Biocombustível irá comprometer oferta de alimentos 05/12/2007
- Agência EFE
Especialistas fizeram um apelo para que o mundo desacele o desenvolvimento de biocombustíveis e aumente os investimentos em agricultura para evitar graves problemas de alimentação que ameaçam os mais pobres.
¨O sistema mundial alimentar tem problemas. As questões em jogo são ainda mais graves porque ameaçam os mais pobres¨, declarou o diretor-geral do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI), Joachim von Braun, ao apresentar em Pequim um relatório elaborado por sua organização.
¨Os preços dos alimentos aumentaram nos últimos meses como nunca em 30 anos, atingindo em cheio os mais desfavorecidos¨, destacou.
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Segundo o relatório do IFPRI, a disparada do consumo mundial, as mudanças climáticas, os preços elevados da energia, a globalização e a urbanização ¨podem transformar o modo de produção dos alimentos, seus mercados e seu consumo¨.
O desenvolvimento dos biocombustíveis é um fator importante da alta desenfreada dos preços dos cereais, e afeta os países importadores natos como a China e quase todos os países da África.
Segundo as projeções do instituto com base nos planos atuais de desenvolvimento de bioenergia, o preço do milho poderia aumentar 26% até 2020, e o das oleaginosas, 18%.
No entanto, segundo projeções duas vezes mais ambiciosos, os preços do milho subiriam 72% e os das oleaginosas, 44%.
¨Em 1973-1974, o mundo sofreu aumento forte de preços como estes por causa sobretudo de problemas de gestão agrícola na Rússia e na Europa do Leste, explicou Joaquim von Braun à imprensa.
¨O mercado recuperou seu equilíbrio em dois anos, mas isso prejudicou a nutrição das populações pobres, principalmente das crianças, durante vários anos¨, afirmou.
Segundo o instituto, sem medidas eficazes, a crise deve perdurar: ¨o mundo está comendo mais do que está produzindo. Estamos reduzindo nossos estoques. Em breve, haverá um esgotamento¨.
As mudanças climáticas acentuarão ainda mais o problema, reduzindo ¨significativamente¨ a produção, sobretudo nos países em desenvolvimento como a África, onde ¨a agricultura é feita sem irrigação¨, segundo o relatório.
O IFPRI considera indispensável manter as fronteiras abertas: ¨Num mundo com escassez cada vez maior de alimentos, as trocas devem se intensificar e não diminuir¨.
¨Devemos compartilhar a escassez¨, concluiu Braun.
O relatório foi publicado ontem por ocasião da Assembléia Anual do grupo de consultas para a pesquisa agrícola internacional (GCRAI), uma aliança de 64 governos, fundações privadas e organizações internacionais e regionais, que apóiam 15 centros, entre eles o IFPRI, e quer promover o desenvolvimento científico em agricultura para reduzir a pobreza.