Petroquímica brasileira ganha força para competição global 02/12/2007
- Ygor Salles - Folha Online
As negociações que resultaram na sexta-feira no aumento do tamanho da Braskem e na criação da Sociedade Petroquímica -- conhecida no mercado como CPS (Companhia Petroquímica do Sudeste) -- traz ao setor petroquímico um movimento que já atingiu outros ramos da indústria e do comércio: a consolidação.
Até poucos meses, o setor petroquímico era um emaranhado de empresas, e via de regra uma tinha participação na outra. Mas, em nome do ganho de musculatura para competir globalmente, as empresas primeiramente foram às compras, para depois se organizarem de forma mais racional.
¨O setor ganha força [com as duas negociações]. Era esperado que fizessem isso, e é positivo principalmente na hora de negociar contratos¨, disse André Segadilha, gerente de análise da Prosper Corretora.
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O grande ator deste processo no Brasil foi a Petrobras -- tanto diretamente como através de seu braço químico, a Petroquisa. Depois de comprar nos últimos meses participações na Suzano Petroquímica e a Ipiranga Petroquímica, distribuiu nesta sexta-feira seus ativos entre a Braskem e a Unipar, fazendo as duas empresas se tornarem mais fortes.
O que a Petrobras ganha com este movimento? ¨Ao se tornar sócia de duas empresas grandes e com capacidade de investimento, a Petrobras ganha tanto como acionista como fornecedora¨, diz o presidente da Petroquisa, José Lima de Andrade Neto. ¨Para nós é importante que o setor petroquímico brasileiro cresça, já que somos os principais fornecedores.¨
E, para crescer, era necessário ganhar escala, gerar sinergias e obter poder de investimento. Para isso, foi preciso realizar a consolidação.
¨Se não fizesse isso [o setor] poderia sofrer com a alta do preço dos insumos, já que o petróleo está quase a US$ 100. E não dá para saber se conseguiriam repassar a alta para a indústria de plásticos¨, disse Segadilha.
O tamanho dos dois grupos será considerável. A Braskem será a maior petroquímica da América Latina e a terceira maior das Américas, com receita líquida neste ano na casa dos US$ 9 bilhões. Já as petroquímicas que se juntarão na CPS devem ter vendas líquidas de cerca de US$ 4 bilhões no mesmo período.
A Braskem vai se tornar dona de 100% do capital das empresas Copesul, Ipiranga Química, Ipiranga Petroquímica, Petroquímica Paulínia e Petroquímica Triunfo -- esta última após a Petrobras resolver uma pendência jurídica com a sócia minoritária Petroplastic. Já a CPS englobará a Suzano Petroquímica, Petroquímica União, Polietilenos União, Unipar Divisão Química e RioPol.
Concorrência
A Braskem e a CPS, além de se tornarem empresas mais fortes, ainda não terão praticamente nenhuma concorrência ¨regional¨. Explica-se: tirando algumas exceções, os ativos da Braskem estão concentrados no Sul e no Nordeste, e as do CPS no Sudeste.
Mas José Carlos Grubisich, presidente da Braskem, não se preocupa com a ¨rival¨ brasileira. ¨O projeto da Braskem não é de competir com a companhia petroquímica do Sudeste aqui. Os nossos competidores eram e continuam sendo Exxon, Dow...¨, disse, citando as duas empresas que estão à frente da Braskem no ranking continental.
Desdém esse que não foi comprovado pela própria apresentação de Grubisich aos jornalistas. Ao comentar a posição da Braskem nas Américas (terceiro lugar), ele fez questão de frisar que a CPS ocuparia a 13ª colocação no ranking.
O principal problema que este movimento pode trazer é o risco de se tornarem ¨grandes demais¨ à vista do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que poderia barrar as operações -- em especial a da Braskem -- para evitar uma concentração no mercado. Mas os players não temem este risco.
¨Mesmo com a maioria do mercado [nas mãos da empresa], não afetaremos significativamente a concorrência¨, disse José Carlos Grubisich, presidente da Braskem. A teoria da companhia é de que, com um mercado globalizado, não é possível fazer um monopólio nacional que imponha preços aos clientes.
Para Segadilha, da Prosper, Grubisich tem razão. ¨Este argumento é válido, tem fundamento¨, disse. ¨Mas o risco [de o Cade barrar] sempre existe.¨
Próximos passos
Dado o passo de consolidação -- que, pelos cronogramas apresentados por Braskem e Unipar, deverá ser completamente concluída entre seis e nove meses --, novos investimentos deverão ser anunciados.
Um dos alvos de novos acordos é o nascente Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro). Ela não foi colocada para dentro da Braskem, o que deve ser colocado na mesa de negociações em breve. ¨Vamos descansar no final de semana e na segunda-feira conservamos sobre isso¨, disse Grubisich sobre o assunto, brincando com uma afirmação anterior de Andrade Neto de que ¨queria descansar após a negociação com a Braskem.¨
O Comperj é considerado vital para a expansão da petroquímica brasileira, já que foi concebido para reforçar a produção de matéria-prima para o setor.
Outro alvo é o pólo gás-químico que deve ser construído em Mato Grosso do Sul, na divisa com a Bolívia. Mas este negócio está em banho-maria, dada a concentração de esforços no processo de consolidação dos ativos e também dos problemas envolvendo o gás boliviano.
Petroflex
Um dado curioso dos dois negócios é que, mesmo após a movimentação de ativos, ainda há empresas que ficarão fragmentadas entre elas.
O caso mais claro é a da fabricante de borrachas sintéticas Petroflex. A empresa possui participações tanto da Braskem como da Unipar --que preferiu não incluir este ativo no ¨pacote¨ que formará a CPS.
Mas Grubisich já planeja acabar com isso. ¨Procuramos investidores para o desinvestimento¨, disse, justificando esta posição com o fato da Petroflex não trabalhar dentro do ¨core business¨ da empresa.
¨Mas não temos pressa, nosso objetivo com o desinvestimento é trazer o maior valor possível para a companhia e seus acionistas¨, disse. Ou seja, a Braskem quer vender, mas só o fará quando tiver uma proposta mais interessante.