi de zero, se manteve estável. Agora, depende muito da cesta das pessoas, do que você consome mais. Além disso, os preços continuam altos. A inflação não devolveu o que pegou do bolso do consumidor. Parou de subir.
DE INFLAÇÃO OLÍMPICA A MENOR TAXA DO PAÍS
Depois de responder por quase um terço da inflação de agosto, o Rio foi de vilão a mocinho do IPCA. A região metropolitana registrou o menor índice, entre as 13 localidades acompanhadas pelo IBGE: deflação de 0,17%.
Em agosto, puxado pela alta de 111,23% nas diárias de hotéis, o IPCA carioca havia ficado em 1%. Em setembro, as diárias recuaram 29,91%, contribuindo para o resultado negativo.
O Rio não foi o único local com preços em queda em setembro. Vitória (-0,16%) e Belo Horizonte (-0,06%) também tiveram índices negativos no mês passado.
As maiores altas de preços foram registradas em Campo Grande (0,48%), onde sete dos nove grupos pesquisados subiram mais que a média nacional. Na leitura anterior, a capital sul-mato-grossense havia tido IPCA de 0,18%.
A inflação de serviços desacelerou mais uma vez de 0,59% para 0,33%. A principal influência foi a redução dos preços nas diárias de hotel, mas o grupo também sofre impacto da queda na demanda, um efeito da recessão pela qual o país passa.
O indicador, no entanto, ainda rodou acima da média do IPCA. Uma das altas importantes foi a alimentação fora de casa, que passou de 0,18%, em agosto, para 0,33%.
— Alimentação fora do domicílio ainda cresce, mas já apresentou resultados muito maiores. Nos alimentos fora, o impacto não é imediato. O leite ou o feijão que entra em um negócio de alimentação fora ainda foi comprado por preços anteriores.
CORTE NA TAXA DE JUROS
Para o economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, a dissipação do choque de alimentos e a gradual descompressão da inflação de serviços podem ajudar a melhorar os riscos sobre o índice de preços e "dar conforto o suficiente para o banco central começar a cortar gradualmente" os juros.
O banco espera um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, — que está em 14,25% ao ano desde julho de 2015 — no encontro deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom), seguido por outra redução, de 0,50 ponto percentual, em novembro.
Na mais recente edição do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, economistas do mercado financeiro reduziram pela terceira semana consecutiva a previsão para a inflação deste ano.
A mediana das projeções é que o índice encerre 2016 em 7,23%, ainda acima da meta do governo, que é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Em 2015, a inflação ficou em 10,67%.
O BC prevê que o IPCA fique abaixo desse limite no ano que vem, segundo o relatório de inflação divulgado na semana passada — o primeiro após a troca de comando na autarquia, hoje presidida por Ilan Goldfajn.
A expectativa da autoridade monetária é que o índice oficial encerre 2017 em 4,4%, mas os analistas ouvidos pelo Focus ainda não estão tão otimistas e veem a taxa em 5,07%.
Alcançar a meta é considerada uma das condições para que o BC inicie o ciclo de corte de juros.
A instituição já avisou, no entanto, que o alívio monetário depende de outros fatores, como a aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) que fixa um teto para os gastos públicos.
Na noite de ontem, o texto-base do relatório da medida — principal arma do governo de Michel Temer para atacar a crise fiscal — foi aprovado na comissão especial criada na Câmara dos Deputados para analisar a proposta.
Em setembro, a inflação desacelerou para 0,08%, após registrar 0,44% em agosto.
A principal causa do alívio de preços foi a deflação de 0,29% de alimentos, como a batata-inglesa, que recuou 19,24%. De janeiro a setembro deste ano, o produto teve queda de 8,43%, mas, em 12 meses, acumula alta de 7,85%.